O SONHO DE UM CORONEL MACHISTA 31º EPISÓDIO
Nicó ficou super feliz, despediu, deixou recomendações para sinhá Maricota que no momento estava ausente acompanhando a mãe que convalescia de uma enfermidade e não participou da reunião. Voltou para sua casa irradiante de alegria. Ao passar pelo curral foi reconhecido pelo Terenço:
-- Voismicê é Nicó memo ô ieu to veno coisa?
--Sô ieu sim, ma pruque a pregunta?
-- Um fio de coronè Certorio na Bocaina!? É caso pra botá no jornal!
Terenço gostou tanto do trabalho, que chegou a comentar com Venâncio a possibilidade de vender seu sitio mudar definitivamente para Bocaina, isso se houvesse interesse por parte do coronel Tiburcio, afirmou ele. Ao ouvir essa prosa, o coração do pistoleiro balançou um pouco e veio na lembrança aquela cobrança de sua mãe pelo seu comportamento correto, mas logo em seguida veio também a voz do coronel Certorio dizendo:
--Negóço fechado metade agora, outra metade dispois do sirviço feito ieu te pago dez conto de réis, ma fico cum o sitio dele, num priciso pagá nada pur ele, inda ganho a muié dele de brinde. Terenço inocente como um cordeirinho depositava toda sua fé e confiava piamente no pistoleiro. Nem sonhava ser vitima de uma trama diabólica.
Pouco tempo após a saída de Nicó, chegou a Bocaina, Tira Teima acompanhado por Nicolau o priprietário do circo que levava o nome de “ Circo Dengoso” instalado em Pico do Monte uma cidade de porte médio situada não muito distante de Bom Jardim, à apenas um dia de viajem. Nicolau acatando a opinião do Tira Teima, peregrinava com seus espetáculos pela região de cidade à cidade em direção ao Bom Jardim. Atraído pela fama do boi Pretête.
Ao se apresentarem ao coronel que estava no curral ajudando a lidar como gado Tira Teima informou que seu acompanhante era proprietário de um circo e logo tratou do assunto:
---Intão coronel, certo dia ieu tava prusiano cum colega de infância inquanto isperava uha diligencia, o sinhor Nicolau iscuitô ieu cuntano ele sobre o boi pretête qui é de vossa propriedade, ele, qui já tinha iscutado muito se falá na fama do boi, achou interessante pidiu que o acompanhasse até aqui para negociar com o senhor.
--Que tipo de negocio? O meu boi nun tá a venda nun sinhô, tenho otros a venda, ma essai nun vendo pru dinheiro nium .
-- Meu circo tá apenas a um dia de viaje daqui se voismicê num quizé vendê, pode sê na base de aluguel ieu pago bem?
--Oia seu Nicolau a única coisa qui faço pra voismicê, caso há interesse de vossa parte é cedê o boi pra um espetáculo aqui in nossa cidade, pra outro local, ele nun sai de forma arguma.
-- Tudo bem que dizer se eu vier ao Bom Jardim com o meu espetáculo posso contar com a vossa ajuda?
-- Pode sim inclusive com otras reiz ieu posso cedê pra o vosso trabaio se pricisá. Assim ficou acertado
Os dois homens dirigiram ao Bom Jardim foram procurar pelo alferes em busca de autorização para instalar o circo.
--De minha parte tudo bem, eu como juiz concedo a permissão, mas vão ter de ir a fazenda Morrinhos, aqui nada pode acontecer sem o consentimento de coronel Certorio, tudo que envolve forasteiros nessa cidade, a palavra final é a dele.
-- Mais qui home poderoso esse tal de coronel heim Tira Teima-, quem sabe vai querê da orde até pru otro dono do boi! Como já era noite tiveram que pernoitar na cidade.
No dia seguinte bem de manhãzinha lá se foram os dois tratarem com o manda chuva da cidade, explicaram a ele o interesse de Nicolau pela apresentação de um espetáculo com o boi mais famoso que já se viu. Por sorte ele não reconheceu o Tira Teima:
--Donde foi qui voismiceis subero desse boi?
