MISTERIOS DO SABÃO DE CINZAS
Lá na roça em tempos passados, sempre que havia matança de capado era uma festa danada, mas passado o dia, a rotina voltava ao normal porem, alguns dias depois era preciso trabalhar com a gordura de sabão, partes do animal que não servia para alimentação humana, ai incluía alguma pelancas, pacuera, pedaços de tripas, rins enfim, tudo aquilo que não podia ser comido, eram separados, muito bem aferventados para não estragar, devidamente guardados e dias depois se transformava em sabão pelas mão da mulher sertaneja.
Logo que amanhecia o dia, se preparava o barrileiro onde iria produzir decoada de cinza que juntamente com a soda caustica, iriam transformar aquela gordura desprezada para alimentação, em sabão de cinzas que eram amplamente utilizados na lavagem das roupas, os “trens” de cozinha e até para tomar banho, lembrando que não se conhecia sabão em pó e o detergente e, o sabonete até existia na casa de alguns sitiantes granfino do bairro, mas a maioria se virava mesmo era com o sabão de cinza.
Lá na roça existiam mulheres eximias na arte de fabricar sabão e tinham todo um ritual para que no final saísse um produto de qualidade. A “decoada”, liquido escuro que saia do barrileiro, uma rústica engenhoca composta por um balde ou lata de aproximadamente 20 litros cujo fundo era cheio de furinhos e colocado sobre um suporte, na base do suporte uma folha de zinco ou mesmo de latão, formando uma bica, neste recipiente colocava cinzas obtidas da queima de resíduos da agricultura como cascas de mamona ou da queima da lenha no fogão que eram cuidadosamente guardados para este momentos, pois bem, o balde ou lata, era preenchido aproximadamente três quartos de cinza bem socada sendo que um quarto era reservado para colocar água que penetrando pela cinza, saia em forma de decoada pelo fundo do balde e escorria pelo suporte, saindo pela bica sob o qual era colocado um recipiente de metal, exceto alumínio, que aparava este liquido, os primeiros eram desprezado e logo em seguida, os de cor amarronzada eram rico em potassa e sódio e justamentes estes que, juntamente com a soda caustica, era utilizado na fabrico do sabão.
Com a decoada em quantidade suficiente para inicio, acendia-se o fogão num canto do terreiro, colocava um grande tacho sobre fogão e ali depositava os ingredientes, o resto do serviço o fogo fazia e o cuidado que se tinha era de manter o fogo aceso e sempre mexer com uma pá de madeira o conteúdo do tacho até que o sabão ficasse no ponto certo para ser encaixotado e nesse mexer é que entra o segredo do olho gordo ou olho grande.
Diziam as sertanejas que quando estava fazendo sabão, se chegasse alguma pessoa, seja la quem fosse, era preciso dar a pá para que ela mexesse um pouco o sabão, pois se tivesse olho grande, bastava tal pessoa dar um olhada para o tacho de sabão que ele desandava todo e depois para consertar, as vezes demandava muitos dias.
São coisas do sertão, se são verdades ou mitos, não sabemos dizer, só sabemos que as coisas realmente aconteciam desta forma e como com a sabedoria popular não podemos questionar, embora hoje quase não exista mais fabricantes de sabão de cinza, é sempre bom acreditar.