As Aventuras de Toco, MC e Íbas
Os supra-citados amigos no título desta eram daquele tipo de amigos que talvez nem existam mais. Aquela turma que cresceu longe da internet, dos smartphones ou dos apetrechos anti-sociais os quais nos são hoje tão indispensáveis quanto o ar. Para não dizer que a tecnologia estava longe do alcance das suas mãos, os três amigos e mais outros trabalhavam duro para no fim do mês comprar a peso de ouro os cartuchos dos lendários Atari e Nintendo 8 Bits.
Certa feita os inseparáveis companheiros voltavam de um baile daqueles inesquecíveis da geração 90, quando eis que no alto do último andar de um dos mais conhecidos prédios do centro de Araxá três lindas donzelas chamaram a sua atenção. As beldades estavam debruçadas no parapeito da janela e de lá mesmo mexeram com os garotos, que imediatamente cessaram a sua caminhada e iniciaram um contato imediato.
Primeiro em pequenos gestos, depois num tom de voz que se desejava audível e por fim, num berreiro enorme que chamou a atenção de toda a vizinhança. Entre as apresentações e citações de quem é quem, naquela altura da noite a única atividade que se destacava além da balbúrdia adolescente era o acender das luzes nas casas e apartamentos ao redor. Um verdadeiro flagelo.
Apesar da penumbra e da distância, os longos cabelos e as vozes sutis das moças cessaram com o bom senso dos rapazes que, sequer perceberam o quanto chamaram a atenção naquela hora. E a conversa se estendeu até que o corajoso Toco soltou o pedido: – Por que vocês não vêm até aqui pra gente conversar na praça? – E as meninas responderam: – Estamos indo!
Tudo seria perfeito e digno de um filme adolescente, não fosse a chegada dos carros de seus pais naquela hora à portaria do prédio, o que automaticamente melou o encontro relâmpago dos intrépidos transeuntes. Derrotados, eles ficaram acenando da praça para as novas e gentis amigas, que no outro dia iriam embora da cidade para nunca mais serem vistas por eles.
Um pedaço de papel com um número de telefone ainda voou pela famigerada janela, mas o vento o levou para tão longe que jamais fora encontrado. – Paciência! – dizia Íbas, convocando os companheiros de volta ao caminho de suas casas.