--Coronel esse boi é o mais famoso boi de circo qui já se viu. Na história circense em todos os tempos os assuntos discutidos nos circos por este país afora, falou em touro, logo vem à tona o nome de pretête. Muitos proprietários inescrupulosos já usaram o nome desse boi com falsidade ideológica em seus espetáculos usando outro boi como se fosse ele, para arrecadar dinheiro, e olha que bateram recordes em suas bilheterias com esse golpe.
-- Tá bão voismiceis quando quizé pode trazê o circo ieu aviso pro arferes, ma tem de mim avisá quando fô istreiá o espetáculo.
Ao se retirarem Nicolau comentou:
--Tira Teima eu tô enganado ou esse coronel ai tem inveja do outro coronel dono do boi?
-- Nun só do dono cumo do próprio boi voismicê vino pra cá vai sabê diriitinho cumo é a vida desses dois coronéis a briga desses dois é uha briga histórica.
Assim que despediram do coronel chegou Isidoro e os dois capangas cedidos ao coronel Certorio pelo seu colega o coronel Tenório. Entraram no curral amarram a tropa e entraram na varanda, onde o coronel os aguardava.
--Boa tarde coroné prazê in cunhecê ieu sô Zeca Priá e esse ai Tõe Pirdiguero, nois tamo cum um dia e argumas hora de atrazo, pru mode que os cavalos iscapuliu do pasto donde foro arrumado, prum pasto maiô, quando nois achô eze o sor já tava discambano pra dinoite, ma aí num teve jeito de vim só nun dia, hoje saimo da posada, na canturia dos galo inda tava iscuro .
-- Tá bão. Isidoro vai mostrá pra voismiceis o alojamento, e o lugá de lavá, mode tirá o pó da istrada, ma primero, Isidoro; tira os arreio dos animar lava os lombo deze vai butá mio no cocho, pra eze, cada um cuida de sua muntaria, dispois coceis se lavá, o Isidoro leva voismiceis lá na cuzinha pra qui inaça arruma o de cumê. Amanhã ieu mostro o sirviço de cada um doceis. Esse resto de semana os dois vai trabaiá na lida do curral e de sigunda fera in diente vamo vê o qui vai sê o trabaio difinitivo de cada um.
Passou o restante da semana sem que o coronel Certorio interferisse nos trabalhos de sua fazenda. Enquanto isso suas visitas ao sitio de Terencio prosseguiram na rotina de sempre. Com ele ausente a fase da lua já não era mais o problema, jurema o avisou que o marido só estaria de voltaria no sábado a tarde ou no domingo de manhã.
Terencio acatou a sugestão de Venâncio e deixou para domingo de manhã a ida à sua casa. Melhor mesmo seria subirem o rio juntos, levando em conta a pouca habilidade que possuía para lidar com canoa no rio. Embora mesmo sem experiência junto ao pistoleiro ele poderia morrer a qualquer momento, mas o inocente não sabia o risco que estava correndo.
Quando os galos amiudaram seus cânticos anunciando que a estrela d’alva estava duas braças acima do horizonte eles entraram na pequena embarcação e subiram o rio. Quando o sol deitou seus primeiros raios naquela paisagem de trilhas bordadas pelos rastros das juritis, inanbús e codorninhas, que fugiam dele aproximando de casa. A fumaça branca da chaminé no fogão de lenha de sua esposa subia em riste. E o delicioso aroma do café que acabara de passar espalhava pelos derredores. Uma duvida invadiu seu pensamento, seria um bom negócio trocar a paz daquela solidão silvestre pelo corre, corre da fazenda Bocaina?
--Bom dia Jurema como passou a semana?
-- Bom dia Terenço tô bem ma sinti muita farta muita sodade, maginei qui viesse onte acabô nun apareceu.
-- Ma ieu nun falei qui as veis ieu isperava pru Venâncio hoje pru mode qeu nun têm muito custume de remá canoa?
Ta bão, mió memo de que morrê afogado. Credo in cruiz nun gosto nem de lembra cumo morrero a isposa de coroné e de Nicó.
