A PRISIONEIRA
Logo que me casei fui morar em um pequeno condomínio. Alugava um apartamento em frente ao meu, um jovem casal, Walter e Rita, que ali vivia com sua filhinha Ana Lúcia.
Durante alguns meses tudo no meu andar parecia correr bem, até que começaram as brigas do casal que foram ficando cada vez mais violentas, com troca de palavrões, xingamentos, barulho de coisas sendo quebradas e, talvez, até violência física, o que não vi porque tudo acontecia entre quatro paredes.
O marido era representante comercial e viajava constantemente, se ausentando do lar por vários dias. Passado um tempo, comecei a ver um sujeito estranho frequentando o apartamento na ausência do morador. Ficou evidente que a jovem e bela vizinha tinha um amante. Mas, pensei: não tenho nada com isso. E a vida seguiu seu curso, até que ela deixou o apartamento com seus pertences, depois de uma discussão feroz.
Foi embora, porém sem levar a menina, que ficou com o pai. Walter deixava a garota na casa de sua mãe cada vez que precisava viajar. Cerca de um ano transcorreu e, para nossa surpresa, outra mulher passou a habitar o apartamento. Walter havia encontrado uma segunda companheira. Chamava-se Hosana. Não era bonita como a primeira, mas educada e simpática. Usava um cabelo bem comprido e vestia-se sempre com saias longas. Imaginei que fosse evangélica. Logo ficou grávida e deu à luz um menino.
A família estava novamente composta: pai, mãe, filho e a menina do outro casamento. Um belo dia, ao voltar do trabalho, notei algo estranho na porta do meu vizinho. Walter chamara um chaveiro para furar a porta e instalar uma grossa corrente com um cadeado. Agora, cada vez que viajava, a mulher e as crianças ficavam presas no apartamento. Hosana não podia sair para nada e, aparentemente, aceitava esta situação humilhante e vergonhosa.
Quem se rebelava contra esse fato era eu que não podia conceber tamanha desfaçatez. Cogitei denunciar, mas pensei: “ em assuntos de marido e mulher, não se mete a colher”. Não interferi. Hoje penso diferente, faria uma denúncia, que até poderia ser anônima, à delegacia da mulher, entidade que foi criada muito depois deste episódio.
Minha indignação terminou quando compraram um apartamento próprio e mudaram. Certamente, a situação não se alterou, mas eu fiquei contente por não mais ter que presenciar esse ato infame.