JOÃO BOBO
Faz parte da galeria de tipos que povoaram minha infância na pequena cidade do interior de Santa Catarina. Devia ter alguma deficiência mental, pois na escola não aprendeu quase nada. Aparentava ter uns 45 anos e andava pela rua balbuciando frases, sempre as mesmas. Quando falava, um fio de saliva lhe escorria pelo canto da boca. Não era maltratado pela molecada por ser absolutamente pacífico.
Está vivíssima em minha memória sua figura gorda, vestindo um terno surrado e um chapéu de feltro Entretanto, o terno parecia ensebado e o chapéu amassado. Mas do que me lembro com maior nitidez é do seu cheiro, certamente João Bobo não apreciava banho.
Naqueles tempos não se colocava cadeado no portão e nem se fechava as janelas, que permaneciam escancaradas durante todo o dia. Não havia riscos. João Bobo entrava e ia diretamente para nossa janela da cozinha. Às vezes nos assustávamos porque chegava silenciosamente. Não pedia nada, ficava ali parado. Mamãe lhe preparava uma alentada caneca de café e lhe servia pão, bolachas ou o que mais havia. E João Bobo falava enquanto comia e bebia.
Tinha enorme fixação por aviões. Na pequena cidade não existia aeroporto, somente um terreno grande que fora aplainado formando uma pista de terra onde uma solitária biruta indicava a direção do vento. Ali raramente pousava um monomotor. Para João Bobo, quando isso acontecia, era motivo de muita felicidade, um fato extraordinário. Alguém da cidade o levava até lá e ele falava daquele acontecimento durante semanas, empolgado.
Mostrava lucidez o suficiente para cobrar do prefeito melhorias no "Campo de Aviação", como chamávamos o lugar. Era prefeito na época, um tio de mamãe, de nome Lauro Costa. Como o prefeito não destinava verba para modernizar o local, João Bobo vociferava contra ele, repetindo:
Lauro Costa é um bosta!" Lauro Costa é um bosta!"
Mas frequentava também a casa do prefeito, onde tomava café ou recebia um prato de comida. Era bem tratado por todos.
Comentário: Esse nome preconceituoso de que era chamado, parecia não incomodá-lo. Os tempos eram outros há mais de cinquenta anos atrás. Hoje seria considerado bullying e a pessoa que usasse esses termos contra ele, certamente, sofreria sanções.
Faz parte da galeria de tipos que povoaram minha infância na pequena cidade do interior de Santa Catarina. Devia ter alguma deficiência mental, pois na escola não aprendeu quase nada. Aparentava ter uns 45 anos e andava pela rua balbuciando frases, sempre as mesmas. Quando falava, um fio de saliva lhe escorria pelo canto da boca. Não era maltratado pela molecada por ser absolutamente pacífico.
Está vivíssima em minha memória sua figura gorda, vestindo um terno surrado e um chapéu de feltro Entretanto, o terno parecia ensebado e o chapéu amassado. Mas do que me lembro com maior nitidez é do seu cheiro, certamente João Bobo não apreciava banho.
Naqueles tempos não se colocava cadeado no portão e nem se fechava as janelas, que permaneciam escancaradas durante todo o dia. Não havia riscos. João Bobo entrava e ia diretamente para nossa janela da cozinha. Às vezes nos assustávamos porque chegava silenciosamente. Não pedia nada, ficava ali parado. Mamãe lhe preparava uma alentada caneca de café e lhe servia pão, bolachas ou o que mais havia. E João Bobo falava enquanto comia e bebia.
Tinha enorme fixação por aviões. Na pequena cidade não existia aeroporto, somente um terreno grande que fora aplainado formando uma pista de terra onde uma solitária biruta indicava a direção do vento. Ali raramente pousava um monomotor. Para João Bobo, quando isso acontecia, era motivo de muita felicidade, um fato extraordinário. Alguém da cidade o levava até lá e ele falava daquele acontecimento durante semanas, empolgado.
Mostrava lucidez o suficiente para cobrar do prefeito melhorias no "Campo de Aviação", como chamávamos o lugar. Era prefeito na época, um tio de mamãe, de nome Lauro Costa. Como o prefeito não destinava verba para modernizar o local, João Bobo vociferava contra ele, repetindo:
Lauro Costa é um bosta!" Lauro Costa é um bosta!"
Mas frequentava também a casa do prefeito, onde tomava café ou recebia um prato de comida. Era bem tratado por todos.
Comentário: Esse nome preconceituoso de que era chamado, parecia não incomodá-lo. Os tempos eram outros há mais de cinquenta anos atrás. Hoje seria considerado bullying e a pessoa que usasse esses termos contra ele, certamente, sofreria sanções.