UMA BOA PROSA NO ALPENDRE

Como de costume, naquela noite calorenta de verão, já quase outono, a vizinhança estava reunidas na casa de meu pai, as mulheres na cozinha, as crianças brincando lá fora, eu ainda adolescente, já me considerava gente grande e ficava com os homens na varanda.

Naquela noite a prosa na varanda estava animada, e pegou mais fogo ainda quando um dos que estavam presentes na visita comentou com referencia a compra de uma excelente mula, Totonho o exímio contador de anedota não deixou barato, sentiu-se na obrigação de esclarecer que animal igual a sua mula Nobreza não existia na região e para justificar começou a narrar um acontecido que, como sempre, deixou todos de queixo caído.

“Chii ! olha seu Alcides, mula igual a minha mulinha Nobreza, por aqui não encontrei ainda, e acho que nem vou encontrar alguma igual ou parecida com ela. Com ela não tem tempo quente não! Ainda estúrdia mesmo, fiz uma viagem lá pras bandas dos Onças e passando em frente a casa do Serafim, os meninos dele tava cuidando do gado e tinha um tourinho amuado no pasto, próximo da estrada, fiquei quase duas horas vendo os rapazes tentar levar o animal para a mangueira e nada de conseguirem, vi que os meninos já estavam desacorçoados da vida, foi então que me ofereci, eu mais minha Nobreza pra ajudar.

Os meninos olharam assustados, estavam suados de tanto se esforçar e um deles ainda resmungou com raiva:

__ Mais seu Totonho, para levar este bicho para a mangueira, só matando, o senhor bem viu, já tentamos de toda maneira e nada.

Olhei bem para eles, que pareciam não acreditar que eu pudesse ajuda-los, pulei da minha carroça, abri o piquete que dava entrada para o pasto, guiei a minha mula Nobreza pelo cabresto, levei até bem perto do tourinho que tava tendo até câimbras de tão enfezado que tava e disse pros menino:

__ É só amarrá esta corda no pescoço do boizinho e depois amarre aqui no eixo da carroça e deixe tudo por conta da Nobreza.

Os meninos olharam com um ar de descrença, mas como diz o ditado: já que o jogo tá perdido, truco neles, acabaram fazendo conforme eu falei. Foi então que subi na carroça e dei a ordem:

__ Vamos Nobreza.

Seu Alcides, esta mulinha se esticou toda, deu um arranco e uma bufada, pisava duro que chegava arrancar naco de grama de 10 kilos com as patas e foi arrastando o animal pasto afora, quando chegou na mangueira, a Nobreza tava banhada de suor mas, no que olhei pra traz, vocês nem vão acreditar no que vi. O boi arreliado, esticou as patas da frente que enfiou por debaixo da grama, e foi removendo a grama que formou um rolo de mais de mais dois metros de altura, ahh, mais que o boi foi pra mangueira, isto foi...

Os que ouviram historia em silencio, nada disseram pois já conheciam a fama do carroceiro Totonho. Seu Alcides, balançou a cabeça negativamente mas foi salvo pela Sinhana, mulher de Totonho, que gritou lá da cozinha

__ Totonho, o Belarmino e Juquinha já dormiram, vamos embora homem de Deus, deixa um pouco das mentiras para amanhã.

Seu Alcides, embora mostrando um semblante pesado pelo sono, como bom anfitrião ainda retrucou:

__ Mas esta cedo ainda, gente!

Vovô Damião, num gesto elegante, estira a perna, mete a mão no bolsinho da calça, tira o relógio, um legitimo Omega, olha a hora e mete-o de volta ao bolso, Zé Bento que observou o gesto interroga:

__ Que horas são seu Damião?

__ Já passa dez da meia noite.

__ Nossa já! Gente, nem vimos a hora passar.

Todos saíram, levando os seus lampiões de querosene, clareando os trilhos que levam a suas casas e o silencio caiu sobre o casarão, afinal de contas já era hora de dormir.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 06/04/2015
Código do texto: T5197610
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