A história do Van Damme araxaense
Eu fui testemunha ocular do evento aqui descrito:
Nos primórdios da minha juventude eu e meus amigos vimos quando aquele pequeno homem invocado partiu para cima de um gigante musculoso na saída do parque de exposições, alta madrugada de uma noite quente do distante 1990. O grandalhão havia acabado de tascar na linda garota do valente um abraço apertado pelo flanco direito, o que deixou o nosso herói absolutamente possesso.
Apesar da fúria do rapaz, aquele brutamonte ergueu calmamente as mãos espalmadas e jurou por repetidas vezes que não queria problemas. Todavia o baixinho provavelmente inspirado pelos filmes de luta, que eram a coqueluche da época, desferia em seu antagonista incessantes chutes giratórios, voadoras e golpes que deveriam ser fulminantes. Parecia a gravação de um filme, mas não se pode garantir aqui neste texto que os belos movimentos tinham força proporcional à plástica dos movimentos.
Quanto a moça? A coitada dentro de seu comportado vestidinho branco gritava o tempo todo para que o seu namorado parasse com toda aquela valentia e agressividade. E ele até poderia ter parado, se percebesse que seus caprichados golpes sequer abalavam a montanha de músculos que estava à sua frente. Gigante esse que ainda insistia em dialogar, porém sem sucesso.
Cansado de toda aquela balbúrdia, o gigante irritado então resolveu revidar e desferiu apenas um tapa com a mão aberta na cara do astro da noite, que rodopiou em torno do próprio eixo no ar e estatelou-se no chão imediatamente. Para a surpresa dos presentes, o Van Damme araxaense empreendeu em seguida uma fuga também cinematográfica, passando entre o povo e desaparecendo rua acima, deixando para trás uma desconsolada namorada que se confortou aos prantos nos braços do pacífico gigante.
Mais tarde viríamos a descobrir que o musculado tratava-se de um meio irmão da bela, muito querido por ela, e que veio de outra cidade para a festa.