Decepção
Ela veio ao meu encontro e me abraçou. Senti novamente que perdia os sentidos, mas aquele dia eu fui forte.
- "Gostei da camiseta" - ela me disse
"Gostei de te ver", pensei.
Apenas sorri e agradeci.
Eu realmente não sei como conseguia me encarar, depois de tudo o que me fizera. Ela era diferente de todos, ou pelo menos me dizia ser. Um dia me prometeu que não era pra sempre e que nunca me amaria. Me prometeu casar-se com outro e ser livre o resto de sua vida. Mas também prometeu que jamais me magoaria.
- "Lembra-se quando a aninha me magoou?" - perguntei à ela.
- "Perfeitamente"
- "Dizia-se uma pessoa de tanta confiança. E no final, acabou fazendo-me de otário. Disse coisas ao meu respeito que havia confiado à ela, e somente à ela. O que pensa disso?"
Ela parou e pensou. Então me respondeu com o sorriso mais gentil do mundo:
- "A aninha era baixa, nunca te mereceu. A única coisa que soube fazer foi trair a tua confiança. Não pense mais sobre isso."
Parei por um instante e acendi um cigarro. Traguei aquilo como coragem para dizer-lhe o que estava me matando.
- "Se era tão baixa como você mesma me disse, porque fez comigo o mesmo?"
Ela paralisou. Então desconversou. Tentou mudar o rumo como imaginei que o faria. Prossegui.
- "Não estou bravo, de verdade. Apenas decepcionado. Mas a nem isso lhe devo a culpa, pois quem criou a expectativa fui eu. Expectativa de que você fosse diferente."
Novamente ela tentou continuar a conversa.
- "Já lhe disse que não estou bravo. Pelo contrário, obrigado por mais essa lição. Boa noite."
Virei-lhe as costas e segui meu caminho, sabendo que não mais a encontraria novamente. Ela já me dera várias lições. Dentre elas estavam a frieza, o desamor, o desapego e a liberdade. Mas dentre todas, esta última foi com certeza a pior delas: A Decepção.