Sabedoria Desfigurada
Imaginava encontrar nas corcundas donas de cabeleiras brancas aconchegadas em suas cruzadas pernas de índio, as respostas para as confusões de cada dia. Tivesse sido mais atenta despertaria o olhar para as moças disfarçadas em uniformes de tias. Pois, lúdicas imitações da realidade lhe vieram quietinhas assoviar a proteção pra cada susto. Mas a cabeça tonta lhe tarjava a atenção.
É, avuada como dizem todos. Aos seus vinte e poucos anos tomava conta do lapso e, arrependida a ferida doloria. A cancha verde de futebol do colégio é o que primeiro lhe resgatam os circuitos da memória. Faixas amarelas riscavam no chão a circunferência a ser seguida pelos pés da criançada. Uma a uma se endireitavam. Ela estremecia ao pedido de abraçar com seus dedinhos a mão do coleguinha ao lado. Derramavam-se em suor pezinhos e mãozinhas. O que tão menina tanto temia?
A quietude das pernas e braços contrastava as barulhentas emoções da barriga. Mal pôde concentrar-se no que dizia a moça em disfarce. A necessidade de protagonizar qualquer movimento preciso perante à bola que dançava no alto e por entre os colinhos saltava sem qualquer prevista direção, apavorava-a. Tensa, meticulava um fio sem fim de quem a batata quente lhe viria e pra onde a lançaria. Ah, se a ansiedade barulhenta da barriga se convertesse em barulhinho de risinhos! Só olhar pro alto com coragem e enfrentar a monstruosa bola que numa pontinha só de alfinete pode virar murcha. E bolas podem ser sábias companheiras! Era larga-se com o corpinho para trás e compreender que batata quente vindo de água a ferver ninguém segura sozinho.