A MORTE DE BENTINHO
Naquela noite fui dormir mais cedo que de costume, era inicio de inverno, o tempo ainda não estava frio mas inexplicavelmente naquela noite senti um arrepio pelo corpo, parecia denunciar que alguma coisa grave estaria por acontecer e o silêncio tenebroso daquela noite só foi quebrado pelo urutau que lá na capoeira gritava melancolicamente “urutauuu...auu...au” e o curiango que respondia “curianguuu” assim, adormeci.
Já era madrugada quando o som barulhento do cavalgar de um animal aproximando do terreiro, seguido pelo latir dos cachorros anunciando a aproximação do intruso, me fez acordar assustado e a tempo de ouvir meu pai ralhando com os cachorros:
__ Passa Pajé !
Eram na verdade três cachorros, porem o pajé era o que fazia maior alarido e os outros dois o tinha como líder, assim ralhando com ele, os outros também obedeciam. Instantes depois uma voz se ouve:
__ Ôh de casa!
Meu pai responde:
__ Pois se for de bem, que fale!
__ Venho da parte do seu Tonico da Sinhana, aviso o falecimento do seu filho Bentinho esta madrugada.
Após o anuncio, ouviu se o som de uma chibatada e o galope do cavalo se afastando, com certeza levando o mensagem para outros sitiantes do bairro pois era assim que esta triste notícia era anunciada naquele tempo.
A partir daquele momento ninguém mais dormiu, minha mãe levantou, foi lá pra cozinha coar um café, meu pai também já levantou e foi pra cozinha, eu não levantei, mas lá da cama estava de orelha em pé para ouvir a conversa que vinha da cozinha, preocupado com o acontecido, pois Bentinho era colega de escola e um moleque muito querido no lugarejo.
Ouvi minha mãe lastimar:
__ E o compadre Tonico, tão preocupado com o sogro que estava doente por fim perde o filho!
Foi apenas um monologo típico do sertanejo, meu pai nada respondeu e ela continuou:
__ Mas como será que morreu o pobre Bentinho? Era um menino sadio, espoleta como ele só, até parece que tinha o Bicho Carpinteiro.
Mais um monólogo seguido de um silêncio contemplativo que devido ao adiantado da hora, agora era quebrado pelo cantarolar dos galos, primeiro no terreiro de casa, depois mais ao longe, outros respondiam e mais outros e outros assim por diante ate que novamente os de casa recomeçavam outra rodada de cantoria.
Permaneci acordado, mas foi no velório que fiquei sabendo que o Bentinho, vindo do espigão, depois de levar o café da tarde para o pai e os irmãos mais velhos que trabalhavam no cafezal, ao aproximar de uma moita de capim a beira do carreador, para verificar porque um bando de anus estavam tão assustados, não percebeu que uma urutu o esperava.
O bote da danada foi certeiro, ofendendo-o na coxa e embora procurassem pelos benzedores da região, único recurso de que dispunha o sertanejo naquela época, não teve jeito e Bentinho morreu na madrugada e, por ironia do destino, a cobra foi atacar justamente aquele que trazia o nome do santo protetor das pessoa ofendidas por animais peçonhentos, São Bento.