O SONHO DE UM CORONEL MACHISTA 5º EPISÓDIO

Na cidade Bom jardim não se falava noutra coisa, senão na estréia do circo, e nas qualidades do toureiro Cem-cem, que conseguiu uma fama momentânea, ao divulgar seu potencial, auto promovendo-se. Houve quem duvidasse que coronel Tiburcio liberasse seu boi de estimação para um espetáculo circense. A maioria não teve conhecimento que aquilo era armação de seu rival, coronel Certorio Vilela. para aperrea-lo publicamente.
Teve até banca de apostas, alguns torcendo pelo boi e apostando nele, outros botando fé no toureiro como se o conhecessem de longa data. Não faltou quem não fizesse sua fezinha, apostando.
Junto ao alojamento do circo ao fundo, numa jaula de madeira, com as piores condições de higiene, um pobre macaquinho amarrado pela cintura. Virou a atração da gurizada. Eles jogavam pedaços de doces a ale, que os apanhava sujo de terra corria até seu cocho de água suja e levava naquela lama imunda, antes de comer.
Ao presenciar tal sena, o alferes chamou a atenção do seu proprietário exigindo que o mesmo providenciasse a limpeza da instalação, e colocasse água limpa para o pobre animalzinho. Com pena de ter seu espetáculo suspenso. Ele acatou sua ordem. Diante dessa exigência efetuaram a limpeza e o bichinho ficou mais confortado.
Em fim chegou o tão esperado momento. A bilheteria do circo foi aberta. Com a praça repleta de gente. Cauteloso com a segurança pública, o alferes checou as condições das instalações e por precaução limitou um numero de ingressos a ser vendidos. O publico adentrou o circo. Lotadas as arquibancadas, a venda de ingressos foi suspensa. Já não cabia mais ninguém. Aglomerada no lado de fora ficou uma multidão ansiosa pelo espetáculo, mas na expectativa, com a promessa feita por Cem-cem de um novo espetáculo no dia seguinte.
Pessoas de zero a cem anos, de mamando a caducando, nenhum arredou pé do entorno do circo. Permaneceram todos na praça. Em sua maioria apostadores aguardando o resultado final do evento.
Até aquele momento ninguém havia deitado os olhos no boi, que por ordem do coronel Certorio fora colocado no tronco do circo, tangido por seu capataz, Barba Ruiva, altas horas da noite para que ninguém tomasse pé de sua armação. Desde então o coronel Certorio não teve mais noticia alguma do que poderia ter ocorrido com a missão confiada a seu capataz. A estréia circense estava marcada para o meio dia com o sol a pino.
Demonstrando muito nervosismo, Cem-cem e seu ajudante tira-teima andavam de um lado a outro da arena, e nada de dar inicio ao espetáculo. Já passava das treze horas, impaciente com a demora a platéia entoava em coro um refrão:
--Cadê o boi Cem-cem? Ele vem ou não vem? Solta o boi Cem-cem! E o espetáculo!Tem ou não tem?
Diante de tantos protestos e ameaças temendo por um linchamento, os dois toureiros amedrontados se refugiaram no alojamento, situado na area  externa  do circo ao fundo, lado oposto a sua entrada. Passaram por dentro do tronco vazio. Não havia boi coisa nenhuma. Inflamado  pela demora, o publico gritava pelo nome de cem-cem, repetindo sem parar, o refrão tem ou não tem, vem ou não vem, cadê o boi Cem-cem?
Eis que em dado momento um grande alvoroço tomou conta da praça, uma jovem montando o boi pretête, surgiu inesperadamente. Era Dusanjo, aplaudida, entre vivas palmas e gritos de boas vindas, pela grande multidão fora do circo. Escondidos espiando peias  frestas de sua barraca Cem-cem  e seu companheiro acompanhavam o seu trajeto tremendo e rezando.
Toda garbosa a jovem contornou o circo, passou pertinho do alojamento entrou pelo corredor do tronco e adentrou a arena.
Foi novamente aplaudida de pé, dessa vez pelo publico que ocupava as arquibancadas. Segurando em seus chifres ela deslizou pelo seu pescoço deu um leve beijo na sua cara, o deixou na arena, saltou a cerca e se colocou no meio da platéia, juntamente aos pais, sua ama de companhia, Inhá Chica e seu escudeiro, o escravo Prudêncio.
Alguns minutos se passaram a platéia silenciosa tentava entender o que estava acontecendo. Depois de certo tempo reaparecem os dois toureiros. Com seus pedaços de estofos vermelhos nas mãos.
Foram aplaudidos de pé, pela platéia julgando que tudo aquilo fazia parte do espetáculo. Só não sabiam que àquela altura, Cem-cem tremia, quase borrando nas calças, de medo do boi pretête.
Tira teima entrou na arena chamando-o para si, com sua capa vermelha, mas ele rapando a poeira do chão com as patas dianteiras, não atendeu, estava de olho no Cem-cem agarrado na porteira da entrada tremendo mais que vara verde.
Tira teima o insultou novamente. Ele avançou sobre ele, passou o chifre entre suas pernas e o atirou para o alto, voando por cima da cerca para  cair justamente aos pés do coronel Certorio, no espaço, situado entre a arena e as arquibancadas, nas cadeiras cativas ocupadas por ele e sua comitiva. A platéia foi ao delírio, alguém mais abusado um desafeto talvez, gritou: ---- segura coronel!  Este o presente que pretête lhe mandou!  Ele sacou sua pistola deu dois tiros para o alto exclamando:
--O engraçadinho que me desafiou, repita o que disse! Repita, repita que leva chumbo! O silencio foi total ouvia-se apenas os gemidos do tira teima, todo esfolado e cheio de hematomas, e a fungueira do Cem-cem em cima da cerca, com o boi vigiando. Nicodemos Vilela Neto, filho único do Coronel Certorio, que atendia pelo apelido de Nicó, compadecido, amparou o toureiro ferido o conduzindo para ser medicado numa farmácia, nas proximidades da praça. o Coronel Certorio extremamente autoritário, querendo dar a volta por cima e chamar atenção do publico. Foi até a arena encostou-se à cerca, o pretête baixou a guarda que fazia ao cem-cem, e voltou contra o ele, deu uma cabeçada tão grande na cerca, no local onde ele se encontrava,, que,  com o impacto o atirou junto às cadeiras cativas, A platéia não deu um pio se quer o homem já levantou de pistola na mão, exigindo que o Cem-cem cumprissem seu papel, e fizesse o trabalho propagado por ele pelos quatro cantos da cidade. —Vamos Voismicê num diz ser o melhor toureio do mundo? Enfrente o boi faça jus ao dinheiro que arrecadou!
Ai a platéia quebrou o silencio e gritava: - e agora Cem-cem pega o boi, ou o chumbo vem? Mas o boi parecia possuído impossível de ser dominado.

(imagem do googlo)
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 24/07/2017
Reeditado em 01/09/2017
Código do texto: T6063177
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