A MORTE DE CESAR

A MORTE DE CESAR....

César nome de homem poderoso, Caio Julio César, imperador dos romanos, no auge de seu poder, quando se dirigia ao “SENADO” foi assassinado por seu filho adotivo BRUTUS. Porém, o César de desse relato não tinha tanto poder, mas era homem de posses razoáveis.

César vindo da Rua Piratininga, dirigiu-se para a estação Brás do metro, com o objetivo de ir até

a Av. Paulista onde mantinha seu escritório comercial. Trajando um terno de fino corte, chapéu bem

alinhado, gravata de bom gosto, presa por um prendedor de pérola ornando com uma bela camisa, um

elegante cachimbo que combinava com a bengala toda trabalhada a qual portava na mão direita,

sapatos bem cuidados e um reluzente relógio de pulso. Ao se aproximar da escada rolante da estação

César sentiu um suor frio a escorrer pela testa, a visão ficou turva, as mãos soltaram a pasta de couro e,

as pernas dobraram. Em poucos segundos César estava no chão, com os olhos fixos, respiração

ofegante, sendo socorrido por transeuntes. Dentre eles “PEPE” o outro personagem do nosso conto.

“Giusepe Moretti” conhecido entre os familiares e amigos como “PEPE” , filho de imigrantes da

Baixa Itália (Nápoles, Sicília, Calábria, Palermo Sardenha), uma daquelas localidades. Logo poderemos

imaginar Pepe como um autêntico “CARCAMANO” ou “MAFIOSO” (MÁFIA) = Movimento

Autônomo da Família Italiana, a qual teve sua origem na luta dos colonos agricultores contra os

senhores feudais.

Não, de forma alguma, Pepe não era um “carcamano” , Pepe homem magro, alto, olhos azuis e

tristes, calvície pronunciada, ornada por cabelos outrora castanhos, agora grisalhos, as rugas na testa

formadas mais pelas marcas da vida que pela idade. Pepe, homem honrado, trabalhador, religioso

devoto de São Genaro, quando podia assistia missa na Igreja Nossa Senhora de Querupita, no antigo

Bairro do Brás.

Pepe estava retornando da casa de sua filha caçula, aquela que se casou com o filho de seu

amigo Ângelo , dono da Cantina Nostra Mama.

O casal foi morar num sobradinho da Barra Funda, onde nasceu sua netinha Carmela , a quem Pepe

sempre ia visitar, a menina era sua primeira neta, toda alegria do avô estava em ver a sorridente

netinha loirinha de olhos azuis como os do avô.

Quando Pepe se acercou de César, ele já agonizava, as pessoas que o rodeavam, alguns curiosos

outros, no início, com boas intenções de socorre-lo, mas no empurra, puxa, levanta , leva, traz, pega

e solta, cada vez que uma mão o tocava, César se via despojado de algum bem.

Pepe, por sua vez, ao notar que nada poderia fazer por César, ao soltar de seu braço esquerdo,

ficou com o relógio do moribundo em sua mão, que rapidamente passou para seu bolso.....Ao se afastar

olhou para traz e compreendeu que, as vezes, é necessário que um boi morra para alimentar os abutres.

Chegando em casa, como de costume, chamou por sua esposa, “Angelina”, levou-a para o quarto

trancados sob segredo relatou à companheira o ocorrido. Ao receber o olhar de reprovação da esposa

justificou-se : -- Minha cara em nada poderia ajudar aquele senhor, e você melhor que ninguém sabe

da nossa penúria.... ----Não tenho culpa de que em nome dessa maledeta da tal da ( “globalização” ,

informática, política neo liberal ) e outras mais, um homem com tanto conhecimento profissional,

vontade e capacidade para trabalhar, me encontro nesta situação de desemprego , como poderia

imaginar um metalúrgico como eu, e outros tantos companheiros, nesta condição miserável de sub

emprego. – Com o dinheiro deste relógio, poderemos pagar nossa conta no açougue, na farmácia

o empréstimo que fizemos com o Guido e, quem sabe ainda dê para comprar aquele livro de que nosso

filho precisa tanto, mas sabendo da nossa condição o coitado nem se atreve a pedir. –Não quero que

nosso filho passe pelo que estamos passando, ele precisa estudar, ser um doutor, nosso filho se “DIO”

me ajudar, não será como o pai, com as mãos e unhas manchadas pela graxa, a pela escura pelo pó do

ferro fundido, e o sangue misturado com o óleo...—você cara mia sabe da paixão que nutro pela minha

profissão, que agora mal da para nosso sustento.

Angelina não disse uma palavra, abraçou fortemente o marido, levantou-se da cama onde estava

sentada e, dirigiu-se à cozinha para preparar o jantar.

As lágrimas não eram por causa da cebola que estava a cortar, mas sim porque a condição de vida

havia destruído parte de bom que sempre a fez se orgulhar do marido.... Enquanto as lágrimas

teimavam em rolar, Angelina enxugava as mãos no avental e pensava...

“Oh mio DIO o que mais questa vita maledeta” ? vai roubar do meu PEPE.....

nestorfelini
Enviado por nestorfelini em 26/06/2018
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