O homem que sabia de tudo
Existia um homem que desde criança sabia de tudo. Tinha em sua mente a mais poderosa arma de apoio, pois confiava convictamente em seus pensamentos e julgamentos.
O homem cresceu. E como todo o ser humano, fez planos, amigos e arranjou um amor para chamar de seu. Foi vivendo a vida com o que a vida lhe oferecia: estudo, trabalho, família, etc. No entanto, este homem percebeu que a cada nível da vida que ascendia, as coisas ficavam mais difíceis; parece que tudo lhe cobrava mais sobre tudo: a forma como se relacionava, como trabalhava, como se relacionava com sua parceira, como mantinha a casa etc. E ele se perguntava como que o mundo todo parecia está contra ele. Parece mesmo que todos o odiavam e torciam para que ele caísse e perdesse tudo.
Quando alguém o olhava e observava seu olhar de pesar e cansaço e tentava lhe dizer algumas palavras para o ajudar, ele fugia, escapava. Pois desconsiderava o que iam lhe dizer, isso porque ele já sabia de tudo, pois como falei no início, ele sempre soube de tudo, e nada e nem ninguém poderia lhe oferecer algo novo ou mais certo.
Os anos se passaram e parece que todo o seu corpo estava em pânico, pois os problemas aumentaram, e tudo parecia um poço sem fundo. E então ele se questionava mais uma vez: Por que essas coisas estão acontecendo comigo? E a resposta não vinha, simplesmente. E como sempre, ele deixava escapar todo o dissabor da sua vida aos quatro ventos. Quem estivesse próximo sofreria as consequências.
Então, houve um momento, dentro de um poço fundo, que ele olhou para cima e enxergou o céu. E viu as nuvens e um azul limpo, magnifico e sem problemas. E ficou durante horas e horas fitando aquele pedaço de céu que a entrada do poço permitia. Sentiu uma pequena brisa entrar e sacudir os seus cabelos - aquilo foi como um refrigério para a sua alma. E então ele percebeu que não estava mais inquieto, estava sereno. E agora conseguia ouvir o que antes não ouvia e principalmente a entender que precisava ouvir.
Ficou ali ouvindo durante horas, o barulho dos pássaros que pairavam pelo céu; as arvores se mexendo, enfim, toda a sincronia da natureza que não pronunciava uma só letra, mas que falava na alma daqueles que sabiam escutar.
Foi então que o homem, sem ninguém para o escutar, disse:
_ Eu não sei de nada! Agora entendo o porquê de todo o meu sofrimento. Eu nunca permiti que ninguém falasse a mim, pois eu pensava que sabia tudo. Mas agora, contemplando e sentindo a natureza na pele, sei o quanto preciso aprender e o quantos tudo tem a me ensinar.
Apesar desse homem ter pessoas ao seu lado, ter trabalho e conviver com outras pessoas em sociedade, ele era uma ilha em sua mente. E nessa ilha ele era o rei e o juiz para tudo em sua vida.
Quando um homem sabe demais, perde o que poderia aprender se admitisse que sabe de menos.