O Uninho

Existe uma praça em determinada cidade que atrai todo tipo de entidade. Lá não tem uma pessoa normal e coisas absurdas e inexplicáveis acontecem toda noite. Há sempre música ao vivo embalada pelos aspirantes a violeiro e às vezes até banhistas se refrescando na água da fonte.

Havia uma turma que frequentava lá todo final de semana. Apenas jogando conversa fora e tal, analisando as coisas fantásticas que ali acontecia, mas uma delas começou a chamar a atenção do grupo.

Todas as noites, um carro Uno de cor cinza passava dando voltas na praça. Mas não era uma volta. Eram duas, três, quatro, cinco e perdia-se a conta. A galera ficava entretida em uma conversa e quando nem notava o carro já estava circulando a praça, com um homem adulto sozinho no banco do volante olhando para eles. A galera começou a ficar encucada com essa situação e apensar observava. Alguns tentavam contar mas perdiam a vontade depois da vigésima volta.

Após uns três meses com isso acontecendo todo final de semana, o grupo começou a se preocupar. Imaginavam que era um estuprador esperando eles irem embora para pegá-los. Um assaltante querendo roubá-lo. Um agente secreto da polícia investigando o local... as opções não acabavam.

Um dia, entediados, o grupo de jovens resolveram sentar-se na calçada e começar a fazer uma ola a cada vez que o carro passava. Começou com “uuuummmmm”, “dddoooooissss”, até cerca do dezessete e o motorista não parou nem mostrou sinal de incomodado com aquilo. O rodízio do carro continuava e o pessoal não sabia mais o que fazer com aquilo, até que um dia resolveram apelar e resolver aquilo de uma vez e matar a curiosidade.

Quando o carro finalizava a volta, os jovens corajosos decidiram bloquear a rua. Fizeram uma fila humana de um lado do passeio até o outro e ficaram parados lá. Lógico que uns dois galinhas saíram correndo na hora H, traindo o bando, mas alguns ficaram e o carro simplesmente parou ao avistar aquela manifestação. Um rapaz do grupo, mais educado e sem vergonha na cara,aproximou-se do motorista e deu a real:

- Olá! Aqui, nós estamos morrendo de curiosidade. Você poderia explicar por que você dá tantas voltas nessa praça?

O motorista, apresentando-se ser uma pessoa muito humilde, fala com uma voz cansada e sofrida.

- É que meu filho não dorme de maneira alguma. Somente quando eu ando com ele de carro é que ele pega no sono.

Dava para ver as olheiras e o cansaço no rosto do motorista. E no banco de trás, uma criança com cerca de um ano e meio (deveria ter uns seis meses já que ele passeava em círculos pela praça) repousava em uma cadeirinha especial.

O grupo ficou muito sem graça por julgar a intenção do homem e depois acabaram conversando com ele. Ele lamentou o tanto que gasta de gasolina por mês tendo que dar voltas e voltas noturnas pela praça com o menino e o quanto ele perde de sono toda noite. Os jovens apelidaram o menino de Uninho e o motorista acabou gostando e disse que vai contar essa história para ele depois que a criança crescer.

O grupo pediu desculpas por fazer tanto barulho com as olas uns dias atrás, visto que isso deve ter feito muito barulho e atrapalhado o menino a dormir, e todos voltaram depressivos para a praça. O carro continuou passando por mais um bom tempo e quando o grupo um dia menos se deu conta ele sumira para sempre. Todos ficaram feliz, pois era sinal que o motorista finalmente conseguiu dormir a noite.

Lalinho
Enviado por Lalinho em 09/03/2016
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