O CAIPIRA E O MILAGRE DO CONTO DE  RÉIS

S


Houve um tempo a muitos anos atrás, que os comerciantes, na tentativa de resgatar seu capital de giro, espalhado com sua clientela contratavam alguns elementos para a função de cobradores. Geralmente essas pessoas não eram bem vistas, devido à forma como abordavam os clientes devedores.
Juca barbicha era um desses elementos. Conhecido como um fora da lei era o diabo em forma de gente. Prestando serviços aos comerciantes da cidade como cobrador. Era um homem mau com muitas mortes nas costas. Ganhou a fama de perverso, e se tornou no terror dos pobres endividados, que caiam nas suas malhas de cobranças. Era comum no passado, os comerciantes contratar esse tipo homem sem coração, que não tinha piedade e não perdoava ninguém. A maioria dos devedores vendia seu último bem para quitar sua divida, mais pelo medo da carabina que andava na cabeça da sela ou no ombro do cobrador. Muitas vezes nem funcionava, mas metia medo.
Zé brejeiro era um sitiante trabalhador e correto, homem de uma fé inabalável. Lutava com dificuldade para cuidar de sua numerosa familia e honrar seu nome. Estava sendo jurado de morte, caso liquidasse sua conta no armazém da cidade. Teve seu débito atrasado não por sua culpa, mas por uma ironia do destino. O açougueiro que costumeiramente comprava seus capadinhos e os pagavam corretamente, teve um mal súbito e bateu a cassulêta, morreu, devendo ao Zé seu ultimo fornecimento. Não era muito, mas o suficiente para quitar sua divida. O tempo passou a viúva coitada embora tivesse vontade de liquidar a conta do marido, com tantas dificuldades não teve como acertar com o Zé.
O pobre colono caiu nas garras de Juca barbicha o cobrador, que toda semana passava pelo sitio fazendo ameaças. Mas onde estava esse dinheiro que não vinha. Ao Zé restava apenas rezar e pedir a Deus uma solução. Até que um dia barbicha deu seu ultimato ou Zé liquidava sua conta até naquele fim de semana ou morreria. Os dias passavam e o Zé só rezava e pedia a Deus uma solução.
Na véspera do dia marcado pelo cobrador barbicha, apareceu no sitio um caixeiro viajante pedido pousada, Zé o acolheu. No dia seguinte ao raiar a aurora, o homem se despediu e partiu, mas esqueceu sua carteira abarrotada de dinheiro sobre uma mesinha de caixote no quarto onde dormiu. Zé encontrou o objeto e o guardou no bolso, como não era seu nem teve a curiosidade de verificar o valor ali contido.
Tão logo o sol da manhã penetrou no vão da porta da sala, barbicha também entrou de arma em punho pouco amistoso e muito arrogante:
--Então seu Zé vai ou não me passar os cobres?
-- De posse da carteira do caixeiro, Zé tirou dela um conto de réis e liquidou sua divida. Barbicha montou seu cavalo e partiu sem muita delonga. Entregou o dinheiro ao comerciante, que de imediato o repassou ao farmacêutico, quitando o débito dos medicamentos de seus empregados. O farmacêutico vai ao hotel da cidade e quita seu débito cujo valor era o exato conto reis. O gerente do hotel procurou a viúva do açougueiro quitou um débito também atrasado. A viúva, irradiando alegria dirigiu-se para o sitio do Zé.
-- Aqui seu Zé Brejeiro graças Deus meu marido agora vai descansar em paz, e eu não vou mais perder noites de sono, aqui está seu conto de réis!
-- Graças a Deus digo eu minha senhora -, está vendo esse caixeiro viajante que está vindo em nossa direção, ele voltou da metade de seu caminho. Vem à busca de sua carteira, esquecida em minha casa hoje de manhã, quando os galos ainda cantavam no poleiro. Esse bendito conto de réis saiu dela, bem cedinho logo após o nascer do sol. Eu louvo a Deus por tê-lo enviado a mim, e  me salvar  pele,, graças a minha fé, e ao trajeto milagroso que este conto de réis fez durante parte, deste abençoado dia.

 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 22/07/2015
Reeditado em 24/07/2015
Código do texto: T5319534
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.