MARIA BEATA


Era outra personagem de que me lembro, de minha infância na pequena cidade do planalto catarinense. Maria Beata era uma doente mental que perambulava pela cidade em andrajos, carregando uma trouxa. Não era moradora de rua. Tinha família e abrigo, mas quem conseguia segurá-la em casa? Vivia de doações de moradores, um dinheirinho aqui, comida e roupa ali, e assim sobrevivia. Tratamento, nenhum.

Nós crianças tínhamos medo dela. Sua figura nos assustava, e mais: sua voz forte, estridente, e os impropérios que proferia. Possuía vasto vocabulário de palavrões. E os moleques não a deixavam em paz.

Recebeu o apelido de Beata porque nas missas de domingo, se alojava junto ao confessionário, nos fundos da igreja, com sua trouxa e lá ficava, falando alto, atrapalhando a reza dos fiéis e o sermão do padre. Quando estava mais alterada, e começava a dirigir palavrões a todos, o padre pedia a alguns homens presentes que a retirassem para que não profanasse a Casa de Deus.

E lá ia ela, meio arrastada, para fora, xingando com os palavrões mais cabeludos, o padre e o povo que rezavam.
Aloysia
Enviado por Aloysia em 27/11/2014
Reeditado em 15/10/2019
Código do texto: T5050911
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