A ROMPANÇA DE UM VALENTÃO
Ele era um caboclinho muito conhecido em toda região, onde ele se fazia presente havia intriga e alguém saindo desgostoso da conversa, era pegajoso, tinha a rompança de ser valentão, embora ninguém nunca tivesse presenciado ele agir com violência, alias mais parecia um covarde do que um herói, fazendo jus ao ditado “mais vale um covarde vivo que um herói morto”, até por isso a fama de valente se juntava ao de mentiroso e tagarela, o que ainda o tornava uma pessoa desprezível por todos.
De certa feita ele foi viajar, visitar seus parentes no nordeste, sua terra natal e por lá passou uma temporada, muitos até achavam ter ficado livre do intruso, eis que belo dia, ele aparece de volta ao aconchego do seu casebre, uma simples choupana de barrote, coberta de sapé, a mais humilde casinha da fazenda, localizada no final da colônia.
Naquele tempo era costume a realização de bailes na sede da fazenda principalmente na entre safra, quando utilizava da grande tulha a beira do terreirão de secagem de café pois, nesta época do ano, ambos estavam desocupados e especialmente naquela noite, de sábado para domingo, estava programado um baile para os colonos e moradores das propriedades vizinhas e ele estava lá.
Naquela noite ele estava insuportável, tagarela como que, contava vantagem de sua estadia no nordeste, onde segundo ele, só existia valentão, tanto é que diz ter, ido numa festa de casamento de uma prima, o forro estava muito animado até que por volta da meia noite chegaram dois valentões. Eram dois bruta montes, trajavam roupas e chapéu preto, chegaram querendo botar banca na festa, ameaçando as damas e dando tiros para o alto na tentativa de intimidar os humildes moradores do bairro, até que ele, se indispôs com os valentões que após tomar alguns safanões, enfiaram a viola no saco e desapareceram da baile que continuou até o raiar do dia.
Enquanto ele gazofiava, o sanfoneiro sentado em uma cadeira sobre uma mesa e acompanhado por um pandeiro e um bumbo, tocava suavemente o seu acordeom, os jovens dançavam sob o empalizado construído no terreirão com estruturas de bambu e coberto com pano de bater arroz, iluminado por vários lampiões de querosene. Lá fora, iluminados pela luz prateado da lua cheia, podiam notar os casais de namorado espalhados pelo pátio da fazenda, estava uma bela noite e tudo corria na mais perfeita harmonia e o baile estava animado como nunca.
O povo, apesar de conhecê-lo muito bem, na simplicidade de caboclo, acabavam acreditando em suas falas, e o causo se espalhou tanto é que, todos dali já sabiam da história do caboclinho valentão.
Por volta da meia noite apareceu no baile dois jovens robustos que por incrível que pareça, trajavam roupas e chapéus pretos, tal como ele descrevera em sua façanhas, os dois rapazes estranhos chegaram sorrateiramente, ficaram num canto do recinto observando o baile e isto foi o suficiente para causar pânico nos presente. Na seleção seguinte os dois cavalheiros educadamente convidaram damas para a dança e elas, meio receosas, talvez mais movidas pelo medo do que pela obrigação, aceitaram a dança e ao final da seleção, poucas pessoas ainda permaneciam no baile, pois a grande maioria foi aos poucos desaparecendo, sendo que ele, o caboclinho valentão foi o primeiro a dar no pé e assim os dois bruta montes acabaram com o baile sem nenhum ato de violência.
No dia seguinte a noticia como sempre, espalhou pelo bairro e adjacências e só então todo este contra tempo foi esclarecido pois os dois rapazes nada mais eram que irmão e pertenciam a uma numerosa família que na semana havia mudado para o bairro tendo como a empreitada de formação de 20 mil pés de café em uma propriedade vizinha.