"A LEFRE"
Na verdade, era Leffer, mas minha avó Mariquinha tinha dificuldade em pronunciar esse sobrenome alemão e as letras trocava.
A Leffer chegava de mansinho e, como era bem conhecida da casa, ia entrando e sentando ao lado do fogão à lenha, na própria caixa de lenha, que naqueles idos tempos tinha uma tampa, fazendo as vezes de banco, com encosto. Um bom assento para as gentes se aquecerem no rigoroso inverno do planalto catarinense.
A Leffer trazia, sob o braço, um feixe da planta que por lá existia e que tem o nome muito apropriado de "vassoura", pois após amarrado a um cabo de madeira, para varrer servia.
Chegava e dizia: "A bassora é pra minina barre o terrero."
Para mim, por certo, que vocação para o trabalho doméstico desde criança já apresentava.
Naqueles tempos, década de 1950, a tuberculose, apesar de curável, ainda grassava. E a Leffer desse mal penava.
Ficava lá, sentada, magérrima, tossindo, por um longo tempo. Vó Mariquinha lhe servia café com pão, que ela tomava com sofreguidão e, depois, silenciosamente saía. Da mesma forma como entrara.
Após sua saída, vovó limpava cuidadosamente, com água fervente, pano e rodo, o lugar onde ela estivera e lavava também com sabão em barra e água bem esperta a xícara que ela usara.
Era para evitar o contágio da insidiosa moléstia, que já tinha cura, mas que a Leffer, com parcos recursos e mínima cultura levaria para a sepultura.