O MATUTO E O CRUCIFIXO

O homem foi criado na roça, apesar de não saber ler e nem escrever, carregava sempre consigo um pedaço de papel amarrotado e um lápis, quando questionado dizia que era para anotar as coisas pois não conseguia guardar tudo o que via na memoria, meras desculpas pois na realidade apenas sabia muito mal desenhar o nome ou algumas letras que não fossem muito grande. Verdade e que era um matuto do sertão, não atinava para as coisas modernas, vinha ao povoado de vez em quando sempre metido num surrado terno de linho branco, apenas comprava o precisava e já voltava para o aconchego de seu casebre.

Vai dai que certo dia, acompanhando o sitiante seu patrão, foi a casa de um figurão da cidade, advogado, um homem de muitas posses e dinheiro e que vivia num linda mansão, ao adentrar no casarão, o caboclinho ficou de queixo caído, mas o que o deixou deixou maravilhado não foi o luxo e sim um lindo objeto pendurado na parede da sala.

Humilde com o era, não confidenciou com ninguém a sua impressão mas no intimo fez o proposito de comprar para seu rancho um peça igual aquela, logicamente que não precisaria ser tão luxuosa, pois com certeza custaria o olho da cara, mas algo mais modesto e para isso foi ajuntando seus tostões até que tempos depois ficou sabendo que um conhecido ia até Aparecida do Norte, é bom lembrar que sempre as pessoas faziam pedidos aos romeiros que iam ao Santuário de Aparecida, sobretudo produtos religiosos, assim o rapaz matutou, matutou e resolvido, pegou suas economias e foi pedir ao romeiro que trouxesse um objeto igual àquela da parede da casa doutor fulano de tal.

O romeiro quis saber mais detalhes sobre o objeto e por mais que insistisse o homem não sabia o nome da tal coisa e no seu jeito rude de ver as coisas, tentando explicar apenas informou:

___ Num sei o nome daquilo não sio! Só sei dizê pro Sinhô qui parece um malabarista.

Ainda sem entender nada o romeiro exclamou:

___ Um malabarista!

Num sorriso avergonhado o caboclinho respondeu

___ Sim Sinhô, um malabarista dependurado num pedaço de madeira

E criando coragem, retirou do bolso da calça um papel amarrotado entregou pro romeiro e continuou.

___ Oiá aqui, bem em cima da cabeça dele tinha esta letra.

E ainda se justificou:

___ Enquanto o patrão conversava com o doutor , eu copiei, acho que é dessa marca!

E no papel amarrotado entregue ao romeiro estava desenhado a lápis a palavra INRI.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 09/06/2017
Reeditado em 09/06/2017
Código do texto: T6023194
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