--Ah falano in Nicó voismicê nadivê qui quarta fera ele tava lá na casa de coroné Tiburcio prusiano cuele mais Dusanjo!
---Nun cridito voismicê tem certeza quera ele?
-- Bissuluta, inté prusiei cuele mode tê certeza falei cuele qui tinha qui butá isso no jorná!
--Ma vamo dexá isso pralá vamo lá pru chiquero mode cê vê qui berezura dos leitão qui nascero essa semana déis! Cada um mais bunito quiuoto, foi a porca quemada qui pariu e ieu achei qui ia pari primero a pintada, ma dessa semana ela nun passa i capais de sê do memo tanto se nun fô mais!.
--Se acaso voismicê vê coroné Certorio pur aí lidano cum gado voismicê pede pra ele falá cum Inaça pra nois, mode ela benzê os purquinhos qui nascero e os qui tão pru nascê tumem,inhantes de passá esses pescadô de zóio ruim e butá mau oiado neze.
Tá bão, ma coroné anda sumido, fais dia qui num vejo ele ma se vê ieu do o recado!
Terenço ficou super feliz com eficiência e o cuidado da esposa para com os seus animais os chiqueiros e cochos limpinhos todos muito bem tratados.
Enquanto isso lá no esconderijo o pistoleiro, preparou com muita sobra, seu almoço uma panelada de arroz e outra de peixes. Quando o coronel chegou já era meio dia ora da merenda. Uma vez que o costume na roça era sempre almoço as nove horas merenda ao meio dia e a janta duas horas a tardar muito as três da tarde.
--Bom dia Dentuço cumo passô a semana feis o sirviço?
--Bão dia coroné fiz um monte de sirviço a semana intera!
--Nun fais de disintindido não, tá mangano de mim ieu sô coroné Certorio já visse só ieu qui mando nessa terra pra i afora tudo! Voismicê mim respeite!
--Ah é, intonse fais o tar sirviço, o sinhô memo, coroné Certorio!
--Acuntece qui quem pegô a impreitada pur deis conto de reis foi voismicê qui é pistolero, ieu nun sô matadô iguá é voismicê nun sinhô!
-- Quem paga mode matá é pió de qui quem matá sabia disso, pur que quem mata as veiz nem cunhece a pessoa?
-- Vamo dexá de prosa vai ôh nun vai cumpri cua sua palavra?
- - Cadê a metade dos cobre cunforme foi tratado?
--Ah intonse é isso fartô os cobre ieu boto eze na sua mão dumingo qui vem?
--E cueze no borço ieu jogo o home na água e siguro ele cum o Reno inté ele morrê dispois ieu prendo o corpo nua coivara, mode voismicê mais a muié dele achá ele facim! Ieu levei ele mode trabaiá lá na Bocaina, nois ficá pralá pra cá de canoa i ieu tê mais chance de fazê o sirviço e ninguém mim butá a curpa. Achei qui fica mió de qui ele ficá aqui nesse iscunderijo suzinho. Ele inda num viu esse iscunderijo nois entra na canoa ali no rio de lá num dá mode ixergá aqui quando vem de tarde ieu tô lá pescano ele nem percebe.
Agora só pra o sinhô sabê qui tô cumprino cum nosso trato seu fio Nicó teve lá prusiano cum coroné Tiburcio e cua fia dele quarta fera e Terenço inté prusiô cuele tumém na hora quel foi simbora. O qui sei é qui ficô cumbinado dele mais Dusanjo casá assim qui acabá esse perrengue entre vossas famías.
-- Primero dentuço isso num acaba nem dispois quieu morrê e sigundo ele vai casá é cum a Quintina lá da serra do diamante.
Os dois home qui vai ajudá no prano quieu tem chegaro essa semana dumingo ieu vô te contá cumo vai cê. Agora mim passa ái uha cuia dexa ieu cumê do seu pexe qui omeno pra isso voismicê presta, sua bóia é danada de boa.
Enquanto comia o coronel afirmou que ia deixar Nicó na corda bamba administrando sua fazenda, ia apenas avisá-lo que sabia de tudo que estava acontecendo entre ele e filha do coronel Tiburcio.
