O SONHO DE UM CORONEL MACHISTA 8º EPISÓDIO
Na fazenda Bocaina a movimentação era intensa, estavam na fase mais trabalhosa, a colheita do café e do milho, uma labuta que não dava trégua aos escravos. O coronel Tiburcio se tornou numa exceção no mundo do coronelismo. Era um homem ainda jovem e muito generoso, tratava bem seus escravos com o respeito e a dignidade que todo ser humano merece. Os negros correspondiam a essa sua generosidade, no trabalho, com a maior boa vontade. Tudo ia muito bem, tanto na produção de cereais como na pecuária bovina, eqüina e suína. Fortalecendo a cada colheita seu patrimônio e solidificado suas financias.
O sonho por um filho varão ainda continuava, mas já não era mais uma prioridade obsessiva como no passado. Já não corria mais atrás de tratamentos para uma nova gravidez de sua esposa Maricota. Colocou essa possibilidade na mão de Deus e deixou a cargo do tempo que andava devagar deixando a vida ser levada.
Sua filha Dusanjo a cada dia o surpreendia em suas atividades colaborando tecnicamente na administração de sua mega fábrica rural. Todos que por lá passavam. Tanto os tradicionais cacheiros viajantes, como grandes empresários compradores da farta produção agrícola, da fazenda Bocaina, saíam de lá Impressionados com seu talento e eficiência. O tino comercial da jovem era inexplicável. Uma junção tão perfeita de beleza e talento. Será ela de fato uma mulher? Essa a pergunta que colocava em duvida todos que dela se aproximavam. Superdotada ainda em tenra idade, ela entendia de tudo, estava sempre muitos anos luz à frente de seu tempo. Era de fato um fenômeno. Decifrava os mais complexos problemas, criava métodos e formulas aumentando a produção e facilitando a mão de obra, de uma maneira nunca vista naquele mundo primitivo dominado pelo machismo dos coronéis. Época em que na concepção dos homens lugar de mulher era de umbigo colado no fogão e parindo filhos.
Inhá Chica e Prudêncio atribuíam o dom da jovem, ao seu primeiro alimento, ou seja, o colostro da vaca mimosa, ingerido por ela em sua primeira mamadeira preparado pela escrava, logo após seu nascimento. O coronel Tiburcio e a esposa Maricota não comungavam com essa teoria, mas também não discordavam do seu casal de escravos. Tinha por eles, um respeito mutuo. Pareciam mais como membros de sua familia, do que propriamente seus escravos, eram tão estimados e íntimos como foram seu pai o coronel Ataíde e sua mãe Maria das Dores falecidos ainda muito jovens, com menos de sessenta anos de idade. Casal que legou ao filho Tiburcio um coração generoso, o transformando num ídolo para seus escravos. Era o mais jovem latifundiário agraciado com a patente de coronel naquele sertão.
Sua fama corria pelos quatro cantos do município e pelas regiões circunvizinhas, provocando a inveja e uma ira de morte ao seu rival, o também latifundiário coronel Certorio. Que se servia de seu ódio letal para manter a divergência histórica entre os Vilela e Montenegro. Seu ódio era tamanho que ele proibiu terminantemente todo tipo de contato entre a escrava Inácia sua cozinheira da fazenda e Inhá chica irmãs de sangue que vieram de sua mãe África arrastadas pelo destino.
Ambas arrematadas junto aos seus maridos, leiloados por o traficante de escravos em um navio negreiro.
Por desventura a pobre Inácia teve a infelicidade de ser incorporada ao patrimônio do coronel Certorio arrematada por ele. Enquanto Inhá chica arrematada pelo coronel Ataíde teve melhor sorte.
Sofreram muito com essa proibição, dentre tantas outras barbáries injustas cometidas pelos senhores de escravos. Além de carregar na alma a saudade imensa de sua terra natal, as duas irmãs foram privadas de se falarem.
Desde o falecimento de coronel Ataíde, coronel Certorio que sempre manteve seu olho gordo no patrimônio dos Montinegro triplicou suas retaliações contra eles atingindo até mesmo seus próprios escravos que no passado se divertiam com seus costumes e suas tradicionais danças folclóricas trazidas sua pátria.
Nicó o filho do coronel Certorio, após assistir o espetáculo circense, aonde Dusanjo ao roubar a cena deu um verdadeiro shwoo. Enfeitiçado pela beleza mágica da guria filha do coronel Tiburcio, passou alimentar um sonho que lhe tirava o sono. Queria conhecê-la falar com ela se possível até cortejá-la.
