Ipê
Desde criança, todos falam que sou muito desligado, que não presto atenção em nada, que sempre vivi dentro do meu mundo e nunca presto em quem e no que está ao meu redor. Sempre achei exagero da parte deles, que meus amigos falavam isso para me atazanar e meus pais para pegarem no meu pé. E assim foi, até no meio da semana passada quando percebi que não era exagero deles e sim a mais pura verdade, vou contar a vocês essa história.
Minha vida é uma rotina como da maioria das pessoas que conheço, acordo cedo, tomo um banho, bebo um café, vou para o serviço, volto para o almoço, volto do almoço, no final da tarde volto do trabalho, chego em casa tomo outro banho, troco-me, vou para escola, volto da escola, deito-me e repito tudo isso no outro dia. Nesse trajeto diário passo por uma praça, qual frequento com meus amigos a mais de seis anos, até ai está tudo bem nada fora do meu cotidiano, mas semana passada logo pela manhã, estava passando por essa praça quando olhei para o lado e o vi, um pé de Ipê imenso que até uma noite antes nunca tinha o visto ali. Por um instante fiquei parado e pensei: - De onde surgiu esse pé de Ipê? Nunca vi isso aqui antes.
Fiquei por alguns segundos observando e tentando chegar a uma conclusão, que explicasse de onde surgiu o Ipê, pois todos sabem que uma arvore imensa como aquela não aparece do nada e nem cressem da noite para o dia.
Resolvi ir até o bendito para certificar-se, se ele não tinha sido replantado ali, mas quando cheguei perto vi uma plaquinha colada em um pedaço de cimento perto do tronco com os seguintes dizeres:
“Esta muda de Ipê branco plantada aqui em 16, de novembro, 1992, é uma homenagem ao centenário do fundador da cidade Emilio Fogaz.”
Quando terminei de ler entrei em estado de choque, comecei a olhar tudo em volta, reparar em todos durante o dia e percebi que tudo era completamente diferente do que pensava antes, foi quando levei as duas mãos no rosto para tentar me acalmar e piorei a situação, vi uma aliança dourada em minha mão esquerda, todos os meus pensamentos tornaram-se um turbilhão desesperador e sufocante, pois quanto mais pensava menos entendia o que estava acontecendo, então decidir tirar o dia de folga para por minha cabeça no lugar, ao chegar em casa descobrir que realmente eu era casado com uma linda mulher, mas como e quando tinha casado não fazia nem ideia e para aumentar minha surpresa conheci uma linda moça loira, de olhos azuis com vinte e um anos de idade e era minha filha... foi ai que desde o momento que eu sofri o choque de realidade decidir-me olhar no espelho e percebi que eu era um senhor de meia idade, cabelos grisalhos que passou toda sua vida até aquele dia preso vivendo uma realidade imaginaria.