O SONHO DE UM CORONEL MACHISTA 17º EPISÓDIO
O coronel Certorio retornou para casa ficando acertado que no domingo voltaria ao encontro de Dentuço. O pistoleiro fez sua mala e colocou na canoa junto aos materiais de pesca. Aproveitou o restante da tarde e desceu pescando rio abaixo na direção da fazenda Bocaina. Como sempre capturou uma enorme variedade de peixes.
Quando o sol acabou de esconder no horizonte banhando de ouro a franja do infinito. Dentuço amarrou sua canoa no tronco de uma arvore sangra d’água situada no barranco do rio. Com o saco de pexe nas costas ele subiu o pequeno aclive que dava acesso as palhoças do velho Miro.
-Boa tarde sinhô Miro vim lhe trazê mais pexe e dessa veis, in maió quantidade. Peguei bastante, hoje tava bão dimais mode pescá, os pexe vinha topá cua isca fora d’água de tanto qui tinha.
- Boa tarde sinhô Venâncio, qui bão qui voismicê veio tive prusiano cum coroné Tiburcio, ele falô mode voismicê i o percurá, quel tá memo, persisano contratá mais trabaiadô.
-Qui bão sinhô Miro, vô descê lá no rio e pegá a mala cuas minhas coisa, truxe ela se num tivesse o sirviço lavava pra trais, má cumo deu certo. Sinhô ta memo disposto aceita ieu morá aqui cum sinhô pur um tempo?
--Cunforme ieu disse onte voismicê é muito bem vindo! Ieu perciso tê cumo dividi cum argúem esse aperreio cá sulidão fais cumigo, suzinho nessa vida de riberinho a tristeza é pur dimais.
–Dentuço desceu para apanhar sua bagagem. O lus-cafus provocado pelo crepúsculo avançava lentamente, dando inicio ao belo espetáculo orquestrado pela natureza. O coaxar das rãs em coro com os murmúrios contínuos nas águas correntes e os animais silvestres de hábitos noturnos. Começavam sua jornada tornando lindo aquele cenário. Parelhas de marrecas selvagens subiam voando rasteiro rio acima numa velocidade incrível, bandos de patos e paturis disputavam com os biguás os espaços aéreos piando, nas alturas, num verdadeiro shwoo borboleteando com seus malabarismos. Sobre a verdejante mata, miríades de lacraias e vaga-lumes confundiam com a tela azul do infinito salpicado por milhões de estrelas no espelho cristalino refletido na água rio.
Na cabana do velho Miro o pistoleiro pode sentiu novamente o gostinho de um lar, coisa que o fez recordar o acolhedor carinho de mãe, que tantas vezes o acariciou em suas ligeiras passagens à casa materna. Após cada empreitada criminosa, que fez dele um fugitivo fora da lei, escondendo aqui e ali acobertado pelos coronéis. Enquanto ambos limpavam os peixes o velho perguntou:
--ondé qui voismicê tava pernoitando?
-- Indesde qui ieu parei pur essas banda, discubri ua lapa num sangrado do rio ajeitei lá ua porta de madera rolissa ficô ua moradia boa dimais, ma isso vai durá só inté o cumeço das inchente, num tem lugá mió num sinhô, ma quando o rio jugá água pra fora aí num dá mais mode agazaiá lá não.
--inhandes deu inveicê cumo tô agora pesquei muito pas banda desse rio acima, se fô no lugá qui tô imaginano, era pirtinho duma cabana de pescadô, ieu agasaiêi de chuva muitas veis nela, puracaso num tem lá essa cabana mais não se num tem, omeno sinar dela deve tê!
- Óia sinhô Miro aquilo tá um montão de cinza branca, arguém butõ fogo nela e parece qui num fais muito tempo num sinhô tem memo o sinar, ma ieu nun imaginava o qui era nun sinhô já tá inté nasceno argum pé de mamona lá aberano!
No dia seguinte logo cedo, ele dirigiu à sede da fazenda, o coronel Tiburcio já estava de pé, Prudêncio o levou até ele:
- Bão dia coroné ieu sô Venâncio o tar qui sinhô Miro falô pra voismicê, vim mode vê o sirviço!
