NOITE NA ROÇA
A noite estava linda, era verão, dias longos e noites curtas como diziam os sertanejos. No céu a lua quarto crescente iluminava a imensidão, uma lamparina de querosene apoiada num suporte a parede da casa iluminava o alpendre onde meu pai e meu avó trocavam algumas palavras, depois chegou meu tio que morava na mesma propriedade rural e a sua casa ficava a aproximadamente 100 metros da de meu pai.
Na estrada que dava acesso a casa de meu pai, viu se um vulto que se aproximava, lembremos que era noite de luar, portanto a distancia não dava para identificar, mas acostumados com as visitas noturnas, meu avo já exclamou:
__ É o mintiroso do Totonho!
Dito e feito, era mesmo o nosso vizinho Totonho, seu sitio confrontava com o de meu pai e era comum as noites de calor, eles vir e ficar até altas horas da noite no papo ferrado, alem do que o homem era um conhecido loroteiro do bairro e assunto para contar era o que não lhes faltava.
Desta forma instantes depois todos estavam devidamente acolhidos, os homens no alpendre, as mulheres na cozinha e nós crianças brincando no terreiro, como dizia o poeta, sob a luz do luar, porem de orelha em pé para ouvir os causos dos adultos, sobretudo quando Totonho da Sinhana soltava suas patacoadas.
Totonho la no alpendre contava suas mentiras e depois gritava para Sinhana sua esposas que estava na cozinha:
__ Pois num é verdade Sinhana?
As vezes ela fazia de conta que não escutava mas ele insistia na pergunta;
__ Sinhana, pois num é verdade, muié?
E ela, um tanto quanto sem jeito mas com muita honestidade respondia:
__ Deixe conta mentiras, homem de Deus!
Mas ele continuava seus causos como se Sinhana tivesse confirmado tudo e, para não desagradar o vizinho que apesar de mentiroso era um homem muito prestativo, todos faziam de conta que acreditavam nas suas lorotas.