Caçada no Chiriguello
Era o mês de janeiro de 1998, dentro do Paraguai, no Departamento de Amambaí, mais precisamente em uma região chamada de Chiriguello, estava Sérgio – o metido a caçador -; seu sogro e chefe da equipe, José Luiz; Cícero, valente no trabalho e em possíveis brigas e o Cecílio, mais conhecido como Juruna, por seu aspecto indígena e de fala com sotaque paraguaio. Ainda para ser mais específico, estavam a serviço na Hacienda Caraguataí fazendo bebedouros e reservatórios de água para gado. O fazendeiro, Don Pablo Figueroa — era assim que o chamavam na propriedade —, tinha avisado que na fazenda tinha muita caça e que no Paraguai não tinha nenhuma lei que regulamentasse a atividade de caçar, portanto nada impediria o ato na sua propriedade, o único porém que Don Pablo não se esqueceu de avisar, é que numa seqüência de morros coberta de densa floresta havia onças pintadas e pardas.
— É lá mesmo que eu quero fazer uma seva e montar uma espera . Dizia “o metido a caçador”.
Todos se entreolharam. Menos o Cícero, que volta e meia estava com a cara cheia de caña , disse:
— É isso aí, Serjão! Tô contigo e não abro!
— Tá aí! Já tenho um companheiro para a caçada. Afirmou Sérgio esfregando as mãos uma na outra.
Quando foram a Pedro Juan Caballero comprar suprimentos para o barraco , compraram uma saca de sal grosso para gado. Diziam que era para a tal seva. Seu sogro, Seu José Luiz, homem tarimbado na vida, aconselhou-o a desistir de tal loucura, pois o mesmo não era caçador e que ao mesmo tempo estaria contrariando as leis da natureza. Não teve jeito. No outro dia lá estava o Sérgio, com o Cícero e um terceiro: um cidadão que estava roçando o pasto da fazenda de Don Pablo, que ninguém sabia o nome, pois o mesmo não dizia, o que levou à desconfiança de todos, pois, por que esconderia o nome? Saíram depois do almoço, pois estavam de folga do serviço. No fim da tarde voltaram felizes, pois disseram que encontraram um lugar muito batido . Seu sogro disse que era esse tipo de lugar que as onças procuravam para esperar suas vítimas, pois tinha fartura de alimentos.
No outro dia, prepararam os cartuchos com carga pesada, pois poderiam mesmo se deparar com animais de grande porte, inclusive uma onça. Os demais foram dormir cedo, pois não tinha uma televisão e o único rádio não conseguia pegar nem Ondas Curtas no meio da serra. Lá pelas tantas, todos no barraco acordaram com uns gritos alucinantes:
— Olha a ooonnnnçaaaa!!!!! Abram aaaaa pooorta!!!
Não deu tempo. A porta veio a baixo. Quem derrubou? “O metido a caçador”. Ao mesmo tempo em que derrubou a porta do barraco, desmaiou. Não se sabe se do medo ou da pancada na porta. Todos procuraram reanimá-lo, pois queriam saber notícias dos demais. Será que uma onça teria atacado mesmo e devorado o Cícero – o bebinho – e o “Anônimo”?
Não demorou muito e os dois chegaram conversando, meio que murmurando. Quando chegaram, se entreolharam e o “Anônimo” acenou com a cabeça para o Cícero falar:
— É Seu Zé! Sinto muito lhe contá, mais o Serjão sumiu. Demos um tiro num quexada e no ronco do bicho o Sérgio pulou da espera e saiu correndo dizendo que era uma onça. Tentamos segurar ele, mas não teve jeito. Saiu gritando feito um louco e se perdeu no mato.
— O Serjão que agora deve ser chamado de Serjinho está ali no quarto, os outros estão fazendo ele reanimar. Olha a situação da porta! Disse Seu Zezinho.
— Meu Deus, Seu Zé! Mas foi só um quexada. Olha o bicho aqui! Dizia o “Anônimo”.
— Tá bom! Mas não quero mais saber de caçada com os meus. Limpem o bicho e vamos dormir.
No outro dia o Sérgio não queria dar as caras de vergonha e muito menos comer da carne do bicho. Daquela noite em diante o homem não saia fora do barraco nem para dar aquela mijadinha. Era da porta do barraco mesmo que ele fazia, o que sempre era repreendido pelos colegas.
— Pô, meu! Lá fora tá muito frio!!!