... E A ROUPA FEZ O MONGE

Caboclinho enjoado era aquele, quando vinha no boteco pedia a sua cachaça mas havia de ser a “Pinga Lima”, ele tomava, saboreava a danada, munheca como era, não oferecia para ninguém e depois ainda vangloriava

__ De cachaça eu entendo, não existe na face da terra um pinguinha tão boa como a “Pinga Lima”.

Mas se o vendeiro não viesse com outra marca tal como Saltinho, Tatuzinho entre as demais conhecida na região, o sujeito já vinha com seus palavrões impróprios, talvez oriundos da educação que com certeza recebera de seu pai.

Cansado desta vida e de ouvir impropérios do caboclinho metido a grã fino e sem educação, o dono do boteco com mais alguns fregueses que também não apreciava os modos do dito cujo, resolveram de comum acordo passar uma lição no arrogante freguês: Cuidadosamente pegaram um litro vazio da danada cachaça Lima que estava com o rotulo bem conservado e encheram com uma outra cachaça produzida na região e que, diga-se de passagem, não tinha muita aceitação no mercado e vendeiro deixou reservado para quando o caboclinho viesse com suas manias, o que na demorou muito a acontecer.

O dia estava propicio, o boteco estava lotado, e o caboclinho adentrou por lá pedindo logo um mata bicho e avisando:

__ Mas não me venha com porcaria. Ter que ser “Pinga Lima”!

O vendeiro pegou no balcão, o litro reservado, destampou, encheu um lavrado da branquinha e o caboclinho observando o copo cheio, ainda esculachou o vendeiro:

__ Até que enfim, deixou de ser mão de vaca!

E entornou a falsa branquinha goela abaixo, estalou os lábios e os fregueses que sabiam da troca esperaram pela resposta que veio em segundos:

__ Eita, de cachaça eu entendo, não existe na face da terra um pinguinha tão boa como a “Pinga Lima”.

Todos caíram na gargalhada e ele, um tanto quanto desconfiado com a reação, pediu pra ver o rotulo da garrafa e lá estava com todas a letras “Aguardente Lima”, empolgado pediu mais uma dose, o ritual foi idêntico e a resposta:

__ Esta é inconfundível, igual a “Pinga Lima” não existe por aqui!.

Diz o velho ditado, “a roupa não faz o monge”, pode até ser que não, mas as vezes a vida nos prega peças, assim, ele tomou por muito tempo o pior dos aguardentes, achando estar tomando a “Pinga Lima”, embora o fato tenha caído na boca do povo, nunca ninguém lhe contou o acontecido ate que a marca deixou de ser produzida, ai ele também, não se sabe por qual motivo, deixou de tomar cachaça.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 13/08/2013
Reeditado em 13/08/2013
Código do texto: T4433196
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