O Vaqueiro Benedito

Nas banda norte minêra

Se ôve um causo isquisito

De um vaquêro misterioso

Por nome de Binidito

Que arreune a gado só cum o pensamento

Faz uma oração das braba

Cum o patuá que carrega

A criação aparece

No redemuin que o vento oferece.

O fazendêro num intende

Pra ele era um mistéro

Cumo é que pode um vaquêro

Sem saí da fazenda

Amansá e arreuni

O gado cum maistria

Só pode sê feitiço

Ô coisa dôto mundo

E ele confuso

Num cridita nisso.

Binidito é um sujeitio arto

Um bigode ralo, negro

Traz na testa a marca do tempo

Umas ruga isparramada

E na testa uma cicatriz

E quando argúem mais atrivido

Sem sabê o sintido

Ôsa a lhe preguntá

Ele diz baxin:

- Foi um tôro infiliz.

Num aparta dum 30

Nem duma faca amolada

Cum ela apara a barba

E corta a cabaça

Faz o seu paiêro

Corta o tiragostio

Dispois aquela cachaça

E ai se argúem imbaça

O home virava uma fera

Mostrano logo sua raça.

Nos apusento do Binidito

Aquela grande devução

A vela alumiano a Sinhora da cunceição

E à Sinhora Aparicida

Protetora dos peão.

Na parede a image de Jorge

E uma vela acesa a São Bastião

Oxossi e Ogum na guarda

Do cabôco do sertão.

Sai na boca da nôte

Ingulino a iscuridão

Diz que faiz bem

Pra álima e pu coração

Adentra no sertão

Feitio um Tamanduá

Mais parece um zumbi

Num leva nem lampião

E só na arta madrugada

Quêle chega no alazão.

O Bastião

Que é ôto vaquêro

Assuntano aquilo

Cumeçô a discunfiá.

O Binidito

Chega sempre alegre

Assubiano e cabrêro já na hora do café

O fugão já aceso

As galinha no terrêro

E as pionada já de pé.

Numa nôte de lua cheia

O Bastião arresorveu segui

Aquele misterioso

Pa mode discubri

As pruêza daquele home

Que dêxa a pionada bestunta

E que a criação ajunta

Só cum o pensamento

Ô é coisa do além

Ô coisa de sacramento.

Passô pelo buquêrão

Chegô na bêra do rio

No pé da serra da Onça

Às Marge um cimitéro

E uma simpres serputura

A cruis de Jacarandá

Já lapidada pelo vento

No letrêro Mané Patuá

Seu pai grande madinguêro

Que fazia inté o vento Pará.

Cum aquele telço sagrado

Os juêi isparramô pelo chão

Dos láibio vêi as oração

E o silenço ali broitô

A terra tremeu e a álima

Daquele home manifestô

Um redemuin astuto

Varreu o chão e procramô

Que aquele home de fé

Era o maió benzedô.

Ali ele ganhava os podêre

Im nome do sagrado Jesuis

Que memo pregado na cruis

Teve uma grande isperança

E pelos camin da vida

Quem tem fé tem bonança

Nas linha das andança

Tem as parage e os comentáro

Cum um o patuá pregano o bem

Feiz seu grande santuáro.

O Bastião saiu de mansin

Purentre uma fôia e ôta

Ispantado mais incantado

Cum toda aquela magia

Chegô na fazenda e contô

Toda aquela maravia

Binidito chegô e tomem iscrariceu

Seu coração era bondoso!

Curava cum a álima

Como Jesus à Bartimeu.

Aquele home abençuado

De pensamento afrorado

Só via o bem na álima

A criação obidicia a ele

Seu chêro inzalava pelo sertão

Os seus poro broitava a querença

E no peitio Deus como alimento

Purisso quêsse home de fé

Cura e arreune até

O gado cum o pensamento!

E nas redondeza da fazenda

Nas nôte de lua crara

Se ôve um berrante afinado

Qui inté um candiêro aliado

Lapida as maravia do distino

E alumia o sertão incantado.

Distino de vaquêro,vida mistéro aboiá

E toda a pionada riverencia

Ao Binidito e seu patuá!

Mestre Tinga das Gerais
Enviado por Mestre Tinga das Gerais em 28/03/2019
Código do texto: T6609564
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