Um lugar para Mário
Depois de muito tempo, descobriram que Mário não estava mais presente, mas transparente. Que vivia num mundo diferente, entretanto Mário nem se quer tinha a consciência disto.
Costumava vagar pela rua como se fosse o vento. Às vezes, as velas e as luzes se apagavam, tudo ficava mais denso, mais sombrio e escuro, pois Mário estava por perto.
Suas passadas largas estavam mais curtas e leves, idas e vindas que desenhavam cìrculos num pequeno pedaço do chão, entre a calçada e o meio-fio.
Tudo estava diferente para Mário, a calçada, o bar-café, as pessoas,a farmácia. Cada rosto que via, se esquecia de quem era.
Em seu movimento contínuo, por súbito, colocou a mão no bolso procurando os documentos. Documentos! Não, já não os tinha mais. Lembrou-se da mulher, ergueu a mão a procura da aliança, que, também, havia desaparecido.
A multidão já havia se formado, mas ninguém conseguia vê-lo. Mário estava invisível. Queria gritar para chamar a atenção, porém sua voz havia sumido para os outros.
A chuva começou a cair. Era velha conhecida de Mário, que nem percebia que ela era o céu que chorava por ti. Gotas e gotas de tristeza e descaso.
Mário tinha ido,e, na volta, depois que a multidão o havia deixado só e sozinho, viu-se no chão, de braços sobre o peito, sem paletó, sem aliança, sem documentos, sem luz, sem vida.
Sua partida foi eterna, sem volta. Sua dor, se é que que ainda lhe doia, o fez cair.
Ninguém sabe para onde Mário foi, quem levou, nem mesmo se, enfim, deram a ele um lugar para domir.
Depois de algunas dias, nem mais lembravam de Mário