O CAUSO DO JOÃOZÃO

Era tempos difíceis.

Em uma terra bruta, a mata tropical cobria maior parte da região. Os colonizadores eram poucos e a mata metia medo. O rio grande cortava a mata e de ambos os lados e numa grande faixa distante do leito do rio, as terras eram férteis, existiam madeiras de lei, e todos ambicionavam possuir estas terras porem, alem dos animais selvagens, onças, jaguatiricas, serpentes venenosas, outro animal, este apesar do tamanho reduzido tinha uma população densa e atacava e causava pânico a todos os habitantes do lugarejo, um pernilongo, isto mesmo um pequeno mosquito, cientificamente chamado pelo nome Anopheles, transmissor da maleita, castigava os moradores da região, tanto que era difícil encontrar ali alguém que nunca tivesse sido acometido pela maleita, no mínimo tiveram um episodio da doença, o que tornavam um povo raquítico e com medo do próprio mundo.

Por ironia do destina, era nesse ambiente hostil que também vivia o temido Joãozão, homem negro, bruto, violento e impunha o seu desejo pela ameaça e devido ao tamanho descomunal, já causava medo só pela aparência e pela rusticidade de seus atos todos o respeitavam. Conta um velho morador do lugarejo que certo dia aquele diabo em pessoa apareceu na vendinha do bairro, local que na época era um centro de referencia perdido nos confins do sertão e onde as pessoas, devido a distancia da cidade, faziam o aviamento de suas necessidades, tinham ali o necessário para a sobrevivência e raramente se deslocavam para a cidade.

Conta o homem que Joãozão já chegou fazendo arruaça, queria bater em todos que estavam no boteco, exigia que as pessoas bebessem cachaça mesmo contra a vontade. Era realmente infernal o grandalhão e se houvesse uma pequena desobediência a suas ordens, já fazia justiça com as próprias mão.

Lembra o narrador que nas proximidades, vivia uma jovem senhora viúva com um casal de filhos, um meninote de quatorze anos e uma linda menina dois anos mais nova. Viviam numa pequena propriedade cujo marido havia adquirido na tentativa de melhorar de vida mas que acometido por maleita repetidas vezes, o pobre homem não resistiu a violência da doença e morreu, ela sendo uma mulher de fibra, permaneceu na propriedade de onde tirava sustento para os filhos, que embora ainda crianças, lhes ajudava na labuta do dia a dia.

Neste dia os dois jovenzinhos, vieram na venda fazer suas compras como de costume, e Joãozão se engraçou com a pobre menina, dizendo que iria leva-la consigo como sua esposa e que não iria deixar lhes faltar nada, daria do bom e do melhor e ninguém poderia bulir com ela. A menina assustada procurou se desvencilhar do brutamonte, o que causou certo revolta do pretendente. Os moradores queriam defender a pobre menina, mas por medo de uma repreensão do valentão, acabaram se calando. O irmão porem, num relance, retrucou o grandalhão, que puxando de um “rabo de tatu” deu lhes umas chibatadas no garoto e num pescoção, lançou o para fora do rústico estabelecimento, sem se preocupar com o as consequências de sua agressão, deu o caso por encerrado e voltou para galantear a menina que assustada chorava encurralada num canto do estabelecimento.

Já o jovem com a responsabilidade de cuidar da irmã, apesar de apanhar e ser enxotado para fora, não deu o caso por encerrado, não deixou abater pela situação e com muita convicção adentrou venda com um pequeno punhal que sempre carregava dizendo que ser para defesa pessoal. Joãozão, entretido em conquistar a garota, nem teve tempo de se defender e num relance foi fatalmente atingido pelo menino que lhe cravou o punhal no peito. O Grandalhão num relance tirou o punhal do peito e ainda tentou correr atrás do agressor, deu dois passo, encostou a porta do estabelecimento, já sem forças ainda fez um comentário irônico:

___“Pois não é que o porqueira do menino me matou”

E tombou sem vida no chão frio da venda.

O sertão se revestiu neste dia de um misto de alegria, o episodio que marcou muito os poucos que presenciaram tal fato e tal fidelidade para com a família . Os dois jovens porem saíram da venda e nunca mais foram vistos pelos seus moradores, a casa em que moravam com a mãe ficou abandonada por um longo tempo até que certo dia pareceu por lá uma nova família dizendo ter comprado aquela terras e até hoje ninguém mais teve noticias dos antigos proprietários daquelas terras, supõe-se que tenham retornado as suas origens, para junto de seus parentes que moravam num cidade distante, ambiente menos hostil e mais civilizados.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 15/12/2015
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