TUBARÃO

O filme com esse nome foi o maior sucesso de bilheteria por onde passou e não foi diferente quando o cinema Moderno do Recife, aquele que ficava na Praça Joaquim Nabuco, manteve o filme em cartaz por mais de mês.

Todo mundo foi ver o filme e entre eles o Sr Vicente Costa, aquele homem que morava no sobrado esquina da Rua Nova com Rua do Comércio, bem no centro de Limoeiro. Homem honesto, conhecido e amigo de todos, bom de conversa, principalmente, dos casos de caça que ele fazia com os amigos pelas matas da região onde, naquele tempo, ainda havia muito bicho bruto para ser caçado.

Sr Vicente era cabra experiente com armas de cano longo e nunca abandonou o costume de andar armado desde a época em que as pendengas da política eram resolvidas à bala mandando o adversário para os quintos dos infernos.

Mesmo que fosse para assistir missa de defunto, ele nunca deixou de levar em baixo do sovaco o seu revolver Tauros 38 de cinco tiros por ser arma bem pequena, 2,5 polegadas, mas de efeito devastador se usada por gente experiente e em curta distância.

Mas voltando ao filme, primeiro, horas a fio na fila para comprar o ingresso e depois outra fila para entrar na sala de projeção.

Lá dentro escuro como breu, Sr. Vicente, que nunca tinha posto os pés num canto daqueles, precisou ser guiado por uma daquelas moças que ficavam com a lanterninha indicando o local vazio para o espectador poder sentar-se.

Essas mocinhas ficavam com a gota serena no couro quando eram chamadas de vaga lume, porque vaga lume tem fogo no rabo.

Sr Vicente ficou sentado numa poltrona longe da de Orestes de comadre Leu que era o guia dele nessa empreitada e que ele concordou em ir só para não fazer desfeita à comadre depois do caminhão de insistência dela.

Sentado sozinho naquela escuridão da murrinha, levava cada susto do cão todas as vezes que o povo gritava com medo quando aparecia a carona cheia de dentes do diacho do peixe grande feito uma semana de fome.

Já nas últimas cenas quando o ator Roy Scheider, que interpretava o Chefe de Polícia, fica na plataforma do barco com o tubarão prestes a pegar-lhe a perna, Sr Vicente sacou o revolver e mandou as cinco balas na cabeça do tubarão.

Afinal um sujeito como ele acostumado a caçar bicho brabo, não ia deixar um cabra valente como aquele polícia, que já estava no rol dos seus amigos, ser comido por um inseto nojento daquele.

Foi confusão para mais de metro...

Esse causo, que foi sugerido pelo amigo José Ricardo Brito de Araújo, quando me presenteou com a sequência de fotos antigas do Recife numa das quais aparece a fachada do Cinema Moderno com o título do filme Tubarão, tem todos os ingredientes para ser verdadeiro e foi escrito obedecendo a maneira de falar do povo Pernambucano que, pode até ser inculta, mas é lindamente melodiosa.