Nicó ficou super feliz, despediu, deixou recomendações para sinhá Maricota que no momento estava ausente acompanhando a mãe que convalescia de uma enfermidade e não participou da reunião. Voltou para sua casa irradiante de alegria. Ao passar pelo curral foi reconhecido pelo Terenço:
-- Voismicê é Nicó memo ô ieu to veno coisa?
--Sô ieu sim, ma pruque a pregunta?
-- Um fio de coronè Certorio na Bocaina!? É caso pra botá no jornal!
Terenço gostou tanto do trabalho, que chegou a comentar com Venâncio a possibilidade de vender seu sitio mudar definitivamente para Bocaina, isso se houvesse interesse por parte do coronel Tiburcio, afirmou ele. Ao ouvir essa prosa, o coração do pistoleiro balançou um pouco e veio na lembrança aquela cobrança de sua mãe pelo seu comportamento correto, mas logo em seguida veio também a voz do coronel Certorio dizendo:
--Negóço fechado metade agora, outra metade dispois do sirviço feito ieu te pago dez conto de réis, ma fico cum o sitio dele, num priciso pagá nada pur ele, inda ganho a muié dele de brinde. Terenço inocente como um cordeirinho depositava toda sua fé e confiava piamente no pistoleiro. Nem sonhava ser vitima de uma trama diabólica.
Pouco tempo após a saída de Nicó, chegou a Bocaina, Tira Teima acompanhado por Nicolau o priprietário do circo que levava o nome de “ Circo Dengoso” instalado em Pico do Monte uma cidade de porte médio situada não muito distante de Bom Jardim, à apenas um dia de viajem. Nicolau acatando a opinião do Tira Teima, peregrinava com seus espetáculos pela região de cidade à cidade em direção ao Bom Jardim. Atraído pela fama do boi Pretête.
Ao se apresentarem ao coronel que estava no curral ajudando a lidar como gado Tira Teima informou que seu acompanhante era proprietário de um circo e logo tratou do assunto:
---Intão coronel, certo dia ieu tava prusiano cum colega de infância inquanto isperava uha diligencia, o sinhor Nicolau iscuitô ieu cuntano ele sobre o boi pretête qui é de vossa propriedade, ele, qui já tinha iscutado muito se falá na fama do boi, achou interessante pidiu que o acompanhasse até aqui para negociar com o senhor.
--Que tipo de negocio? O meu boi nun tá a venda nun sinhô, tenho otros a venda, ma essai nun vendo pru dinheiro nium .
-- Meu circo tá apenas a um dia de viaje daqui se voismicê num quizé vendê, pode sê na base de aluguel ieu pago bem?
--Oia seu Nicolau a única coisa qui faço pra voismicê, caso há interesse de vossa parte é cedê o boi pra um espetáculo aqui in nossa cidade, pra outro local, ele nun sai de forma arguma.
-- Tudo bem que dizer se eu vier ao Bom Jardim com o meu espetáculo posso contar com a vossa ajuda?
-- Pode sim inclusive com otras reiz ieu posso cedê pra o vosso trabaio se pricisá. Assim ficou acertado
Os dois homens dirigiram ao Bom Jardim foram procurar pelo alferes em busca de autorização para instalar o circo.
--De minha parte tudo bem, eu como juiz concedo a permissão, mas vão ter de ir a fazenda Morrinhos, aqui nada pode acontecer sem o consentimento de coronel Certorio, tudo que envolve forasteiros nessa cidade, a palavra final é a dele.
-- Mais qui home poderoso esse tal de coronel heim Tira Teima-, quem sabe vai querê da orde até pru otro dono do boi! Como já era noite tiveram que pernoitar na cidade.
No dia seguinte bem de manhãzinha lá se foram os dois tratarem com o manda chuva da cidade, explicaram a ele o interesse de Nicolau pela apresentação de um espetáculo com o boi mais famoso que já se viu. Por sorte ele não reconheceu o Tira Teima:
--Donde foi qui voismiceis subero desse boi?
