BONS TEMPOS
Mas bons tempos foram aqueles!... Ahh! Que bons tempos! As vezes me ponho a pensar: Se a vida era tão difícil, se os caboclos da roça, uns caipiras com poucas ou as vezes sem instrução alguma, como podiam ensinar uma pessoa a ser gente grande? Parece mesmo uma contradição, verdade era porem que, mesmo sem estudo algum, mesmo se calando diante de suas carências e aparentemente não lutavam por uma vida melhor, estes rude homens tinham uma sabedoria invejável, aprenderam com seus antepassados, conheciam os fenômenos da natureza e viviam em plena harmonia sentado na cadeira do alpedre, o caboclo confabula com o compadre visitante:
__ Cumpâdi, amanhã temo chuva
__ Causi di que cumpadi?
__ Quebrei treis pote e um coco cantarolô logo cedinho hoje!
__ È, o cumpadi tem razão, a saracura canto bem cedim memo!
__ Intão, isso e sinar de chuva na certa!
__ É cumpadi, i pra cunfirmá, hoje di tarde, levanto um redimuinho e desceu pru lado do riacho
__ Si sóbi rumo ispigão, era seca na certa, mais tai cumpâdi, mais um sinar di chuva.
__ Intão cumpadi, vamo si arrecoiê qui amanhã vamo lasca feijão lá nas coivara
E assim iam levando a vida, a terra dava-lhe quase tudo e o que faltava, isto era desígnio do criador, não se preocupavam tanto com o ter, mas vivendo de forma simples e singela, o sertanejo não carecia se consumir no trabalho e não perdiam a oportunidade de ensinar seus filhos e lembro como se fosse hoje, minha mão na lida com as galinhas, contava o pitainhos que rodeavam a carijó:
__ Treis e treis, seis e treis nove, nove mai um, deis...
Notando a falta de dois pintainhos da carijó, reclamava:
__ O marvado gavião já pegou mais dois pitinho.
Finalizava ela que não sabia ler nem escrever, mas sabia cuidar de sua criação e não desperdiçavam de forma alguma a oportunidade de sentar com seus entes queridos para uma prosa, tanto é que naquele tempo toda tarde ou noitinha sempre tinha reunião de família, onde as crianças e os jovens sempre se calavam para ouvir os causos dos mais velhos, aqueles que embora caipiras, detinha do conhecimento, o que não vemos hoje nos grandes centros urbanos onde a televisão usurpou este direito.