Os polacos

Os Polacos

Geraldo nunca se preocupou em estudar. Mas aprendeu o suficiente para ler e conhecer as noções básicas das quatro operações aritméticas. Somar, diminuir, multiplicar e dividir, dizia ele, isto já era o bastante para a vida. Com uma pequena herança que o pai deixou, montou um armazém na cidade. Com desenvoltura ganhava a vida tocando esse pequeno negócio, contentando-se apenas com o pouco que conseguia vender diariamente.

Certo dia apareceu no seu estabelecimento um caixeiro-viajante. Trazia uma oferta irrecusável de polacos. Geraldo gostava das promoções. Elas lhe davam bons lucros.

- “Seu” Geraldo! Tenho aqui para o senhor uma promoção irrecusável de po-laco. É do melhor que existe.

Para quem não sabe, polaco é um pequeno sino que se pendura no pescoço dos animais (vacas, cavalos e jumentos) para localizá-los à distância. Ele logo se in-teressou. Tratava-se de uma mercadoria muito procurada. O vendedor explicou que o preço da grosa custava cinco reais e ainda tinha uma bonificação (produto de graça) de dez por cento sobre o pedido. Geraldo não sabia o que era grosa, mas não pergun-tou por que não queria passar por ignorante. Sem pensar duas vezes, encomendou 50 grosas. O vendedor preencheu o pedido, despediu-se e foi embora .

Depois de alguns meses, um caminhão parou em sua porta. Eram os polacos que acabavam de chegar. O entregador após conferir todos os dados do comprador começou a descarregar o caminhão. Demorou meia hora. Como uma grosa corres-ponde a doze dúzias e sendo o pedido dele de 50 grosas, totalizavam 7200 polacos, e com as bonificações, o total chegava a 7920 polacos.

Diante de tantos polacos, ele ficou apavorado. Mas, para não dá o braço a tor-cer, calou-se. Enquanto isso pensava no que fazer para vendê-los, não se conformando com. a grande besteira que fizera. Tudo por causa da sua ignorância e do orgulho besta.

- Pronto “Seu” Geraldo, está aí a sua mercadoria. Agora o senhor assina o re-cibo e me paga.

- Hummm, resmungou.

Depois falou:

- Está faltando um polaco.

- Não é possível.

- Está faltando um, ele insistiu.

- Como está faltando um? Conferi toda a mercadoria, disse o entregador as-sustado e já se irritando com a conversa.

- Falta um. Repetiu.

- Não falta nenhum, não. Só falta me pagar, disse indignado o entregador sem entender tanta insistência.

- Estão aí, todas as 50 grosas que o senhor pediu e as bonificações que a fir-ma lhe deu.

- Falta o meu.

- Como, falta o seu? Indagou já zangado o entregador.

- Falta o meu, eu sou um jumento!

E calou-se, com uma cara de arrependido.