205 – O FILHO AMALDIÇOADO...
Das vezes a gente se reúne em uma praça que existe em frente a minha casa, e junta gente das mais variadas classes sociais, e os assuntos quase sempre é sobre o futebol, a política ou algum outro acontecimento marcante.
Eis que um dos participantes deste congraçamento passou a mão pelo queixo, suspirou fundo, e destramelou a língua!
– Pessoal hoje eu vou contar pra vocês um causo que se passou lá no tempo da minha mocidade, quando eu era da polícia militar e sempre trabalhava em cidades próximas à nossa, mas vejam bem o que aconteceu, nos dias de folga da corporação eu visitava meus pais que moravam nesta cidade, minha mãe era implicada comigo, não aceitava que eu adentrasse em sua casa com o uniforme da polícia, ela era religiosa, mas muito religiosa, acreditava em tudo que lhe diziam, para ela militar era coisa do diabo, que espancava, que judiava, que maltratava, que matava, não era coisa de Cristo!
Nas últimas visitas eu notei que meu pai estava um tanto cabisbaixo, entristecido, no particular perguntei a ele o que estava acontecendo! E ele foi logo desabafando:
- Que amiúde eles estavam recebendo a visita de um pastor de determinada igreja, que este benzia, que pregava a palavra do Senhor, mas estava achando ele muito entrão, muito faceiro, muito lambido, cheios de gracinhas, e que estava com muitas intimidades com a sua mãe!
E eu falei pro meu pai:
- Expulsa ele daqui, manda ele ir catequizar lá nos quintos do inferno!
Meu pai que era um homem muito tímido, posso dizer até medroso, abatido ele me disse que aquele homem era muito poderoso, que ele espantava até o satanás, quebrava o mau olhado, tirava quebrante, e que repelia outras tantas estripulias do tinhoso! A que eu respondi:
- Deixa comigo, vou resolver esta parada do meu jeito, e vai ser rápido!
No outro dia no horário do almoço como sempre apareceu o dito pastor, sapatos bem engraçados, camisa social, engravatado, com a costumeira lábia e com a bíblia na mão!
– Paz de Deus irmãos! Disse ele.
Ao que fui logo contradizendo-o:
- Moço espero que esta seja a última vez que eu te encontro nesta casa, se te encontrar aqui mais um vez, a coisa não vai ficar boa, não sei se para mim ou para o senhor, mas a coisa não vai ficar boa mesmo, e quem avisa amigo é!
E minha mãe completamente transtornada maldizia o dia em que ficara grávida de mim, que eu era da família do Judas que crucificou Jesus, que eu tinha problemas na cabeça, que o pastor perdoasse a minha grosseria! E ele calmamente respondeu:
- Assim como Jesus sofreu neste mundo, nós também estamos prontos para sermos sacrificados por pregarmos a palavra do Senhor!
O Pastor era mesmo um cara de pau, apesar de toda desfeita ele almoçou, recolheu o dízimo e partiu, na sua saída voltei a adverti-lo:
- Moço se eu te encontrar aqui outra vez a coisa vai ficar feia, mas muito feia mesmo!
E ele partiu com aquele ar de santo, como que tudo o que eu falei tivesse entrado por um ouvido e saído pelo outro, mas eu matutei, me aguarde, no nosso próximo encontro a cobra vai fumar, ah se vai!
- O dia passa, o tempo passa, e numa daquelas folgas do meu trabalho na polícia, fui visitar meus pais, imaginem quem eu encontrei na sala?
Isto mesmo, o pastor em carne e osso, ele estava sentado em uma cadeira, minha mãe ajoelhada aos seus pés, ele com uma mão sobre a cabeça da minha mãe e a outra segurava a bíblia, e em altos brados para me impressionar:
- Saí satanás, em nome do senhor eu ti acorrento e te levo para as profundezas do inferno, deixa esta pobre penitente em paz!
Na hora me senti como que estive em meio ao um braseiro, me queimava o rosto e os pelos dos meus braços arrepiaram, estava completamente transtornado pelo ódio que sentia daquela criatura! Fui até o meu quarto, em cima de um velho guarda-roupa, eu tinha guardado um cassetete daqueles de tamanho família, agarrei o cassetete com toda fúria e fui até a sala, e o pastor ainda estava de olhos bem fechados com a mão sobre a cabeça da minha mãe, eu estava completamente alterado, aquela raiva fez a minha força dobrar, triplicar, levantei o cassetete pro ar e desferi um violentíssimo golpe nas costa do representante do Senhor, na pancada ele gemeu alto, fungou, faltou o ar, e deixou a bíblia cair no chão, e se entortou todo, na segunda pancada ele já estava contorcendo no chão, tinha mijado nas calças de tanta dor, foi rolando em direção da porta de saída, mas eu consegui alcançá-lo com o meu cassetete, na terceira pancada, já nas proximidades do portão de entrada da nossa casa eu senti um cheiro de merda, isso mesmo, cheiro de merda pura, o cara tinha mijado e pelo jeito tinha jogado o barro das tripas pra fora de tanta dor, a todo custo ele conseguiu escapulir para a rua e eu gritava:
- Cai fora satanás, no nosso próximo encontro um de nós vai comer terra!
Meu Pai não me disse nada, nem me repreendeu, mas senti que ele estava agradecido e feliz, mas minha mãe me amaldiçoou de mil maldições, para encerrar o assunto, abreviei a minha estadia na casa dos meus pais, na saída a minha mãe recusou o meu beijo de até logo, mas eu todo feliz saí dizendo:
- Mãe! No próximo domingo prepara aquela macarronada com aquele queijo mineiro esfarelado por cima, que virei para o almoço!
Ela nada respondeu, nem quis me estender a mão no abençoar, fui embora imaginando se ela iria mesmo preparar a sua famosa macarronada para o seu filho amaldiçoado!
*O pastor nunca mais apareceu na casa dos meus pais, nem para buscar a sua bíblia que na pressa ligeira ele esqueceu!