Facada de despedida

Era um dia comum e pacato para o jovem Lúcio, exceto pelo fato do dia ser uma noite fria e ele estar sentado atrás de um balcão de um hospital cinco estrelas trabalhando. Por causa desta quantidade de astros, poucos pacientes iam pra lá e só quem tinha carteirinha era autorizado a ter um atendimento médico rápido, eficiente e de qualidade.

Lúcio tinha vários amigos que, perambulando pela noite, passavam na porta do hospital para conversar e fazer um pouco de companhia para este jovem solitário que só convivia com doentes, enfermeiras e bêbados que vagavam pelas ruas. A piadinha mais comum feita por eles era chegar ao hospital fingindo uma convulsão ou um coma alcoólico e raras vezes uma péssima atuação de uma perna quebrada.

Porém certo dia, um colega chamado Jamil chegou e com uma voz calma disse:

- Ou, tem um médico aí? Chame ele pra mim porque eu tomei uma facada.

Lúcio agiu normalmente como sempre fazia com as piadinhas dos amigos e já foi dizendo:

- Você tem convênio ou plano de saúde? Se não tiver some daqui.

- É sério soh - e Jamil pressionava suas duas mãos contra a sua coxa - aquela louca me deu uma facada!

Lúcio se levantou para ver melhor através do balcão e quando viu a perna do amigo só enxergou aquele monte de sangue vermelho e grosso escorrendo da sua bermuda até seu tênis. Rapidamente, e sem questionar nada, o recepcionista chamou o médico e enviou o seu amigo para o ambulatório. Nisso chegam dois amigos de Jamil, Paulo e Alex, já chorando de rir do caso.

Eles explicaram que estavam na festa de despedida de uma amiga chamada Marisa, pois a mesma estava se mudando para Pernambuco com a família e que em uma brincadeira de mau gosto, Jamil acidentalmente pôs a mão na bunda de Marisa, e esta, em reação espontânea, usou a faca de serrinha que ela manuseava para cortar a panqueca para furar a coxa do seu amigo.

Minutos depois chega Marisa chorando no hospital, pedindo desculpas e desorientada por ser uma quase assassina. Ela pediu o telefone emprestado para Lúcio e ligou para o seu pai. Quando o pai de Marisa atendeu, a garota disse, ao som de vários gaguejos:

- Pai, eu dei uma facada no Jamil!

Lúcio, Paulo e Alex perderam as forças e caíram no chão de tanto rir. O desespero da garota era tão grande que ela nem se preocupou em dar a notícia de forma suave. Ponto vai, ponto vem, enquanto o médico costurava o buraco na coxa de Jamil, Lúcio teve que cumprir com suas obrigações e acionar a polícia para fazer um boletim de ocorrência sobre o caso.

Enquanto a polícia não chegava, Jamil começou a ficar cansado devido à perda de sangue e estava sem forças para mexer qualquer um de seus músculos. Seus amigos aproveitaram a chance para fazer o que os verdadeiros companheiros sabem fazer de melhor: zoar.

Seus trajes tiveram que ir para o lixo devido a grande quantidade de sangue escorrido e apenas uma toalha cobria as suas vergonhas. Seus amigos começaram a puxá-la ameaçando expô-lo como veio ao mundo para toda ala hospitalar. O garoto não tinha energias nem uma faca pra se defender e só restava implorar por sua dignidade.

Pouco depois, os policiais chegaram e começaram a interrogar sobre o caso. Eles perguntaram se Jamil queria abrir queixa por agressão, mas por outro lado Marisa abriria por abuso sexual, então os dois amigos decidiram deixar quieto e dividiram a conta hospitalar, da mesma forma que dividiram a conta da panqueca. No meio do caos, pra finalizar a noite com chave de ouro, o policial pergunta:

- E onde está a arma do crime?

Paulo responde:

- Tem alguém comendo panqueca com ela nesse exato momento senhor.

Marisa foi para Pernambuco e deixou marcada em Jamil uma lembrança que sempre o fará se lembrar desta amiga tão querida.

Lalinho
Enviado por Lalinho em 02/03/2016
Reeditado em 02/03/2016
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