-- Óia sirviço aqui é o qui mun farta. Tu é parente de Miro?
--Num sinhô. Sumo amigo, ieu vim pescano pur esse rio afora de veis inquando faço ua parada na pesca e trabáio nas fazendas ribirinha junto cus barranquero, dispois sigo infrente. Nasci pirtinho da nascente desse rio. Mim cunsidero cumo se fosse fio dele tumém, indesde qui pirdi pai e mãe cumecei a viver nas águas dele tirano meu sustento de dento dele. Foi assim qui cunhici sinhô Miro quexoso da vida de sulidão, arrisurvi Pará um poco e fazê cumpania prele certo tempo, se meu trabaio Fô de vosso agrado coroné posso inté demorá um poco mais puraquí, ieu faço quarqué tipo de sirviço.
-- Intonse na ora qui voismicê quizé pode cumeçá, pode vim qui Prudêncio te mostra o qui tem a fazê.
--Óia coroné pode sê agora memo ieu já vim cum dispusição pru trabaio!
-Intonse vá praquele casarão de ingenho perto da senzala e Tuma conta da Taxa de apuração da rapadura, voismicê tá prusiano qui fais de tudo, sabe fazê isso tumém? Sabeno vai pra lá qui Prudêncio tem muito qui fazê notros lado, ah diga pra ele falá pra Inhá Chica omentá o de cumê qui tem mais voismicê pra boiá tumem. Ah ia isqueceno de perguntá voismicê tem argum apilido?
-Tem sim sinhô, o povo da minha terra chamava ieu dentuço, mode os dente qui tem istufado, mainha ficava braba cusoto mode isso, má ieu nunca importei não-, pode chamá ieu cumo quizé.
-- Bão mió qui seja Venâncio, isso de dentuço fica pareceno nome de pistolero, e aqui é lugá de trabaiá in páis, num é lugá de nome qui leva agente pensá in bandidaje não. Voismicê intão vai trabaiá, mais tem ua coisa qui quero qui voismicê vai tumá tento disso, iscravo aqui é tratado cumo gente iguar a nois, nada de humilação cus meus cativos.
De fato o Venâncio como passou a ser chamado era um bom taxeiro e no final da tarde Prudêncio estava tecendo elogios ao seu respeito pelo belo trabalho realizado por ele. Então coronel o advertiu afirmando:
--Óia Prudêncio ieu tem pro voismicê o memo respeito qui tem pra memória de meus pais, má cus discunhicido qui aparece do nada cumo esse aí, é bão drumi cum ôio fechado Oto aberto, cunfiá discunfiano, e só dispois de cumê um saco de sal ô ua carga de rapadura junto vai sabê se é de cunfiança de verdade. Voismicê tem um coração de oro é meu mió conceiero, má toma tento disso. Vai divagá cu andor mode num dexá o santo quebrá cus trupicão cagente dá cu andado da prucissão.
-- Tá bão coroné intindi diriitinho o recado, só dispois de cumê junto um saco de sar ô intão sessenta e quatro rapadura nois vamo sabê quem qui é o forastero.
Na madrugada do dia seguinte, lá pras duas horas da manhã, os escravos responsáveis pela moagem da cana já estavam atrelando os bois no engenho. Pretête era um deles. Quando o sol raiou, outros escravos chagavam para se juntar aos madrugadores, que estavam concluindo a moagem da cana. Venâncio também assumiria o serviço de apuração das rapaduras. Mas ao passar perto do trilho circular formado pelos animais no entorno do engenho, o boi pretête avançou sobre ele, não o atingiu por um triz, não fora a corda que o prendia à almanjarra ele o teria atingindo em cheio. A partir daquele momento até a conclusão da moagem naquela manhã o animal permaneceu irrequieto, não tirava os olhos do galpão onde Venâncio trabalhava na apuração das rapaduras.
Os escravos surpresos com a atitude do animal comentaram com Prudêncio a respeito do acontecimento, ele os advertiu, a não comentarem a respeito do fato, pois desde o episodio acontecido no circo envolvendo o boi, o coronel Tiburcio proibiu qualquer assunto a respeito. Para que a magia e os atributos, que o envolvia não viesse a se espalhar na mídia além do municipio de Bom Jardim.
