O caçador de loperês
O caçador de loperês
Seu Colá Martínez, paraguaio de nascimento, guerrilheiro da Revolução de 47 no Paraguai, foragido das perseguições políticas por parte dos vitoriosos desta conflagração, é um crente quanto à existência dos tais guardados ou loperês . Ora se diz paraguaio, ora brasileiro. Tem medo, de que, até nos dias de hoje alguém venha tirar-lhe a vida – aí ele é brasileiro, Nicolau Martins, precisamente. Quando se trata da Guerra de la Tríplice Alianza, como ele se refere ao conflito que nós brasileiros chamamos de Guerra do Paraguai, ele é o Nicolau Martínez, o verdadeiro paraguaio. O pior é que sua língua o denuncia o que verdadeiramente ele é.
Ao perguntar o significado de “loperê”, mesmo sendo analfabeto, Seu Colá não titubeia em dizer:
—“Era del López”. Una vez que “lope” es igual a López y “rê” significa era en guaraní. Era porque ahora no es más. Nosotros vamos a encontrar y nos quedarernos ricos. — Diz o Velho Colá em um tom sarcástico.
Seu Colá é muito crédulo quanto aos loperês. Tem mapas de diversos tipos, datados desde 1877 até os nossos dias sobre locais em que afirma categoricamente encontrarem-se os tais loperês. O paraguaio tem um detector de metais para ir a busca dos tais enterros, bússolas e até uma máscara especial para quando for abrir o tal baú e não correr o risco de morrer intoxicado por um possível veneno ou bactérias. Isso demonstra que o velho paraguaio leva muito a sério atingir seu intento.
Segundo o nosso bom velho, quando Francisco Solano Lopes saiu de Assunção, abarrotou carretas de ourivesarias e pedras preciosas, sempre guarnecidas por cento e cinqüenta homens, sempre a comando do General Resquim. Cada guardado que era feito, o Mariscal mandava matar todos os homens que tinham participado do enterro, evitando assim, que com o final do conflito, alguém além do Ditador soubesse o local certo, enquanto isso, os soldados mortos eram repostos por um novo grupamento.
Alguns locais, Seu Colá tem os mapas; outros, ele diz saber de cor onde se encontram. Ao perguntar porque ele já não desenterrou os tais loperês, a resposta é sempre a mesma:
— No pudo porque no tenía en mis manos una autorización del propietario para explorar el territorio. Y, en muchas situaciones otros llegaron antes de mí.
Seu Nicolau Martínez diz que têm guardados que chega a ter em média 75.000 onças de ouro, o que equivale a mais ou menos 2150 quilos.
— Es por eso que muchos propietarios de haciendas dejaron todo para tras y huyeron con muchísimo oro. Nadie más oyeron hablar de ellos.
Ao insistir sobre os locais dos tais enterros, Seu Colá cita quatro paragens:
— Un está en la cabecera del Río Guara’í, en el Acampamento Cerro Perú, territorio de Capitán Bado; dos están en las cabeceras de los Ríos Santa María y Cachoeira, son afluyentes del Río Ivinhema en Brasil, pero los nacimientos de estos arroyos están en la frontera con el Paraguay. Y hay otro que está en la cabecera del Río Apa, cerca de un pueblito brasileño de nombre de Cabeceira do Apa.
Com os seus quase oitenta anos de idade, o Velho Colá sempre pensa em recomeçar a vida encontrando um loperê. Diz que um punhado de ouro seria o suficiente para tocar a sua vida.
— Estoy montando un equipo para irnos en búsqueda de un gran guardado. Creo que voy me quedar rico. Soy paraguayo y tengo derecho mucho más que cualquier otro, una vez que luché en la Revolución de 1947.
Quando se pergunta sobre a sua idade avançada e correr atrás de riquezas que são quase impossíveis de serem encontradas, a resposta é imediata:
— ¡No hay edad para ser feliz!
Pelo sim ou pelo não, conversar com Seu Colá Martins ou Nicolau Martínez, é entrar no túnel do tempo e no universo da fantasia, se sentir criança, mas ao mesmo tempo se sentir um adulto maduro que sabe respeitar os sentimentos do outro, os sonhos do outro, por mais que em nossa ótica seja utopia.