Se dizendo temeroso com o que poderia acontecer com o ódio que seu pai nutria por ela. Com a desculpa de evitar uma tragédia maior, ele tentou uma aproximação por intermédio da relação de Inácia com a sua irmã Inhá Chica. Embora sabendo da proibição do seu pai a respeito das duas irmãs ele propôs levá-la escondida à sua irmã:
--Nicó meu fio, se vosso pai o coroné tumá tento qui voismicê me feis mensagera mode levá recado pra gente da famia Montenegro, ieu posso prepará minha mortáia vô sê marrada no tronco e morrê cas chibatadas do mardito Barba ruiva. E voismicê vai sê diserdado e pode isquecê qui é fio dele.
- Inácia meu pai nem pricisa sabê qui voismiceis se prusiaro, ieu memo te acumpanho, a gente finge qui ta ino na cidade comprar as ropas qui ieu tô pricisano. Indesde qui a difunta minha mãe se foi é voismicê qui cuida de nosso vistuário e ele sabe disso.
- Óia Nicó ieu tenho muito amor pur minha irmã, mais é pirigoso, disafiá coronè Certorio é memo qui colocá o pescoço na forca. Voismicê arruma outro jeito. Iscuita fio voismicê ta quereno o quê cua fia do coroné Tiburcio ieu posso sabê?
-- Inácia desde o dia qui ieu vi aquela flor lá no circo mun tive mais sussego, num cunsigo nem drumí direito, e pió é o ódio de meu pai qui tá quereno manda matá ela. Mais ieu num vô dexá mais é nunca!
Pois é meu fio larga mão disso, isquece. A paixão tumô voismicê disprivimido é coisa passegera, é fogo de paia acaba logo. Agorica memo esse trem passa voismicê arruma ua namorada do agrado e da vontade do vosso pai.
- Passa não Inácia ieu vô corrê o risco, o amor tem de cê é do meu agrado é pra mim. Num é pru coroné meu pai não. Vô infrentá ele, vô lá na fazenda Bocaina prusiá cum coroné Tiburcio, mim contaro quele é diferente desse monte de coroné besta qui tem isparramado pu mundo afora é ome iducado ele é poco mais veio qui ieu.
-- Isso é verdade quando ieu e Inhá Chica pudia prusiá ela me dizia o tanto quele é bão, qui lá escravo é tratado cumo gente, qui coroné num dexa tê judiação cum ninhum! Ah cumo ieu quiria tê um sinhô assim mode acabá cum tanto sufrimento e pinura!
--Fica triste não Inácia se um dia ieu fô seu dono voismicê vai ver cumo vai cê tratada quero cê Iguarzinho coroné Tiburcio um home generoso e tratá bem doceis tudo!
--Deus te ouça Nicó... Deus te ouça fio!
Na fazenda Bocaina a movimentação era intensa, estavam na fase mais trabalhosa, a colheita do café e do milho, uma labuta que não dava trégua aos escravos. O coronel Tiburcio se tornou numa exceção no mundo do coronelismo. Era um homem ainda jovem e muito generoso, tratava bem seus escravos com o respeito e a dignidade que todo ser humano merece. Os negros correspondiam a essa sua generosidade, no trabalho, com a maior boa vontade. Tudo ia muito bem, tanto na produção de cereais como na pecuária bovina, eqüina e suína. Fortalecendo a cada colheita seu patrimônio e solidificado suas financias.
O sonho por um filho varão ainda continuava, mas já não era mais uma prioridade obsessiva como no passado. Já não corria mais atrás de tratamentos para uma nova gravidez de sua esposa Maricota. Colocou essa possibilidade na mão de Deus e deixou a cargo do tempo que andava devagar deixando a vida ser levada.
Sua filha Dusanjo a cada dia o surpreendia em suas atividades colaborando tecnicamente na administração de sua mega fábrica rural. Todos que por lá passavam. Tanto os tradicionais cacheiros viajantes, como grandes empresários compradores da farta produção agrícola, da fazenda Bocaina, saíam de lá Impressionados com seu talento e eficiência. O tino comercial da jovem era inexplicável. Uma junção tão perfeita de beleza e talento. Será ela de fato uma mulher? Essa a pergunta que colocava em duvida todos que dela se aproximavam. Superdotada ainda em tenra idade, ela entendia de tudo, estava sempre muitos anos luz à frente de seu tempo. Era de fato um fenômeno. Decifrava os mais complexos problemas, criava métodos e formulas aumentando a produção e facilitando a mão de obra, de uma maneira nunca vista naquele mundo primitivo dominado pelo machismo dos coronéis. Época em que na concepção dos homens lugar de mulher era de umbigo colado no fogão e parindo filhos.
Inhá Chica e Prudêncio atribuíam o dom da jovem, ao seu primeiro alimento, ou seja, o colostro da vaca mimosa, ingerido por ela em sua primeira mamadeira preparado pela escrava, logo após seu nascimento. O coronel Tiburcio e a esposa Maricota não comungavam com essa teoria, mas também não discordavam do seu casal de escravos. Tinha por eles, um respeito mutuo. Pareciam mais como membros de sua familia, do que propriamente seus escravos, eram tão estimados e íntimos como foram seu pai o coronel Ataíde e sua mãe Maria das Dores falecidos ainda muito jovens, com menos de sessenta anos de idade. Casal que legou ao filho Tiburcio um coração generoso, o transformando num ídolo para seus escravos. Era o mais jovem latifundiário agraciado com a patente de coronel naquele sertão.