Mesmo assim sua fama correu o mundo, e as propostas vindas das grandes cidades e do reino eram constantes e tentadoras, querendo ou não o coronel, a fama do boi pretête atravessou fronteiras. Empresários circenses das mega companhias que só atuavam em grandes metrópoles, viajavam dias seguidos até o municipio do pequeno Bom Jardim na tentativa de adquirir o animal, mas por nada o coronel o venderia. A todos ele afirmava:
--Se querem ver o boi pretête numa arena de circo que venham até ele. Mas a cidade era pequena para suportar uma companhia de grande porte, e ficava o dito pó não dito.
Um belo dia enquanto aguardava uma diligência que o conduziria a cidade onde estava atuando, o proprietário de um grande e famoso circo que rodava as grandes capitais do país, esbarrou com o Tira Teima, narrando a um seu amigo e de infância, suas aventuras como toureiro, e contando em detalhes o episódio da jovem Dusanjo com o boi pretête, no humilde circo do Cencem. Ouvindo aquela narrativa, interessado no assunto o empresário o abordou perguntando:
-- Intão voismicê é toureiro?
-- Sim sinhô isso memo já trabaei in circo sim sinhô!
- Verdade o qui tá dizeno sobre o boi pretête qui virô lenda!
- Sim sinhô cunhici o boi e a deusa qui domô El no meio da murtidão cua cidade intera apraudino.
-- Voismicê é capais de me guiá até esse lugá?
-- Sim sinhô voismicê pode prepará as muntaria marca dia e hora, má é bão qui fique sabeno é longe pur dimais da conta!
-- Não importa me levando lá, vai sê bem remunerado. Se voismicê tivé dispunive pode vir comigo agora memo pru meu Circo hospeda lá, até eu ajeitar tudo para a viajem.
Tira Teima despediu do amigo feliz da vida acabava de ser despedido pelo Cencem e encontrou a sorte grande. Louvou e deu graças a Deus, além de ir conhecer uma cidade grande, onde jamais imaginou botar os pés, ainda alimentava a ideia de um novo emprego.
O coronel Certorio retornou para casa ficando acertado que no domingo voltaria ao encontro de Dentuço. O pistoleiro fez sua mala e colocou na canoa junto aos materiais de pesca. Aproveitou o restante da tarde e desceu pescando rio abaixo na direção da fazenda Bocaina. Como sempre capturou uma enorme variedade de peixes.
Quando o sol acabou de esconder no horizonte banhando de ouro a franja do infinito. Dentuço amarrou sua canoa no tronco de uma arvore sangra d’água situada no barranco do rio. Com o saco de pexe nas costas ele subiu o pequeno aclive que dava acesso as palhoças do velho Miro.
-Boa tarde sinhô Miro vim lhe trazê mais pexe e dessa veis, in maió quantidade. Peguei bastante, hoje tava bão dimais mode pescá, os pexe vinha topá cua isca fora d’água de tanto qui tinha.
- Boa tarde sinhô Venâncio, qui bão qui voismicê veio tive prusiano cum coroné Tiburcio, ele falô mode voismicê i o percurá, quel tá memo, persisano contratá mais trabaiadô.
-Qui bão sinhô Miro, vô descê lá no rio e pegá a mala cuas minhas coisa, truxe ela se num tivesse o sirviço lavava pra trais, má cumo deu certo. Sinhô ta memo disposto aceita ieu morá aqui cum sinhô pur um tempo?
--Cunforme ieu disse onte voismicê é muito bem vindo! Ieu perciso tê cumo dividi cum argúem esse aperreio cá sulidão fais cumigo, suzinho nessa vida de riberinho a tristeza é pur dimais.
–Dentuço desceu para apanhar sua bagagem. O lus-cafus provocado pelo crepúsculo avançava lentamente, dando inicio ao belo espetáculo orquestrado pela natureza. O coaxar das rãs em coro com os murmúrios contínuos nas águas correntes e os animais silvestres de hábitos noturnos. Começavam sua jornada tornando lindo aquele cenário. Parelhas de marrecas selvagens subiam voando rasteiro rio acima numa velocidade incrível, bandos de patos e paturis disputavam com os biguás os espaços aéreos piando, nas alturas, num verdadeiro shwoo borboleteando com seus malabarismos. Sobre a verdejante mata, miríades de lacraias e vaga-lumes confundiam com a tela azul do infinito salpicado por milhões de estrelas no espelho cristalino refletido na água rio.
