As Curimatães

Em 1969 estávamos construindo uma ponte no interior do Ceara na cidade de Barro. Semanalmente me deslocava de Campina Grande até lá, para fazer uma visita à obra para ver se o andamento estava de acordo com o cronograma, aproveitava para efetuar o pagamento da folha semanal dos operários.

Naquela época o meu motorista era Luiz de Freitas, senhor de meia idade, baixinho, mais para gordo, lépido e esperto com um garoto de 18 anos. “Seu” Luiz como todos lhe tratavam, era um apaixonado por comidas, era o seu assunto predileto, era só chegar a porta da minha casa para seguimos viagem, quando eu me acomodava na camionete, ele começava:

_ OH, Chefe, ontem a noite no jantar eu comi uma

carne de sol com macaxeira, de tirar o padre da

missa !

E por aí seguia durante toda viagem só falando de comidas.

Como a cidade de Barro ficava muito distante, partíamos sempre as 3 horas da manhã,, por volta das 7 horas estávamos passando por Cajazeiras – PB, quase na fronteira com o Ceará. Poucos quilômetros a frente parávamos num restaurante de beira de estrada de um tal “Gaúcho”, para tomarmos o café da manhã. O café da manha do tal restaurante era um verdadeiro, banquete, a mesa ficava repleta de tantas iguarias era carne do sol, queijo de coalho, ovos,mungunzá, coalhada, cuscuz com leite, bolo de mandioca. frutas etc etc.. “Seu Luiz” se esbaldava de tanto comer.

Numa destas viagem estávamos no restaurante do “Gaucho” quando um rapaz entra com um balaio na cabeça cheio de “Curimatães”, alguns peixes ainda estavam vivos e saltavam dentro do balaio. “Seu Luiz” vendo aquela cena falou?

- OH, eu sou “doidim” por curimatã ao coco !

A mulher do “Gaucho” era quem nos servia, vendo o interesse do motorista pelos peixes, falou:

- Se o senhor quiser eu prepara umas

curimatães para o seu almoço !

O motorista ficou deslumbrado com a proposta que a dona do restaurante havia sugerido, olha em minha direção, e. . .

- Chefe, dá para a gente almoçar aqui hoje ?

- Não sei “seu Luiz” temos muita coisa a fazer na

obra !

Durante o tempo que passamos na obra “seu Luiz” me atanazou tanto para almoçarmos no restaurante do “Gaucho”, que resolvi atender o seu pedido. Resolvi tudo que tinha a fazer na obra e caímos na estrada. “Seu Luiz” não dirigia, ele voava baixo naquela estrada de terra levantando uma nuvem de poeira.

Por volta das 15h00 paramos com estardalhaço na frente do restaurante do Gaucho. A dona do restaurante quando nos viu falou:

- Eu pensava que o senhor não vinha mais ! Vou

servir o almoço !

Enquanto a mulher colocava a mesa fomos até uma varanda para lavarmos o rosto e mãos para tirar a poeira, em seguida nos dirigimos para a mesa.

“Seu Luiz” ao sentar à mesa colocou um guardanapo enviado na gola da camisa, pegou os talheres e passou a esfrega-los um no outro como se estivesse amolando uma faca. A mulher coloca duas postas do peixe no seu prato, de imediato ele parte uma das postas ao meio, espeta o garfo colocando-a na boca, ele mastigava rápido, fazendo um barulho esquisito, parecia até um porco comendo, a mulher de pé ao lado da mesa observava a cena, “Seu Luiz” engole o primeiro bocado, a mulher olha para ele e pergunta:

- Gostou da curimatã “seu” Luiz ?

- A senhora não fica com raiva dêu não ?

- De forma alguma “seu” Luiz !

- O peixe ta com um gosto de “BASCUÌ” ! ! !