A ENXURRADA E OS PEIXES DA LAGOA
Era mês de janeiro, chovia muito na região e naquela tarde a venda estava cheia de caboclos, todos lavradores da região que entediados por não ter como trabalhar por causa da chuvarada, recorreram a venda na verdade mais para prosear e tomar algumas doses da branquinha, do que para comprar algo e a prosa ficou boa de vez quando chegou o Dito Manco
Só para conhecer, o Dito Manco era um caboclo que possuía uma pequena propriedade na região, a casa ficava a beira de um grande açude onde se sabia ter muitos peixes e de onde ele tirava parte do sustento da família, ele era muito conhecido por duas características, sendo a primeira física, pois dizem que quando era crianças teve paralisia infantil que o deixou como sequela, uma perna menor que a outra, o que não o impedia de deambular porem caminhava sempre mancando, ai a alcunha de Dito manco e, a outra característica marcante do homem não era física, ele era um loroteiro de mão cheia e onde ele chegava sempre saia alguma mentira das boas, por isso com a sua chegada, o ambiente se alegrou e a coisa ficou melhor quando Seu Mané, como todo bom vendeiro, puxando conversa perguntou
__ Choveu muito por lá Dito?
A resposta veio de imediato:
__ Seu Mané, nem ti conto homem de Deus, esta noite choveu tanto, mas tanto que até parecia que o homem lá de cima tava derrubando água com um pote e hoje, logo que me levantei da cama, olhei pra fora, a enxurrada que descia do espigão e que passava ali, bem na porta de casa, era tanta que dava até medo, mais fiquei abismado mesmo foi que vi, Seu Mané do céu, até chamei a patroa pra ser testemunha daquele espetáculo da natureza, os peixes da lagoa, as traíra, tilápia, pacu e ate os lambarizinhos, era um cardume só, na maior festa, subindo enxurrada arriba, pode ser uma coisas desta, siô!
Enquanto todos caíram na gargalhada, ele entornou o lavrado com a cachaça que o vendeiro lhe serviu, e com calma de caboclo concluiu como sempre:
__ E se vocês estão duvidando, podem perguntar pra patroa!