Sua fama corria pelos quatro cantos do município e pelas regiões circunvizinhas, provocando a inveja e uma ira de morte ao seu rival, o também latifundiário coronel Certorio. Que se servia de seu ódio letal para manter a divergência histórica entre os Vilela e Montenegro. Seu ódio era tamanho que ele proibiu terminantemente todo tipo de contato entre a escrava Inácia sua cozinheira da fazenda e Inhá chica irmãs de sangue que vieram de sua mãe África arrastadas pelo destino.
Ambas arrematadas junto aos seus maridos, leiloados por o traficante de escravos em um navio negreiro.
Por desventura a pobre Inácia teve a infelicidade de ser incorporada ao patrimônio do coronel Certorio arrematada por ele. Enquanto Inhá chica arrematada pelo coronel Ataíde teve melhor sorte.
Sofreram muito com essa proibição, dentre tantas outras barbáries injustas cometidas pelos senhores de escravos. Além de carregar na alma a saudade imensa de sua terra natal, as duas irmãs foram privadas de se falarem.
Desde o falecimento de coronel Ataíde, coronel Certorio que sempre manteve seu olho gordo no patrimônio dos Montinegro triplicou suas retaliações contra eles atingindo até mesmo seus próprios escravos que no passado se divertiam com seus costumes e suas tradicionais danças folclóricas trazidas sua pátria.
Nicó o filho do coronel Certorio, após assistir o espetáculo circense, aonde Dusanjo ao roubar a cena deu um verdadeiro shwoo. Enfeitiçado pela beleza mágica da guria filha do coronel Tiburcio, passou alimentar um sonho que lhe tirava o sono. Queria conhecê-la falar com ela se possível até cortejá-la.
Se dizendo temeroso com o que poderia acontecer com o ódio que seu pai nutria por ela. Com a desculpa de evitar uma tragédia maior, ele tentou uma aproximação por intermédio da relação de Inácia com a sua irmã Inhá Chica. Embora sabendo da proibição do seu pai a respeito das duas irmãs ele propôs levá-la escondida à sua irmã:
--Nicó meu fio, se vosso pai o coroné tumá tento qui voismicê me feis mensagera mode levá recado pra gente da famia Montenegro, ieu posso prepará minha mortáia vô sê marrada no tronco e morrê cas chibatadas do mardito Barba ruiva. E voismicê vai sê diserdado e pode isquecê qui é fio dele.
- Inácia meu pai nem pricisa sabê qui voismiceis se prusiaro, ieu memo te acumpanho, a gente finge qui ta ino na cidade comprar as ropas qui ieu tô pricisano. Indesde qui a difunta minha mãe se foi é voismicê qui cuida de nosso vistuário e ele sabe disso.
- Óia Nicó ieu tenho muito amor pur minha irmã, mais é pirigoso, disafiá coronè Certorio é memo qui colocá o pescoço na forca. Voismicê arruma outro jeito. Iscuita fio voismicê ta quereno o quê cua fia do coroné Tiburcio ieu posso sabê?
-- Inácia desde o dia qui ieu vi aquela flor lá no circo mun tive mais sussego, num cunsigo nem drumí direito, e pió é o ódio de meu pai qui tá quereno manda matá ela. Mais ieu num vô dexá mais é nunca!
Pois é meu fio larga mão disso, isquece. A paixão tumô voismicê disprivimido é coisa passegera, é fogo de paia acaba logo. Agorica memo esse trem passa voismicê arruma ua namorada do agrado e da vontade do vosso pai.
- Passa não Inácia ieu vô corrê o risco, o amor tem de cê é do meu agrado é pra mim. Num é pru coroné meu pai não. Vô infrentá ele, vô lá na fazenda Bocaina prusiá cum coroné Tiburcio, mim contaro quele é diferente desse monte de coroné besta qui tem isparramado pu mundo afora é ome iducado ele é poco mais veio qui ieu.
-- Isso é verdade quando ieu e Inhá Chica pudia prusiá ela me dizia o tanto quele é bão, qui lá escravo é tratado cumo gente, qui coroné num dexa tê judiação cum ninhum! Ah cumo ieu quiria tê um sinhô assim mode acabá cum tanto sufrimento e pinura!
--Fica triste não Inácia se um dia ieu fô seu dono voismicê vai ver cumo vai cê tratada quero cê Iguarzinho coroné Tiburcio um home generoso e tratá bem doceis tudo!
--Deus te ouça Nicó... Deus te ouça fio!