TOTONHO E SEU TRATOR

Totonho tinha um pequeno sitio de alqueire e meio, o que mormente dava para ter sua vaquinha de leite e sua mula nobreza, as galinhas, seu porquinho de engorda e quando o tempo corria bem, garantia o milho pros bichos e o arroz e feijão pros dois barrigudinhos, pras demais necessidades, trabalhava por dia para os sitiantes vizinhos e apesar de não faltar serviço, Totonho não trabalhava aos sábados e domingos de jeito nenhum, o domingo por ser dia santo e o sábado era dia reservado para ir à cidade arriscar a sorte no jogo do bicho, uma contravenção a bem da verdade, mas o homem era tão viciado neste bendito jogo, chegando ao ponto de perguntar as pessoas os sonhos para fazer sua fezinha até que um certo dia acabou tirando a barriga da miséria, se por sorte ou por insistência, não sabemos.

Dinheiro no bolso, Totonho decidiu comprar um velho trator para arar terras aos sitiantes vizinhos, era época em que a mecanização estava começando a tomar conta do sertão e eram poucos que tinha um trator para preparar a terra, a maioria ainda fazia no arado de tração animal, ou por cavalos ou por juntas de bois, porem o trabalho, alem de pesado, demorava muito para preparar um alqueire de terra, coisa que o trator fazia o dobro em um dia se não houve interocrrencias, assim Totonho ficou muito conhecido e serviço era o que não faltava.

De posse do trator, o que ele chamava carinhosamente de “meu estrator” começou a arar terra, hoje para uma pessoa, amanhã para outra, enfim tinha uma fila de espera danada, visto que na época era o único que prestava este tipo de serviço naquela região.

Vai daí, que certo dia um sitiante tendo pressa de preparar suas terras sugeriu a Totonho que trabalhasse também a noite, assim poderia preparar mais alqueires de terra por dia o que agradaria os sitiantes, pois com a chegada da temporada de chuva, todos estavam com as terras prontas para o plantio, e ele, o Totonho tratorista, ganharia mais dinheiro.

O loroteiro do Totonho, tirou o velho cigarro de palha de traz das orelhas, acendeu, deu uma tragada e um cuspida no chão, soltando fumaça por entre as ventas, manteve um instante de silencio como que estivesse pensando na proposta e logo mandou sua resposta um tanto quanto exótica:

__ O Sinhô sabe que até podia mesmo. Acontece que dias destes fui arar terra pro Bentos, uma quiçaça impestiada de cobra que só Sinhô vendo, pois num é que vi quando uma danada de uma cascaver cravo os dente na roda do meu estrator que por poco não precissei para o trabaio. Sai do roçado, desci, pequei a truquesa na caxa de ferramenta e acabei arrancando mais de quinze dente de cobra da roda do meu estrator. O Sinhô sabe qui até foi bom isso, dizem que quando as cascaver morde a gente, um dos primeiro sintomas é deixar a pessoa cega e num é que depois deste dia comecei bota reparô, e pois num é que é verdade memo, oia pro Sinhô vê, desde aquele dia meu estrator queimou o faror que não há meio de lumia de noite. Sinhô acha qui pode umas cosias dessas?!?.

Mas trabalha de dia ele já não gostava, na hora do sol a pico, encostava a maquina debaixo de uma sobra com a desculpa de refrigerar o motor e ficava esperando o frescor da tarde para terminar a tarefa, imaginem se o Totonho iria trabalhar a noite!

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 28/02/2017
Reeditado em 28/02/2017
Código do texto: T5926689
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