Na cabana do velho Miro o pistoleiro pode sentiu novamente o gostinho de um lar, coisa que o fez recordar o acolhedor carinho de mãe, que tantas vezes o acariciou em suas ligeiras passagens à casa materna. Após cada empreitada criminosa, que fez dele um fugitivo fora da lei, escondendo aqui e ali acobertado pelos coronéis. Enquanto ambos limpavam os peixes o velho perguntou:
--ondé qui voismicê tava pernoitando?
-- Indesde qui ieu parei pur essas banda, discubri ua lapa num sangrado do rio ajeitei lá ua porta de madera rolissa ficô ua moradia boa dimais, ma isso vai durá só inté o cumeço das inchente, num tem lugá mió num sinhô, ma quando o rio jugá água pra fora aí num dá mais mode agazaiá lá não.
--inhandes deu inveicê cumo tô agora pesquei muito pas banda desse rio acima, se fô no lugá qui tô imaginano, era pirtinho duma cabana de pescadô, ieu agasaiêi de chuva muitas veis nela, puracaso num tem lá essa cabana mais não se num tem, omeno sinar dela deve tê!
- Óia sinhô Miro aquilo tá um montão de cinza branca, arguém butõ fogo nela e parece qui num fais muito tempo num sinhô tem memo o sinar, ma ieu nun imaginava o qui era nun sinhô já tá inté nasceno argum pé de mamona lá aberano!
No dia seguinte logo cedo, ele dirigiu à sede da fazenda, o coronel Tiburcio já estava de pé, Prudêncio o levou até ele:
- Bão dia coroné ieu sô Venâncio o tar qui sinhô Miro falô pra voismicê, vim mode vê o sirviço!
-- Óia sirviço aqui é o qui mun farta. Tu é parente de Miro?
--Num sinhô. Sumo amigo, ieu vim pescano pur esse rio afora de veis inquando faço ua parada na pesca e trabáio nas fazendas ribirinha junto cus barranquero, dispois sigo infrente. Nasci pirtinho da nascente desse rio. Mim cunsidero cumo se fosse fio dele tumém, indesde qui pirdi pai e mãe cumecei a viver nas águas dele tirano meu sustento de dento dele. Foi assim qui cunhici sinhô Miro quexoso da vida de sulidão, arrisurvi Pará um poco e fazê cumpania prele certo tempo, se meu trabaio Fô de vosso agrado coroné posso inté demorá um poco mais puraquí, ieu faço quarqué tipo de sirviço.
-- Intonse na ora qui voismicê quizé pode cumeçá, pode vim qui Prudêncio te mostra o qui tem a fazê.
--Óia coroné pode sê agora memo ieu já vim cum dispusição pru trabaio!
-Intonse vá praquele casarão de ingenho perto da senzala e Tuma conta da Taxa de apuração da rapadura, voismicê tá prusiano qui fais de tudo, sabe fazê isso tumém? Sabeno vai pra lá qui Prudêncio tem muito qui fazê notros lado, ah diga pra ele falá pra Inhá Chica omentá o de cumê qui tem mais voismicê pra boiá tumem. Ah ia isqueceno de perguntá voismicê tem argum apilido?
-Tem sim sinhô, o povo da minha terra chamava ieu dentuço, mode os dente qui tem istufado, mainha ficava braba cusoto mode isso, má ieu nunca importei não-, pode chamá ieu cumo quizé.
-- Bão mió qui seja Venâncio, isso de dentuço fica pareceno nome de pistolero, e aqui é lugá de trabaiá in páis, num é lugá de nome qui leva agente pensá in bandidaje não. Voismicê intão vai trabaiá, mais tem ua coisa qui quero qui voismicê vai tumá tento disso, iscravo aqui é tratado cumo gente iguar a nois, nada de humilação cus meus cativos.
