PASSANDO A NOITE
Era noite de luar, no alpendre e arredores da sala os homens proseavam animadamente, geralmente tratando de assuntos atinentes a agricultura, igual zunzunzum se ouvia da cozinha, onde as mulheres também conversavam ponto em comum seus conhecimentos e atualizando os acontecimentos do dia a dia do bairro e, alheios ao triste acontecimento, nós crianças, iluminados pela luz de um lampião de querosene, apesar da luz prateada da lua que inundava a imensidão, brincávamos no terreiro e como naquele tempo não havia malicia alguma, lá estávamos, meninos e meninas, brincando juntos:
__ Vagalume tem-tem,Teu pai tá aqui, tua Mãe também
E lá ia o bando de crianças perseguindo os perilampos e vagalumes que faziam voos rasantes na relva dos pastos dos animais, era uma alegria só quando um ou outro bichinho luminosos caia nas mãos de alguns dos meninos, todos corriam para ver o bichinho que tinha o seu próprio farolete.
Quando a noite já ia adiantada, os pirilampos desapareciam era o momento de outras brincadeiras senão o sono tomava conta do corpo
__ Balança Caixão, balança você, dá um tapa na bunda e vai se escondê!
Era a brincadeira do esconde-esconde, enquanto um dentre os moleques tapava o rosto para não ver onde os demais se escondiam e contavam até dez, até vinte, ou, até o numero combinado e depois saia a procura dos escondidos.
Assim a noite ia passando, a madrugada chegando e com ela o sono que teimávamos em resistir mas, pouco a pouco íamos nos acomodando pelos cantos, alguns no paiol de milho, outros pelos canto da sala, as meninas procuravam o aconchego da mãe la na cozinha, mas o guardamento continuava, entre os homens a conversa já não tinha o mesmo ardor do inicio da noite e, na cozinha o burburinho das mulheres já não se fazia ouvir como antes, o terço a estas horas da madrugada já não era recitado mas, la na sala estava ele, o defunto, dentro do caixão que fora feito pelo habilidoso Zé do Caixão, ornado pelos panos da mortalha adquiridos na vila e pelas alças de metal reluzentes, acomodado sobre duas cadeiras onde, alem das lamparinas que com suas luz tosca clareava o ambiente dando um ar sombrio, quatro velas iluminavam o defunto, segundo o costume dos sertanejos, para que ele fizesse boa viagem para o alem.