Os livro coça os pensamento (causo)

(Narrativa caricata do caipira)

Quando pego um livro pra lê, paciência nenhuma há, nem prá respirá quanto mais pra sopra. Por mais que seja bão o causo os meu dedo começa a coça e as mão começa a moía. Transpira feito fejão na panela a cosinhá. No passá as pagina do livro tudo começa a enrosca e os dedo a grosá. As perna roça uma na outra que parece um comichão, e eu tenho que pará. Tenho que larga o livro e andá, andá, andá... Minha mãe falava que eu era ansioso, aquele sujeito que muda o pé do chão antes dele no chão pisá. Se pudesse lê o livro andando acho que chegaria ao finar. Mas se ando lendo posso tropeçá e o nariz no chão... dismanchá.

Parece que caipira não nasceu pra lê, só pra observa, de preferença sentado pra não cansá. Quando lê os livro um redemoinho trais a arma do caipira pro carcanhá. Uma bagunça invade o peito, difíci de controlá. Será que é por isso que os caipira não lê? Uma coisa é certa, as palavra dos livro no caipira parece que bate forte, enviesado, espaiado, doloriiiido de matá.

Quando fiquei sabendo que os livro são feito do pau do mato, entendi porque são triste, todos os livro são triste mesmo aqueles que os paiaço fica a brincá... Um monte de livro na pratelera parece um monte de pau pra queimá, igual das festa dos santo que num dia tem alegria e foguetório e no outro só cinza pro vento levá. Os livro como pau um dia vão pro fogo e acaba o sonho das suas foias, das fulia, das firula e das flo. Os livro depois de lido fica nas pratelera a inbolorá, abandonadiiiinho esperando o dia que no fogo vai quimá. É por isso que os livro fica por ai a amuntuá sem a menor chance de pra otras mão caminhá. As letrinha miudinha, esquisita, ruim de dessifrá, que tanto me azeda o pensamento, voa longe, e eu aliviado vejo os livro que nem pau queimá. To revortado cós livro que não consegui lê, côas pessoa que tanto istudaro e escrevero pros causo contá.

É por isso que gosto mais das foias das bananeira que as foia dos livro. Elas quando chaquaia festeja o vento e tinge os pensamento de amor e verde esperança. Os livro quando chaquaia sei lá o que vai virá. Pode ser um sorriso alegre ou uma tortura de amargá. Os livro são fechado que não dá corage de abri. Quando quero sabê, o que tem lá dentro do livro vê, levando uma foinha devagarinho e espio rapidinho com medo das palavra escapa e me pegá. As palavra dos livro pega a gente. Elas dão bote que nem serpente que não tem guiso pra chacoaiá. Pra lê os livro ocê tem que se prepará. Tem que assuntá com os amigo que já lero tar livro pra sabe o que rola por lá. Não vai metido a besta pega quarque um que ocê pode se azará. Dentro do livro pode acontece tanta coisa que só vendo pra acreditá. Depois não adianta reclamá.

Acho bom o caipira pará de lê, pra não se zangá. O caipira aprende as coisa, só com o zoio, oiando pra cá oiando pra lá. É numa oiada assim que o zóio enrosca para nunca mais larga. Caipira não larga fáci das coisa. O bicho é incardido, carafunchado nas coisa e num joga nada pro arto sem antes de entendê e penerá. As coisa que o caipira aprende ele rumina sentado na portera. Sei lá porque ele gosta de ficá sentado na portera pra pensá. Fica paraaaado co zoio perdiiiido, anuviado, tão distante que não dexa ninguém na portera passá. E no balanço da portera embala os pensamento zoiando pra dentro, zoio mardito, indiscreto, matadô. Quem não oia pra dentro não podia zoiá pra fora. Os nosso zoio divia passá dentro da gente primeiro, em todos os lugá, da barrica, na cabeça, nos cabelo, até a ponta dos dedo polegá. O zoiá pra dentro vascuia sem pedi permissão. O pió é que tudo que o caipira descobre sai zoio a fora, sem a menor discrição. Caipira não consegue escondê o que passa lá dentro do coração. Porque então caipira tem que lê livro se o que já está dentro dele é bastante, de transbordá? Tem que lê livro quem tá vazio, precisando de se encontrá.

Marcos Rossi
Enviado por Marcos Rossi em 20/06/2018
Código do texto: T6369710
Classificação de conteúdo: seguro