De fato o Venâncio como passou a ser chamado era um bom taxeiro e no final da tarde Prudêncio estava tecendo elogios ao seu respeito pelo belo trabalho realizado por ele. Então coronel o advertiu afirmando:
--Óia Prudêncio ieu tem pro voismicê o memo respeito qui tem pra memória de meus pais, má cus discunhicido qui aparece do nada cumo esse aí, é bão drumi cum ôio fechado Oto aberto, cunfiá discunfiano, e só dispois de cumê um saco de sal ô ua carga de rapadura junto vai sabê se é de cunfiança de verdade. Voismicê tem um coração de oro é meu mió conceiero, má toma tento disso. Vai divagá cu andor mode num dexá o santo quebrá cus trupicão cagente dá cu andado da prucissão.
-- Tá bão coroné intindi diriitinho o recado, só dispois de cumê junto um saco de sar ô intão sessenta e quatro rapadura nois vamo sabê quem qui é o forastero.
Na madrugada do dia seguinte, lá pras duas horas da manhã, os escravos responsáveis pela moagem da cana já estavam atrelando os bois no engenho. Pretête era um deles. Quando o sol raiou, outros escravos chagavam para se juntar aos madrugadores, que estavam concluindo a moagem da cana. Venâncio também assumiria o serviço de apuração das rapaduras. Mas ao passar perto do trilho circular formado pelos animais no entorno do engenho, o boi pretête avançou sobre ele, não o atingiu por um triz, não fora a corda que o prendia à almanjarra ele o teria atingindo em cheio. A partir daquele momento até a conclusão da moagem naquela manhã o animal permaneceu irrequieto, não tirava os olhos do galpão onde Venâncio trabalhava na apuração das rapaduras.
Os escravos surpresos com a atitude do animal comentaram com Prudêncio a respeito do acontecimento, ele os advertiu, a não comentarem a respeito do fato, pois desde o episodio acontecido no circo envolvendo o boi, o coronel Tiburcio proibiu qualquer assunto a respeito. Para que a magia e os atributos, que o envolvia não viesse a se espalhar na mídia além do municipio de Bom Jardim.
Mesmo assim sua fama correu o mundo, e as propostas vindas das grandes cidades e do reino eram constantes e tentadoras, querendo ou não o coronel, a fama do boi pretête atravessou fronteiras. Empresários circenses das mega companhias que só atuavam em grandes metrópoles, viajavam dias seguidos até o municipio do pequeno Bom Jardim na tentativa de adquirir o animal, mas por nada o coronel o venderia. A todos ele afirmava:
--Se querem ver o boi pretête numa arena de circo que venham até ele. Mas a cidade era pequena para suportar uma companhia de grande porte, e ficava o dito pó não dito.
Um belo dia enquanto aguardava uma diligência que o conduziria a cidade onde estava atuando, o proprietário de um grande e famoso circo que rodava as grandes capitais do país, esbarrou com o Tira Teima, narrando a um seu amigo e de infância, suas aventuras como toureiro, e contando em detalhes o episódio da jovem Dusanjo com o boi pretête, no humilde circo do Cencem. Ouvindo aquela narrativa, interessado no assunto o empresário o abordou perguntando:
-- Intão voismicê é toureiro?
-- Sim sinhô isso memo já trabaei in circo sim sinhô!
- Verdade o qui tá dizeno sobre o boi pretête qui virô lenda!
- Sim sinhô cunhici o boi e a deusa qui domô El no meio da murtidão cua cidade intera apraudino.
-- Voismicê é capais de me guiá até esse lugá?
-- Sim sinhô voismicê pode prepará as muntaria marca dia e hora, má é bão qui fique sabeno é longe pur dimais da conta!
-- Não importa me levando lá, vai sê bem remunerado. Se voismicê tivé dispunive pode vir comigo agora memo pru meu Circo hospeda lá, até eu ajeitar tudo para a viajem.
Tira Teima despediu do amigo feliz da vida acabava de ser despedido pelo Cencem e encontrou a sorte grande. Louvou e deu graças a Deus, além de ir conhecer uma cidade grande, onde jamais imaginou botar os pés, ainda alimentava a ideia de um novo emprego.