Abrindo porteiras
O Major (apelido do chefe do dono do campo) riscava o chão com um galho de chirca seca, enquanto o restante da turma planejava como recolher o gado. O galpão era pequeno e estava entulhado de arreios por todos os cantos. Dois cuscos, sonolentos, demonstravam não estar interessado na conversa. O Tabuão, com uma das pernas da bombacha arremangada e calçando uma bota de couro sem curtir, gesticulava e falava alto afirmando que logo cedinho já estaria com gado na mangueira, fato que não havia consenso e, portanto gerava discussão.
No outro dia, antes do sol sair, a turma já se movimentava. Num canto do rancho, o Tabuão, agachado, entulhava a fornalha do fogão com palha de milho, chirca e algumas achas de lenha. Sobre o fogão, uma única chaleira de ferro encoberta pela fumaça que saia das frestas da chapa, guardava a água para o chimarrão. Aparentemente nervoso, o Major com uma cuia de porongo na mão e uma bomba entre os dedos, aguardava o momento de iniciar o mate. De plantão, os cuscos latiam acusando que o dia seria diferente.
Gado reunido, peões à postos e sol despontando, marcava, sem qualquer palavra, que era hora de partir. O Tabuão com um palheiro no canto da boca conduzia o cavalo malacara de um lado para o outro. Mais adiante, o Major esperava na porteira.
Ao lado do banheiro, o irmão do Major já aguardava para conduzir o gado para um mangueirão de pedra. Gado encerrado, a peonada apeia, amarram os cavalos embaixo de um álamo e cumprimentam o restante da família, enquanto a cachorrada rosnava em breves reconhecimentos.
O Tabuão estalando um relho trançado conduzia a primeira leva de gado para banhar. Ao autor deste conto, o Major havia delegado a responsabilidade de trancar com um pique de cambará o primeiro animal do brete e de fazê-los mergulhar no banho com o uso de um comprido galho de árvore com uma forquilha na ponta. No outro lado do banheiro, à pé, o Major e o irmão liberavam o gado para um piquete e já aproveitavam para trocar informações sobre a bicharada.
De chapéu na mão, demos um até mais ver e seguimos abrindo porteiras.