Aqui dentro tudo jaz morto

O céu está novamente normal, azul, bonito, vidrante. Aquele cinza fatídico sumiu lá de cima, mas ainda vive dentro de mim. Aqui dentro sempre parece ser inverno. Aqui dentro é cheio de tornados, furacões, tudo é sempre escuro. Não sei exatamente quando foi que tudo se tornou assim, triste e vazio, agora já nem importa. Muitas coisas deixaram de importar. Já não ouço aquelas músicas alegres, agora elas são tristes. Já não sinto vontade de falar, é tudo silencioso aqui dentro, minha própria voz me dá medo. Aqui dentro de mim está tudo diferente, desordenado, como se minha mãe tivesse arrumado meu quarto bagunçado, e agora não sei onde nada se encontra. Aqui dentro parece uma floresta mergulhada no silêncio da madrugada, a diferença é que aqui não há animais, só há eu, e estou perdido.

Aqui dentro tudo descansa, tudo está paralisado, tudo... é um silêncio perturbador. Criei a ilusão de um céu azul para me sentir melhor, porque da última vez que o vi ele estava cinza, e tudo tinha cheiro de fumaça e destruição. A minha destruição.

Aqui dentro tudo está diferente, já que não há mais vida. Tudo acabou, se queimou junto com as chamas, só há hematomas na pele pálida, que logo entrará em decomposição. Aqui dentro tudo é... nada. Nada mais pulsa, nada mais grita. E eu criei uma ilusão de meu último dia porque eu queria poder reviver até ele, só queria viver um pouco mais.

Aqui dentro tudo é passado, lembranças. Aqui dentro não há mais verão, e eu estou condenado. Aqui dentro tudo se encerrou. Aqui dentro está escuro como nunca. Aqui dentro, tudo está morto.