--Coronel esse boi é o mais famoso boi de circo qui já se viu. Na história circense em todos os tempos os assuntos discutidos nos circos por este país afora, falou em touro, logo vem à tona o nome de pretête. Muitos proprietários inescrupulosos já usaram o nome desse boi com falsidade ideológica em seus espetáculos usando outro boi como se fosse ele, para arrecadar dinheiro, e olha que bateram recordes em suas bilheterias com esse golpe.
-- Tá bão voismiceis quando quizé pode trazê o circo ieu aviso pro arferes, ma tem de mim avisá quando fô istreiá o espetáculo.
Ao se retirarem Nicolau comentou:
--Tira Teima eu tô enganado ou esse coronel ai tem inveja do outro coronel dono do boi?
-- Nun só do dono cumo do próprio boi voismicê vino pra cá vai sabê diriitinho cumo é a vida desses dois coronéis a briga desses dois é uha briga histórica.
Assim que despediram do coronel chegou Isidoro e os dois capangas cedidos ao coronel Certorio pelo seu colega o coronel Tenório. Entraram no curral amarram a tropa e entraram na varanda, onde o coronel os aguardava.
--Boa tarde coroné prazê in cunhecê ieu sô Zeca Priá e esse ai Tõe Pirdiguero, nois tamo cum um dia e argumas hora de atrazo, pru mode que os cavalos iscapuliu do pasto donde foro arrumado, prum pasto maiô, quando nois achô eze o sor já tava discambano pra dinoite, ma aí num teve jeito de vim só nun dia, hoje saimo da posada, na canturia dos galo inda tava iscuro .
-- Tá bão. Isidoro vai mostrá pra voismiceis o alojamento, e o lugá de lavá, mode tirá o pó da istrada, ma primero, Isidoro; tira os arreio dos animar lava os lombo deze vai butá mio no cocho, pra eze, cada um cuida de sua muntaria, dispois coceis se lavá, o Isidoro leva voismiceis lá na cuzinha pra qui inaça arruma o de cumê. Amanhã ieu mostro o sirviço de cada um doceis. Esse resto de semana os dois vai trabaiá na lida do curral e de sigunda fera in diente vamo vê o qui vai sê o trabaio difinitivo de cada um.
Passou o restante da semana sem que o coronel Certorio interferisse nos trabalhos de sua fazenda. Enquanto isso suas visitas ao sitio de Terencio prosseguiram na rotina de sempre. Com ele ausente a fase da lua já não era mais o problema, jurema o avisou que o marido só estaria de voltaria no sábado a tarde ou no domingo de manhã.
Terencio acatou a sugestão de Venâncio e deixou para domingo de manhã a ida à sua casa. Melhor mesmo seria subirem o rio juntos, levando em conta a pouca habilidade que possuía para lidar com canoa no rio. Embora mesmo sem experiência junto ao pistoleiro ele poderia morrer a qualquer momento, mas o inocente não sabia o risco que estava correndo.
Quando os galos amiudaram seus cânticos anunciando que a estrela d’alva estava duas braças acima do horizonte eles entraram na pequena embarcação e subiram o rio. Quando o sol deitou seus primeiros raios naquela paisagem de trilhas bordadas pelos rastros das juritis, inanbús e codorninhas, que fugiam dele aproximando de casa. A fumaça branca da chaminé no fogão de lenha de sua esposa subia em riste. E o delicioso aroma do café que acabara de passar espalhava pelos derredores. Uma duvida invadiu seu pensamento, seria um bom negócio trocar a paz daquela solidão silvestre pelo corre, corre da fazenda Bocaina?
--Bom dia Jurema como passou a semana?
-- Bom dia Terenço tô bem ma sinti muita farta muita sodade, maginei qui viesse onte acabô nun apareceu.
-- Ma ieu nun falei qui as veis ieu isperava pru Venâncio hoje pru mode qeu nun têm muito custume de remá canoa?
Ta bão, mió memo de que morrê afogado. Credo in cruiz nun gosto nem de lembra cumo morrero a isposa de coroné e de Nicó.
