O SACI E O CACHORRO ZANGADO
Antigamente quem fazia cachorro ficá zangado era Saci. Na época em qui us Saci aparicia mais a miúdo era comum a gente topá cum cachorro zangado pras -istrada a fora, na roça. Ês andava di-galope, sem distino certo, cum zói vremêi iguále fogo - ca- cabeça baxa, sem oiá prus lado, babano us canto da boca.
E num latia tamém mais não!
Divinin, pru morá na redondeza onde us Saci intocava, di tanto perdê cachorro disanimô ca -criação. Passô pissuí ganso nu lugá di cachorro pa -vigiá a casa e dá sinár inredó dus terrêro. - Mais'ê-quitava certo, ca- razão; Dava dó mémo vê saci judiá di cachorro. - Eu cá, num gosto nem lembrá!
Lá du artin, na divisa du terrenin on -nóis morava vi um indemuniado dum Saci muchado atrais do cachorrão du Armiro pega qui-num pega. E, oia qui -era um bitelo dum cachorro quais tamãe dum bizerro. Se fosse miúdo inda inha, mais era grande. Esse cachorro sofreu munto. Curria inté agachado... ele na frente e o Saci na cola, pregado, na maió doidêra. E, vai daqui e vai dali; corre pra lá e corre pra cá; desce correno e vai inté a tronquêra. O cachorro vorta dususperado, sobe inriba - passa pruditrais das bananêra na grota - compôco brotô traveiz inredó do paiole; deu nele o nóle inredó da horta e dispontô no terrêro ca –boca aberta e língua quebrada dibanda... e o Saci fincado atrais.
- Corrê cum pé só daquê -jeito nunca tinha vido inhantes.
Condo o cachorro tava bem frôxo quais infartano di aperto, o saci, rapaiz, cruiz credo naquilo, pegô e virô um ridimuín - rudupiano banava nu rabo du cachorro aí o trem ficô feio divera. O tilzin num guentô e caiu pru morto nu chão. Daí o saci garrô e lairgô da mão; trepô num cupim e ficô di lá agachado ispiano di longe cum zói ruim pareceno um arubú vigiano u armoço.
O cachorro chêi de raiva e medo levantô dalí só zangado. Zangadin de tudo; doido, e pronto pra mordê niquem mexêsse qü’ele. Já u Saci cum sintimento térrive du devê cumprido quietin alí ficô di cóqui e cabeça baxa oiano u cachorrão ir simbora, como se num tivesse acunticido nada. Foi direto pra –casa; entrô pa –porta da cuzinha, passô in –meio u povo e foi ino inté vará lá na sala on -tava Armiro... mordeu ele e saiu pra –istrada a fora traveiz sem rumo.
Foi aí qui discubrí que - quem zanga cachorro é Saci, e qui tudo inconto é cachorro, condo zanga, prêmero parti pramode mordê seu dono... ispia só qui coisa.
"Siocê gostô da prosa, iscuita antão tamém o áudio nesta página,
o indereço tá -qui pur baxo, ó."
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