Pintando o 7!!!

Pintando o 7!

O shopping center da Rua Siqueira Campos 143 em Copacabana/RJ, já existia em 1966, aonde nos abrigamos quando houve deslizamento no nosso Morro e em 1980, ainda não tinha sido completamente ocupado. Desempregado, descobri no pé do meu Morro um pintor desenhista que precisava de um ajudante, mais precisamente um preenchedor de letras.

Serviço fácil mas terrivelmente maçante, pois exigia muita paciência e firmeza na mão, embora o pagamento fosse ínfimo, porque eu era aprendiz neste ofício!

O problema problemático é que êle adorava "dar uns tapinhas num cigarro 100 marca" enquanto desenhava. Nessa época a polícia ganhava também por produção e prendia até a sombra do viciado ou traficante.

Meu primeiro serviço foi pintar uma propaganda do show da Gal Costa e vibrei com a possibilidade de ver o show de graça.

Chegamos no local no final de Copacabana e a entrada do teatro era num beco de uns 100 metros de comprimento, que findava numa parede de 3 x 5 metros. Chegamos umas 10 horas da manhã com o sol prometendo fritar ovo no asfalto ao meio-dia.

Pintamos rapidamente a imensa parede de branco, êle se afastou uns 50 metros e ficou olhando eu e a parede por um bom tempo. Voltou, entrou no Teatro, saiu e posicionou-se no mesmo local. Eu o acompanhei e ambos olhamos aquela brancura OMO por um bom tempo! Possivelmente êle não viu nada e eu menos ainda!

Aí êle "apelou" e puxou do bolso um "tarugo" (cigarro de maconha maior e mais adubado para rodadas de mais de 3 viciados) imenso, na certa esperando a visita de Fidel Castro. Acendeu ali mesmo em pleno dia e mandou fumaça pra dentro. Sorte minha que era palha, aí o cheiro não se alastrou muito. Mesmo assim um morador colocou no mais alto volume no seu toca discos o hit da época:

"tá um cheiro de mato queimado, / tá queimando, / pode ser que eu esteja enganado/ tem alguém mato queimando!

Depois de umas 5 tragadas êle foi na parede riscou as letras, voltou, olhou e fumou mais um pouco, foi riscou uns desenhos e voltou...

E assim foi a tarde e entrou a noite:

Indo, fumando e vindo!

Saimos de lá umas 10 da noite, mas o desenho ficou espetacular, digno de um nome como Gal!

Me mandou procura-lo no outro dia em seu atelier que ficava no shopping center da rua Siqueira Campos 143, que embora gigantesco aparentava abandono.

Para achar sua loja foi fácil:

Bastou empinar o nariz e respirar fundo!

Esse sujeito realmente gostava de uma Mary-Juana!

Depois deste dia não o procurei mais. Andar com esse Mário Fumaça era estar com um pé na cadeia!