--Ah falano in Nicó voismicê nadivê qui quarta fera ele tava lá na casa de coroné Tiburcio prusiano cuele mais Dusanjo!
---Nun cridito voismicê tem certeza quera ele?
-- Bissuluta, inté prusiei cuele mode tê certeza falei cuele qui tinha qui butá isso no jorná!
--Ma vamo dexá isso pralá vamo lá pru chiquero mode cê vê qui berezura dos leitão qui nascero essa semana déis! Cada um mais bunito quiuoto, foi a porca quemada qui pariu e ieu achei qui ia pari primero a pintada, ma dessa semana ela nun passa i capais de sê do memo tanto se nun fô mais!.
--Se acaso voismicê vê coroné Certorio pur aí lidano cum gado voismicê pede pra ele falá cum Inaça pra nois, mode ela benzê os purquinhos qui nascero e os qui tão pru nascê tumem,inhantes de passá esses pescadô de zóio ruim e butá mau oiado neze.
Tá bão, ma coroné anda sumido, fais dia qui num vejo ele ma se vê ieu do o recado!
Terenço ficou super feliz com eficiência e o cuidado da esposa para com os seus animais os chiqueiros e cochos limpinhos todos muito bem tratados.
Enquanto isso lá no esconderijo o pistoleiro, preparou com muita sobra, seu almoço uma panelada de arroz e outra de peixes. Quando o coronel chegou já era meio dia ora da merenda. Uma vez que o costume na roça era sempre almoço as nove horas merenda ao meio dia e a janta duas horas a tardar muito as três da tarde.
--Bom dia Dentuço cumo passô a semana feis o sirviço?
--Bão dia coroné fiz um monte de sirviço a semana intera!
--Nun fais de disintindido não, tá mangano de mim ieu sô coroné Certorio já visse só ieu qui mando nessa terra pra i afora tudo! Voismicê mim respeite!
--Ah é, intonse fais o tar sirviço, o sinhô memo, coroné Certorio!
--Acuntece qui quem pegô a impreitada pur deis conto de reis foi voismicê qui é pistolero, ieu nun sô matadô iguá é voismicê nun sinhô!
-- Quem paga mode matá é pió de qui quem matá sabia disso, pur que quem mata as veiz nem cunhece a pessoa?
-- Vamo dexá de prosa vai ôh nun vai cumpri cua sua palavra?
- - Cadê a metade dos cobre cunforme foi tratado?
--Ah intonse é isso fartô os cobre ieu boto eze na sua mão dumingo qui vem?
--E cueze no borço ieu jogo o home na água e siguro ele cum o Reno inté ele morrê dispois ieu prendo o corpo nua coivara, mode voismicê mais a muié dele achá ele facim! Ieu levei ele mode trabaiá lá na Bocaina, nois ficá pralá pra cá de canoa i ieu tê mais chance de fazê o sirviço e ninguém mim butá a curpa. Achei qui fica mió de qui ele ficá aqui nesse iscunderijo suzinho. Ele inda num viu esse iscunderijo nois entra na canoa ali no rio de lá num dá mode ixergá aqui quando vem de tarde ieu tô lá pescano ele nem percebe.
Agora só pra o sinhô sabê qui tô cumprino cum nosso trato seu fio Nicó teve lá prusiano cum coroné Tiburcio e cua fia dele quarta fera e Terenço inté prusiô cuele tumém na hora quel foi simbora. O qui sei é qui ficô cumbinado dele mais Dusanjo casá assim qui acabá esse perrengue entre vossas famías.
-- Primero dentuço isso num acaba nem dispois quieu morrê e sigundo ele vai casá é cum a Quintina lá da serra do diamante.
Os dois home qui vai ajudá no prano quieu tem chegaro essa semana dumingo ieu vô te contá cumo vai cê. Agora mim passa ái uha cuia dexa ieu cumê do seu pexe qui omeno pra isso voismicê presta, sua bóia é danada de boa.
Enquanto comia o coronel afirmou que ia deixar Nicó na corda bamba administrando sua fazenda, ia apenas avisá-lo que sabia de tudo que estava acontecendo entre ele e filha do coronel Tiburcio.