O ATIRADOR

Eron caçava suas vítimas por todos os cantos da empresa e não media esforços para concluir seus crimes verbais aproveitando-se do cargo importante que herdou de seu pai, Sr. Orion, para desfrutar do poder e destilar seu veneno ante os menores dentro da Teoria Hierárquica Organizacional Eroniana criada por ele, em tempo recorde, cujo a missão e valores se resumiam num martírio onde todos os funcionários deveriam engolir sua conduta imoral e indelicada de chefiar e para que ninguém ousasse a esquecer sua autoridade, ele teve coragem de espalhar em cada cômodo e de forma explícita, uma placa dourada informando que ele era o único dono daquela organização e ele fingia desconhecer a documentação elaborada por seu pai que dava total poder de decisão aos conselheiros e outros administradores da empresa.

O coração do bondoso Sr. Orion parou de uma vez e ele deixou uma enorme saudade e uma legião de funcionários angustiados e a mercê da nuvem de potentes espinhos em forma de palavras destruidoras que Eron começou a atirar ao aproveitar da ausência definitiva de seu pai que por muitos anos tentou ensiná-lo da importância de valorizar e respeitar o próximo e Eron nunca deu a mínima e ainda disse para a infelicidade do Sr. Orion que não sofreria e nem arrependeria quando fosse o dono da empresa e por seu jeitão rude, intolerante e incompreensível, perdesse colaboradores de confiança e até os mais experientes, pois considerava todos descartáveis e deveriam ser tratados como ele bem entendia e teriam de temê-lo e seu pai insistia em dizer que não era assim que liderava uma equipe e explicou calmamente que para a empresa continuar a crescer e se destacar no mercado, os colaboradores tinham de confiar no gestor e não ter medo, e Eron discordava arduamente do pai e disse que seria impiedoso e iria se orgulhar por isso e que a empresa cresceria daquela maneira e seu pai pensou em destituí-lo do cargo de vice-presidente, porém não deu tempo porque faleceu de infarto antes de tomar aquela decisão ante o futuro da organização empresarial que ficou nas mãos do único filho e ele começou a cumprir a promessa desastrosa e absurda relatada numa das últimas conversas com seu pai que teve tempo apenas de deixar por escrito uma autorização que em caso de falência pela estupidez e irresponsabilidade do filho Eron, os funcionários receberiam uma quantitativa ajuda financeira para se reorganizarem na vida até encontrarem outro trabalho.

A estupidez daquele sujeito, capacitado em ignorância, era de tamanha barbaridade que comentavam-se pelos cantos da empresa que Eron já nasceu adulto e especialista em cometer crimes premeditados contra a existência humana, dentro do limite dos seus domínios, e aprimorou as técnicas bizarras que aprendeu através das leituras que retratavam as histórias dos maiores atiradores e assassinos que dilaceravam a paz dos povos de suas nações e Eron, de posse daquele conhecimento, trouxe todas as experiências para sua vida para perturbar a vida dos outros com aquelas atrocidades, porém com algumas diferenças nas ações, muito bem executadas, e ele utilizava com maestria um outro tipo de rifle de grosso calibre e longo poder de alcance para concluir seus massacres fonéticos e textuais, sem nenhum pingo de arrependimento.

E Eron andava livre e sem levantar suspeitas que por trás de toda aquela elegância e pose, existia um assassino confesso de sorriso e exterminador de valiosos sentimentos e causava espanto e desespero em qualquer alma coberta de carne fresca que passava próximo de sua imagem que soltava palavras confeccionadas pelas impurezas da maldade e de nada adiantava os funcionários tentarem fugir e se esconder porque o danado tinha à vista sob a mesa uma lista completa com especificações humanas e posições geográficas temporárias, e para piorar, ele controlava o nível de desempenho de cada atividade desenvolvida e buscava os pequeninos erros para realizar suas atitudes covardes e desumanas onde atirava e acertava suas vítimas de formas diferenciadas, porque aprendeu a fazer aquilo tão bem que conseguia êxito quando utilizava o telefone ou via e-mail, o que não substituía sua forma predileta que era atirar a poucos centímetros de distância, simplesmente para ter a chance de assistir ao vivo, a expressão de dor e tristeza exposta naquelas faces esperançosas que sabiam, sem nenhuma dúvida, que um dia tudo aquilo teria fim, porque tinham consciência, conforme os sábios conselhos do Sr. Orion, que as dificuldades e os desgastes emocionais não perpetuavam por muito tempo e perderiam forças para que bons sentimentos e alegrias pudessem trazer fôlego e auxiliar quem confia na justiça a prosseguir em paz pelas estradas da vida.

E todo aquele tormento provocado por Eron durou apenas 20 dias, porque o rico coitado foi traído pelas mesmas palavras rudes e grosseiras que reunia em sua mente cheia de veneno onde ele formulava as frases assassinas e atirava por todos os cantos até o dia em que deu os últimos tiros que atingiram em cheio os administradores que tentavam alertá-lo da necessidade de um novo plano de negócios para salvar a organização de uma crise que assombrava o país em função de fatores como a queda da bolsa de valores e rumores de um possível bloqueio de bens, e Eron não quis saber do fato e os administradores falavam e ele falava mais alto e eles pediam calma e ele mandava eles calarem a boca e os outros funcionários assustados e Eron continuava a atirar e a barrar as informações daqueles profissionais que sabiam tudo sobre planejamento financeiro e tentavam evitar que a empresa, criada pelo bondoso Sr. Orion se afundasse, e aos poucos os administradores perceberam que a situação começara a fugir do controle e logo resolveram fazer as revelações do fundador de todo aquele império e pediram calma aos esperançosos, enquanto Eron gritava feito um louco e dizia aos berros que só ele podia pedir qualquer coisa e os administradores se uniram e falaram mais alto que Eron e anunciaram que a empresa encerraria suas atividades, mas que todos podiam ficar tranquilos porque o Sr. Orion previa que aquilo poderia acontecer e para mostrar gratidão aos colaboradores deixou uma boa quantia reservada para ser creditada na conta de cada um e todos eles começaram a sorrir e venceram os gritos de Eron que se desesperou com a notícia e pela primeira vez em 20 dias se arrependeu por ter treinado tiro ao alvo e não ter aprendido a ouvir e nem dar importância aos conselhos do pai, por considerar-se o dono de toda a verdade e sabedoria, e chegou a conclusão que se tivesse escutado os administradores e seguido suas orientações talvez teria alguns anos a mais para continuar com sua ignorância fonética e assim evitar aquele entristecimento que tomou conta de sua vida após o comunicado dos administradores que tinham autoridade para decidir sobre os rumos da organização e Eron ficou angustiado porque sabia que tudo tinha acabado ali e que se quisesse dar continuidade a sua loucura e não desmanchar o seu orgulho mesquinho, teria de se degradar sozinho diante do espelho até a morte de suas cordas vocais.

Cláudio Francisco
Enviado por Cláudio Francisco em 06/12/2015
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