VIDA DE RETIRANTE
Cansado da vida sofrida do árido sertão, Raimundo e Maria Quitéria, recentemente casados, ainda sem nenhum filho, decidiram deixar a vida sofrida do agreste e rumarem para a cidade grande com o firme propósito de vencer na vida, visto que naqueles confins somente o sofrimento lhes reservava, assim pegam seus parcos recursos, vão para a cidade onde uma leva de conterrâneo tinha o mesmo propósito, embarcam num pau-de-arara, um caminhão velho cuja carroceria devidamente equipada com um toldo e redes para o transporte de seres humanos de uma localidade para outra, desta feita uma grande jornada até a cidade grande.
E o pau-de-arara corria pelas poerentas estrada de terra do agreste rumo ao cidade grande, já decorridos dois dias de viagem, os passageiros, todos encaixotados como sardinha enlatada na carroceria do velho caminhão, cai a noite, cada um se acomoda como pode e o chover não dá trégua ao velho Ford que segue estrada de terra batida afora.
Fora o ronco do motor, o silencio impera na noite escura quando Maria Quitéria sente alguém lhe bulinando e grita:
__ Raimundu, tu tá mi usano homi?
No outro canto uma voz máscula retruca.
__ Tô naun Quitéra!
Um monologo:
__ Intão tão!
E o pau-de-arara seguia firme rumo a cidade grande.