O SONHO DE UM CORONEL MACHISTA 10º EPISÓDIO

Sonho de um coronel

Após tomar conhecimento das pretensões de seu filho Nicó a respeito de Dusanjo. Temendo que ele viesse atrapalhasse seu plano de vingança contra ela. O coronel Certorio tratou logo de arranjar um pretexto para afastá-lo da fazenda Morrinhos, organizou uma comitiva sob seu comando. Enviando-o juntamente ao capataz Barba Ruiva, Juca caveira, Pedro Banguela e alguns escravos. Numa missão de várias semanas. Viajaram para um de seus latifúndios mais longínquo situado noutro município. Tangendo vitelos desmamados, de seu rebanho bovino, que anualmente eram transferidos a outras fazendas de sua propriedade para serem recriados.
O capanga dentuço contratado por intermédio de Barba Ruiva estava para chegar à fazenda Morrinhos, e seria prudente que Nicó não tomasse conhecimento de sua presença, tampouco das negociações entre ele e seu pai.
Na fazenda Bocaina, tudo corria bem, por uma medida de segurança o boi pretête estava retido. Além de um excelente reprodutor. Também era o melhor puxador de almanjarra nos potentes engenhos existentes na fazenda. Mantido fechado no seu estábulo, desde o episódio circense. Ele tinha um tratamento vip e recebia de brinde o carinho e o cuidado de sua irmã de leite, sua malunga Dusanjo. Uma atitude acordada entre ela e seu pai na tentativa de evitar novos conflitos causados por suas escapadas amorosas, emprenhando vacas, pela vizinhança.
Dois dias após Nicó partir em comitiva a mando do pai, o jagunço Dentuço chegou à fazenda Morrinhos. Tão logo se apresentou, o Coronel selou dois cavalos e juntos embrenharam pelas matas fazenda afora. Para que ele mapeasse os pontos mais ermos e acomodasse num local adequado, um esconderijo sigiloso. Era intenção de o coronel manter o bandido afastado de seus escravos, permanecendo alheia, sem nenhum conhecimento dos poderes atribuídos a filha do coronel Tiburcio. No acontecimento em que seus três capangas terminaram amarrados uns aos outros.
Seu contato com os escravos poderia impedir que ele ao tomar conhecimentos do fato desistisse de executar aquela maligna empreitada.
Sem que nenhum de seus escravos, ou qualquer outra pessoa tomasse conhecimento da sua negociação com ele. O coronel o acampou numa velha cabana de pescadores, há tempos abandonada em plena mata virgem. Situada a margem do rio na divisa de suas terras com a fazenda Bocaina. Um local ermo, de difícil acesso, mas o trecho do rio era navegável, e de canoa alcançava com muita facilidade as lavouras do coronel Tiburcio cujo acesso â sede da fazenda era bastante acessível e movimentado por pescadores. O rio era caudaloso e avançava mata adentro com uma ânsia de mar doce.
Com suprimento suficiente para vários dias lá se instalou o bandido disfarçado de pescador. Descendo e subindo o rio, rapidamente o Dentuço foi se entrosando com inúmeros trabalhadores, barraqueiros e agregados do coronel Tiburcio. A pesca era farta e ele agradando a todos com seus pescados, em menos tempo do que o coronel Certorio previa o Dentuço já conhecia a movimentação de toda a piãosada e escravos que lá atuavam. Entusiasmado com sua capacidade, de se relacionar ele logo percebeu que tinha a seu serviço, não apenas um matador, mas também um bom olheiro, e afirmou ao capanga:
-- Voismicê ta me saíno bem mió qui a incumenda pelo quitoveno vai tumá o lugá de Barba Ruiva muito inhantes dele vortá cua cumitiva.
-- Oia coroné voismicê inda num viu nada, ieu vô fazê um sirviço sem gastá ninhuma bala e pode prepará istaca qui num vô ti levá só duas cabeça não, voismicê vai tê quantas cabeça quizè mais ieu priciso de tempo, dexa vosso fio vortá êl num pricisa sabê dieu, ondecotô, nin quem sô. Vamo divagá cu andado da carruage mode fazê tudo certo e na hora certa. Primero quero butà pexe fresco na mesa de vossos disafeto, a dispois vai sê um sirviço iguarzinho rastro de cobra nágua ninguém vê, e coroné pode prepará mode abarcá essas terras paí afora, qui vai tá tudo a venda gurica memo! Má pra isso coroné, voismicê num vai-me fartá cum nada incluino cu nosso trato. Daquela mucama neta de inaça qui levô café pra nóis lá no currá inhantes do coroné selá os cavalo. Daquela ieu nun vô larga mão, dijeito ninhum.

 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 28/08/2017
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