DIVISÃO DAS ALMAS NO CEMITÉRIO
Zequinha era um rapazote muito levado e desobediente que morava em uma chácara, fora da zona urbana, porem não muito longe daquela pequena e pacata cidadezinha porem, o caminho que levava a ela passava obrigatoriamente as margens do cemitério onde diziam que toda sexta feira, na boca da noite, o demônio a os anjos sentavam a porta do cemitério para repartirem as almas.
Certo dia, sua mãe entregou uma pequena lista de compras e ordenou que o menino fosse á venda do Bernardino, conhecido comerciante da cidade onde eles compravam por caderneta, mas a ordem pedia também que o rapazote fosse num pé e voltasse no outro, isto é não ficasse na cidade aos papos pois já era tarde e deveria voltar para casa antes do cair da noite e Zequinha mais que depressa foi para cidade.
Chegando lá, foi primeiro as compras e depois, encontra com um amigo aqui, com outro acolá, se enleva no papo e quando deu por fé, a noite já caia e ele mais que depressa se despediu e saiu apressado antes que a escuridão tomasse conta do caminho, pois não era época de luar e, ao passar pelo cemitério, lembrou que era uma sexta feira e veio a mente as estórias que seus pais contavam, arrepiou todo mas agora o negócio era dar uma de corajoso, apertou os passos.
Ao aproximar do portão do cemitério, sentiu um calafrio e o cabelo todo se arrepiou quando observou que as duas mangueiras balançavam freneticamente sua ramada e como não estava ventando, o medo tomou conta do rapazote que se escondeu atrás do tronco de um coqueiro que ficava do lado de fora próximo ao portão e ficou quieto a observar.
Ouviu vozes, pareciam até familiar, prestou um pouco mais de atenção para ouvir o que diziam e se estarreceu quando entendeu:
__--- Uma para você, outra para mim, uma para você, outra para mim ....
Com toda certeza estavam repartindo as almas, pensou o pobre rapaz e apavorado tratou de ficar calado e escondido na esperança que assim que terminassem a partilha, iriam embora e ele seguiria viagem de volta para casa, e ficou ali estarrecido e ouvindo a horripilante partilha:
__ ...uma pra mim e outra pra você. Pronto agora acabou, fique com esta ultima que eu pego aquela que esta perto do coqueiro!
Ao ouvir isto o pavor tomou conta do rapaz, pois não é que o haviam descoberto ali e sem pensar duas vezes, regressou em disparada para a cidade, chegando na venda do Sr. Bernardino com um palmo de língua para fora, o vendeiro o acolheu, deu-lhe um copo de água com açúcar para beber e quando este se acalmou, contou a história que havia presenciado, todos riram dele e o Sr Bernardino juntamente com mais um freguês propuseram a leva-lo para casa, tomando um lampião de querosene, saíram os três, pouco haviam caminhado quando encontraram com dois meninos, cada um carregando uma sacola de mangas que haviam apanhado no cemitério.