A GAFE DO REZADOR
Tudo aconteceu por causa da morte de Seu Belarmino.
Pra quem não conheceu, Seu Belarmino era um homem de idade avançada, antigo sitiante do bairro, portanto pessoa muito conhecida em toda a redondeza, era caçador de perdizes desde que veio por estas bandas e mantinha em casa os seus perdigueiros, alguns também já bem velhinhos outros nem tanto e ele tinha um zelo especial pelos animais que eram muito dóceis e gostavam de estar no meio das pessoas. Seu Belarmino era também um homem temente a Deus, muito fervoroso, não perdia as festas religiosas do bairro e adjacências e a sua morte, apesar da idade, foi um tanto quanto inesperada.
Como o costume da região na época, o guardamento aconteceu na própria casa onde morava com o filho caçula desde que enviuvou, se dava bem com a nora gostava muito dos dois netinhos assim, após o enterro, logo combinaram com o Toninho, rezador de terço da região, para a fazer a novena em auxilio a sua alma, eram nove dias de reza do terço e teria inicio na noite seguinte a do sepultamento.
Todas as noites no momento da reza do terço uma cadela perdigueira, parece que até os bichos sentem a falta de seus donos, se embrenhava debaixo do altar improvisado na sala da casa e ninguém conseguia tirar a cachorra para fora antes do termino da reza.
Vai que dia desses a cadela andou comendo alguma coisa que não lhes fez muito bem, causando um desarranjo intestinal daqueles alem de provocar peido muito fétido e nessa noite foi só o Toninho convidar os fieis para reza, e ao principiar a oração, a bendita da cachorra já se arranjou debaixo do altar e ali ficou soltando seus puns fedidos e o rezador ali ajoelhado era o que ficava mais próximo da catinga e a reza naquela noite parecia interminável tamanho o incomodo causado pela cadela, até quando, não aguentando mais o mau cheiro bem debaixo de seu nariz, na tentativa de tocar a cadela dali, assim rezou:
__“Ave Maria cheia de graça, o senhor é convosco bendita sois vós, páaassa cachorro peidando fedido, entre as mulheres, bendito o fruto....” e por ai se foi.
Tão fervorosos eram os fieis que não perceberam a agonia e nem a gafe do rezador, e ninguém ficaria sabendo da historia se não fosse o Zequinha, menino peralta, que espalhou o ocorrido pelo o bairro.