COISAS DE PESCADOR

Dizem que o pescador que se preza, cuida bem de seus apetrechos de pesca e jamais conta um mentira, o máximo que pode acontecer e exagerar no tamanho do peixe que escapou, mas isso é lá com eles, Verdade é que Zeca, um caboclo matuto do interior, desde menininho gostava de uma pesca, que a principio era feita nos finais de tarde e aos sábados, domingos e dias santos de guarda, batendo trairás e outras espécies nas lagoas e banhados da região onde morava e garantindo de certa forma, a mistura para a marmita do dia seguinte.

O tempo passou, o bom tempo da juventude também se foi, o progresso transformou a região tanto quanto a política do sucesso na cidade que garantiu a duras penas o êxodo rural e Zeca que não estava imune a estas transformações, deixou a bela mas sofrida vida de camponês, se mudou para a cidade, graças a um compadre político, conseguiu emprego na prefeitura de sua cidade e a duras penas, conseguiu estudar os dois filhos, depois veio a aposentadoria e assim pode voltar a sua paixão antiga: a pesca.

Com a aposentadoria e o fundo de garantia, tendo já os filhos tomado rumo na vida, Zeca comprou um fusca, providenciou sua carteira de habilitação, ou carta de motorista como chamava carinhosamente, tudo com o firme propósito de ir as pescas pelos banhados e lagoas do município e mesmo não tendo as habilidades de um chofer novo, ele ia pescar duas ou ter vezes por semana.

Vai dia que certo dia, voltado de uma de suas pescarias, pisou fundo no seu possante, atingindo uma velocidade acima da qual estava acostumado e não se sabe porque razão, se atrapalhou no volante do velho fusca e acabou capotando o veiculo.

Passado o susto, ele saiu rastejando de dentro do fusca e ficou vasculhando a grama do acostamento da estrada como quem procura agulhas em um palheiro, momento em que passa um conhecido, vê o carro capotado e seu Zeca procurando não se sabe o que na beira da estrada, rapidamente vão ao encontro da vitima que parecia desorientada e, apesar das evidências, fazem a pergunta básica:

__ O que aconteceu seu Zeca?

O homem que continuava a vasculhar a grama e capins da beira da estrada responde:

__ Foi nada não, só o carro que tombô!

Preocupados com o que viam, vem a segunda pergunta básica:

__ O Senhor está bem? Não se machucou? O que procura?

__ Tô bem! Tô Bem! Não me machuquei não! Só to procurando meus anzôr que tava nus borsô da camisa e vuaram prá fora quando o carro virô di ponta cabeça.

Acrescentou:

__ Se preocupa não, o carro a gente conserta depois.

E o carro estava ali, de pernas pro ar, ou melhor, de rodas para o ar e, parece que ainda pairava na atmosfera um rala fumaça, sinais do acidente.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 29/10/2013
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