TURCO TRAPACEIRO

Lá no pequeno povoado Salim chegou ainda em tenra idade, era um mascate turco que vivia rodando pelo mundo vendendo seus tecidos de caxemira até que certo dia aportou por lá e assentou praça, abriu o seu bazar vendendo fazendas e apetrecho ligado a costura e acabou enricando pois todos que entravam em seu estabelecimento jamais saiam de mãos abanando, sempre deixava lá seus cobres e saia com uma mercadoria, tamanho o tino comercial de Salim.

A fama do comerciante se espalhou por toda a região tanto é que de qualquer evento ele sempre procurava uma maneira de tirar seus cobres e vivia pregando peças nos moradores da região até que certo dia invocou com um velho fazendeiro pão duro que, embora sendo um homem rico, vivia mendigando migalhas pela cidade, ora serrando uma dose de cachaça, ora pedindo emprestando o fumo, o canivete e a palha para fazer um cigarrinho e assim por diante até que um belo dia o velho Salim, adentrando na vendinha deparou com o Tunico que acabara de mendigar uma dose de cachaça de um sitiante e fitando os olhos nele perguntou:

__ E as morroidas di Tunico! Sarou?

Os demais fregueses, assíduos frequentadores do estabelecimento caíram na gargalhada e no relance, o velho fazendeiro sentindo ofendido, não só pelo fato do turco ter cutucado numa parte tão intima, o que provocou a chacota dos presentes mas sobretudo porque nunca teve hemorroidas, retrucou.

__ Qui hemorroida turco sem vergonha, nunca tive dessas coisas não!

__ A Tunico não fui na bazar de Salim reclamado delas dia desses?.

E a discutição pegou fogo até que Salim propôs uma aposta: Tunico iria no bazar num determinado dia, levaria uma testemunha e Salim outra, se não tivesse hemorroida, Salim pagava vinte contos de reis, um valor alto para a época, porem se ficasse comprovado que Tunico tinha hemorroida, ele é quem pagaria este valor a Salim.

Sem titubear o fazendeiro pão duro, sabendo que nunca teve hemorroidas, portanto esta aposta estava no papo, aceitou a aposta e marcaram para dali três dias colocarem esta historia em panos limpos.

No dia e hora marcada, lá estava o fazendeiro com sua testemunha para elucidar o caso. Também Salim com sua testemunha o esperava e, como o caso era um tanto quanto delicado, pediu para que Sara sua esposa fosse cuidar dos afazeres da casa, ficando somente os quatro no interior do estabelecimento.

Tudo preparado, Salim fechou as portas do bazar para maior privacidade, o rústico fazendeiro sem escrúpulo algum e na certeza de ganhar os cobres do turco, abaixou as calças mostrando a bunda ao comerciante que analisou e a pretexto de que estava escuro e precisar melhor verificar, trouxe-o ate atrás das vitrines dizendo que ali haveria melhor claridade.

Nada encontrado, o fazendeiro vestiu as calças e Salim sem resmungar contou os vinte contos de reis e pagou a aposta. De posse do dinheiro o fazendeiro desabafou:

__ Tá vendo Turco safado, até que enfim caístes e uma heim. Nunca duvide de um homem de bem. Perdeu os vinte contos de reis!

O Turco que não parecia nada triste com a perca dos vinte contos de reis, e o fazendeiro só percebeu a armação quando a testemunha do turco foi obrigado a desembolsar quarenta contos de reis ao turco que, mantendo a calma ainda justificou:

__ Salim comerciante dos bom, nunca perde um vintém, Salim ainda apostou com as otras qui bobo do Tunico vinha hoje na bazar mostrar bunda pra Salim, veja...

Em frente a vitrina da loja, do lado de fora do estabelecimento, mais dez pessoas lastimavam a perca de seus cobres para o velho e astuto comerciante de fazendas.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 08/10/2013
Reeditado em 08/10/2013
Código do texto: T4517326
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